capítulo 19 | Dionísia

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O som de batidas na porta me obrigou a parar de andar um lado para o outro. Eu girei e encarei a porta na minha frente, tentei respirar profundamente mas o ar não veio, e sim as lágrimas começaram a escorrer.

Eu puxei a porta sem nem mesmo tentar girar a maçaneta e ela se abriu bruscamente assustando a pessoa que bate, eu encontrei os olhos arregalados de uma pessoa que eu acreditei que nunca mais um dia iria rever, eu encontrei a Daisy adulta, não aquela que eu conversava todos os dias desde pequena até a minha adolescência, mas ainda sim, ainda era a minha prima que estava aqui, a prima que eu conheceria de novo.

Eu solucei ao tentar dizer o nome de Daisy em voz alta. Os olhos azuis, aqueles olhos azuis que costumavam ser tão brilhantes, alegres e vividos não eram como eu me lembrava, mas, apesar de uma camada escura cobrindo-os eles expressaram a mesma emoção que a minha nesse momento, a saudade, o choque desse reencontro, a dor de todos esses anos e mais mil sentimentos e palavras que demoraria para conseguirmos por para fora.

Eu a puxei pelos ombros e a abracei, abracei de um jeito que eu nunca abracei ninguém além dela. Os seus braços finos me apertaram com ainda mais força e eu sorri me esquecendo do quão forte ela era apesar da sua aparência frágil, a aparência de jovem indefesa era apenas uma casca e eu começava a temer pelo o que mais a forçou a amadurecer muito rápido e ter sua luz apagada.

Daisy e eu se abaixamos e ficamos no chão entre a porta, abraçadas uma na outra, chorando e soluçando porque era a única coisa que conseguíamos fazer nesse momento. O cheiro do perfurme dela me envolveu e apesar de não ser o cheiro da infância, era dela, era ela.

— E-Eu achei q-que...— Ela soluça tentando falar. — A-Achei que nunca mais...— ela soluça novamente e eu me afasto para a olhar. Ela respira bem fundo fechando os olhos. — Eu achei que nunca mais iria ver você outra vez. — os olhos azuis cintilavam sob a ondulação das suas lágrimas.

Relembrei todas as vezes em que me peguei pensando na minha prima, como estaria, o que estaria fazendo, onde estaria cursando, quem ela estava se tornando, e em como eu gostaria de estar ao lado dela como era antigamente, e no quanto doía não poder procurar por ela porque temia que eu acabasse lhe causando dor. O medo de Dimitri usar ela para me machucar, de simplesmente a machucar. Eu não podia por ela nesse perigo.

Eu sorri sem conseguir concordar, sorria e chorava de felicidade e de tristeza ao mesmo tempo. Apertei as suas mãos junto das minhas, absorvendo as mudanças nela e permitindo que a lembrança que eu tinha do seu rosto e dela fossem embora e eu agora conhecesse a minha prima do presente.

Os longos cabelos loiros de rapunzel como eu costumava brincar com ela já não existiam mais. Tinham sido radicalmente cortados na altura do maxilar, o cabelo liso praticamente branco, tão branco quanto eu me recordava, acho que foi a única coisa que o tempo não devastou dela.

— Eu senti saudades —

Daisy falou, um tempo de silêncio depois.

— Eu senti saudades, muitas. — eu concordei, fungando e limpando minhas lágrimas para tentar me estabilizar e criar uma conversa que eu ansiava muito para ter. Uma conversa qualquer com ela. Apenas uma conversa.

— Fez pão? —

Daisy sussurou de repente. Aquilo me fez rir.

— Fiz...de calabresa. — sussurei de volta, meu tom de voz de sempre.

— É meu favorito. — Daisy fala.

— Eu esperava que ainda fosse. — sorri contente por ainda ser. Ela fez o mesmo, emocionada por eu me recorda disso.

Heart ProblemsOnde histórias criam vida. Descubra agora