capítulo 28 | Dionísia

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Lucius e eu subimos para o telhado em meios da madrugada. Stephan não quis ficar e foi embora logo quando eles dois terminaram de fechar o bar.

Eu me sentei em uma cadeira que o moreno trouxe consigo e ele se sentou na sua cadeira do outro lado do caixote vermelho que nos serviu de mesa para as garrafas de bebida, pois, todos os estabelecimentos estavam fechados e eu não consegui comprar o meu tão esperado hambúrguer.

— Gosta de sorvete? —

Lucius perguntou, inclinando um pouco a cabeça para o lado. Eu assenti, imitando seu gesto, graça rondou seus olhos antes dele se virar abruptamente e sair do telhado deixando-me sozinha.

Suspirei, passando as mãos pelo cabelo afastando as mechas nas laterais da minha nova franja e olhei para cima, o céu encoberto e escuro.

Olhando para baixo foquei nas duas velas np caixote que servia de mesa, as chamas iluminando o ambiente escuro em meio ao pouco do som da noite. Não era forte mas o suficiente para iluminar nós dois.

Lucius reapareceu carregando duas taças cheias de sorvete de flocos com cobertura de chocolate e dois biscoitos cada um. Eu sorri extremamente feliz e aceitei a taça que estendeu na minha direção murmurando-lhe um obrigada prolongado e animado.

— Fazem anos que nem sei o que é um sorvete — eu ri e dei uma colherada no meu, olhando de volta para o céu escuro, sentindo o sabor da calda e do sorvete juntos.

— É meu sabor favorito de sorvete. De sabor e calda. — confessei, na quinta colherada. Lucius ergueu a cabeça surpreso, eu sorri de lado e dei outra colherada. — O meu também. — ele disse após alguns segundos, um olhando divertido para o outro.

O silêncio se restabeleceu novamente após essa coincidência de gostos, mas não um silêncio ruim do qual você quebra a cabeça para dissipar. Era aquele silêncio gostoso do qual tudo que você mais quer é apenas apreciar, é escutar.

Ao terminar o sorvete pus a taça no topo do caixote junto com a de Lucius, que acendia um cigarro, o corpo um pouco curvado e um cotovelo apoiado na perna. Eu fiquei curiosa observando ele fumar, e ele ficou me encarando de volta como quem conversava comigo, e eu como quem conversava com ele apenas pelo olhar.

— Como que isso funciona? —

Eu perguntei, o vento frio bateu nas minhas pernas e eu as fechei mais.

— Nunca fumou antes? — eu sinalizo que não. Lucius sopra mais da fumaça na direção oposta da minha e o afastou mais da boca, fitando o cigarro entre os dedos.

— No começo é estranho. E aí, você se acostuma, se apega. É tipo beber. Mas beber tem um efeito melhor. Bem, para mim eu acho. — ele solta um suspiro e seus lábios se prensam em um sorriso triste.

— E que efeito você espera ter fumando ou bebendo? —

— Fumo quanto estou entediado, irritado, nervoso ou ansioso, quando quero me acalmar em geral. — diz a palavra em tom de aspas. — E bebo quanto quero me esquecer de tudo, quanto quero só apagar. — eu olho para o cigarro e de volta para ele.

— Você fuma quanto fica entediado, irritado, nervoso ou ansioso. — repeti. Ele acenou que sim, mais uma tragada. — Qual dos quatro você está agora? — pergunto.

Lucius soprou a fumaça, mantendo contato visual comigo.

— Os dois últimos. — disse-me, e eu mexi meu rosto em uma pergunta silenciosa da razão. — Estou nervoso porque estou perto de você e o traidor do meu coração não para de acelerar feito um maluco quanto estou perto de você. — ele riu roucamente, meu coração batendo mais rápido. — E estou ansioso porque meu coração quer ficar ainda mais perto de você e cada parte minha também, mas eu morro de medo de fazer algo errado outra vez. —

Heart ProblemsWhere stories live. Discover now