Raiva...

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Eu já senti dor de várias formas, dor física, dor emocional, já pensei que nunca iria passar, vivi situações em que queria desaparecer, vivi momentos em que quis correr e parar apenas quando sentisse que estava bem distante daqui,senti a dor de uma perda e até já senti uma dor que me fez querer silenciar o barulho da minha existência para desligar o som das vozes da minha cabeça, mas eu nunca tinha sentido essa dor, parecia que o meu coração tinha sido arrancado do peito e pisoteado enquanto o meu peito ainda era capaz de sentir o vazio e a dor, foi tudo tão rápido mas tão lento, foi como se eu estivesse perdida, como se tivessem me deixado a deriva num local totalmente desconhecido onde eu procurava ligar todos os pontos para sair daí, onde eu queria entender o que aconteceu, mas já sabia exatamente o que havia acontecido, onde eu estava parada a frente da porta mas a espera de uma saída, estava no abismo mais profundo da minha vida.

Chegou um momento em que a minha dor foi substituída pela raiva, chegou um momento em que eu me esqueci que me havias magoado e comecei a sentir raiva. Raiva do que fizeste, raiva porque não me deste tempo para entender o que se passava, porque não me deixaste crescer, não me deixaste amadurecer, em um momento eu estava no pedestal e no outro eu havia caído, caí de uma altura terrível, espero que tenhas noção da dor que me causaste, espero que saibas dos danos que causaste quando me deixaste. Eu pensava que esse tipo de coisas não aconteciam comigo, eu pensava que eu nunca iria cair tão fundo por causa de alguém, mas eu caí e não consigo encontrar forças para me levantar e por causa disso eu sinto raiva de ti.
Sinto raiva da tua voz, sinto raiva dos momentos em que me fizeste rir, sinto raiva de ti por não teres pensado nas consequências, sinto raiva de como não foste mais inteligente, precisei substituir a dor pela raiva para não passar por tudo aquilo todos os dias.

Tentei manter a calma mas acabo sentindo mais raiva ainda, porque sei que se não tivesses sido inconsequente, não teria que passar por essa dor. Eu te amo, eu te amo mas continuo com raiva, continuo com raiva para não sentir dor.

Agora, onde te vou encontrar? No cheiro dos meus cafés? Nos momentos em que deverias estar presente? Até quando vou precisar pôr coisas,momentos e pessoas em cima da dor que me causaste? Em cima do vazio que deixaste. O que devo eu fazer com as memórias? O que devo eu fazer com sorrisos? Com os abraços? Jogo-os no lixo como se nada tivesse acontecido? Atiro-os à uma fonte na esperança de que um dia o desejo de voltares se realize? Diz-me o que fazer? Assume a responsabilidade emocional e retira essa dor e essa raiva de dentro de mim, assume as consequências dos teus actos e lida com o meu sofrimento.

Levanta-me agora que caí, mas não podes.
Abraça-me agora que sofro, mas não consegues.
Faz-me rir agora que choro, é-te impossível.
Como devo lidar com isso? Se querias tanto saber o quanto eu te amava, precisavas apenas perguntar -me, abandonar-me foi drástico demais.
Como fugir agora deste problema? Como me levantar depois dessa queda?

Sinto raiva, mas não de ti, sinto raiva de mim, por sentir tristeza.
Sinto raiva, mas não de mim, sinto raiva da tristeza.
Sinto raiva da perda.

Frutos Da MadrugadaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora