Conversa evitada

439 37 1
                                    


Hermione voltou para seu salão comunal depois de alguns dias. Malfoy não fora visita-la mais nenhuma vez depois depois daquele dia que ela lhe contou a verdade. 

Respirou fundo antes de entrar no salão comunal. Gina havia se oferecido para acompanha-la, mas ela preferiu ir sozinha. Passou pela porta, olhou em volta. A sala estava vazia. Caminhou até a porta de Malfoy, levantou a mão para bater na porta, mas abaixou antes de faze-lo. 

Ele precisava de tempo. 

Ela foi para seu quarto. Deitou-se e ficou olhando para o teto. Sua cabeça vazia. Não conseguia pensar em nada. Já havia passado por muita coisa. Lembrou-se de quando recebeu sua carta. 

Bom, ela era uma menina esperta, sabia que tinha algo de diferente nela, que fazia coisas que não conseguia explicar. E seus pais ficaram tão orgulhosos quando ela recebeu a carta... Ela sentiu um embrulho no estômago. 

O que teria acontecido se ela não tivesse ido à Hogwarts? E se ela não fosse uma bruxa? Poderia estar formada no ensino médio. Estaria agora entrando numa universidade. Qualquer universidade da Inglaterra a aceitaria pelas notas exemplares que ela teria, é obvio. 

Depois de formada teria um bom emprego. Compraria uma casa. Talvez se casasse, talvez tivesse filhos. 

Ela foi inundada por esses pensamentos como um tsunami, a acertando em cheio. Logo agora que estava tão frágil emocionalmente. Já passara por tantas coisas, mas nunca havia se sentido tão esgotada. Quantas vezes já correu risco de vida? Perdera as contas. 

Então por que logo agora, que estava vivíssima e aparentemente saudável ela sentia que não tinha mais nada pelo que viver? 

Escreveu no seu diário. Era um hábito que tinha desde pequena. Era como ela desabafava. Desabafava consigo mesma. Quando escrevia, conseguia se compreender. Era obrigada a refletir. Acabaram-se as páginas de mais um de deus incontáveis caderninhos de segredos. Prestes a guarda-lo junto com os outros reparou que tinha algo errado. Não estavam nesta posição. Estavam fora de ordem. Respirou pesado, sentiu raiva. 

Diários são pessoais. Se fosse para alguém ler, seriam livros publicados. 

Jogou seu mais recente registro de atividades dentro dacaixa e a chutou de volta para de baixo da cama. Saiu do quarto em direção à biblioteca. O sol ja estava se ponto e logo a biblioteca fecharia. Pegou um livro sobre quadribol. 

Estava sob o efeito de uma magia bizarra quando decidiu aprender a jogar? Sim. Mas gostou da experiência e gostaria de aprender mais. Além de que, tinha absoluta certeza que Madame Hooch não a deixaria voar agora depois de toda essa confusão. 

Voltou para seu salão comunal, sentou-se no tapete em frente a lareira e começou sua leitura. Logo, quando menos percebeu, estava de pé, instintivamente imitando os movimentos que lia no livro. Estava achando divertido, e mal podia esperar para começar a treinar. 

A neve caia la fora, era quase natal. Mas Hermione tantava não pensar nisso. Não tinha mais família. E a única família possível era a Weasley, mas ela não estava animada a passar as férias de fim de ano na casa de seu ex namorado. Estava pensando seriamente em ficar no castelo. Ou então ir para a França, como fez com seus pais uma vez na infância. 

Estava tão compenetrada em sua leitura que nem viu Malfoy entrar. Ele sentou-se no sofá e ficou observando, curioso, o que a garota fazia. Pensava se era algum tipo de dança exótica, ou luta. Eram movimentos totalmente sem ritmo, o que deixava a cena engraçada. A garota de pé, com o livro em uma mão e balançando o braço livre no ar. 

Ela já estava na metade do livro, quando cansou-se. Sentou-se de novo no chão e puxou uma mecha do cabelo que caia sobre seus olhos para trás da orelha. 

—Divertido. — disse ela para si mesma. Malfoy ainda estava deveras chateado, e pretendia não falar com a garota por um bom tempo. Ela folheava o livro despreocupada, cantarolando alguma coisa. Ele não se conteve. 

—O que diabos você estava fazendo? — perguntou. A garota se assustou e seu um pequeno pulinho de onde estava para mais perto da lareira. Segurou o livro contra o peito. 

—Por Merlin, você quer me matar do coração? — disse ela respirando fundo, um pouco constrangida. — Há quanto tempo você está aí? — colocou de volta aquela mesma mecha para trás da orelha. Ele deu um sorrisinho maldoso. 

—Tempo suficiente. — levantou-se, voltando a ficar sério. —Mas já estou saindo. — foi em direção ao quarto, praguejando por ter se deixado levar. Ele ficava hipnotizado por ela, como podia se deixar balançar tanto assim por alguém? Ainda era um sonserino! Onde foi parar seu orgulho? 

—Espera. — disse Hermione, quando o garoto já estava com a mão na maçaneta da porta. Ele virou-se para trás, não querendo fazer isso. 

—O que foi? — perguntou, totalmente sem ânimo. Odiava conversas sérias. Achava desgastantes demais, e inúteis. O que mais precisava dizer? Já havia dito tudo o que era relevante. E não poderia desdizer as palavras ditas. 

—Podemos conversar? — perguntou ela com a voz baixa. Mal se movia. Parecia que se fizesse qualquer movimento brusco o afastaria para sempre. Mas nenhum movimento era necessário para isso agora. Ele soltou o ar. Fechou os olhos por um segundo e voltou a olhar para ela. 

—Não. — disse depois que alguns instantes de silêncio. Entrou no quarto e bateu a porta atrás de si sem olhar para trás. 

Hermione se sentou na poltrona, com o livro no colo. Tinha uma expressão magoada no rosto. Sabia que tinha feito bobagem. Cometeu um erro tão grande que custou a vida de seu bebê. Agora não sabia como consertar. Não havia perspectiva de melhora. Nenhuma possibilidade de voltar atrás. 

E logo ela, que sempre respondia as dezenas de perguntas que os professores lhe faziam em aula, não tinha a resposta mais importante. 

Aparentemente, nem tudo o que se precisa saber está nos livros. 

Ela deixou seu livro em cima da poltrona e foi para o quarto, pegou uma toalha e foi para o banho. Ficou pouco tempo. Geralmente o banho era seu momento de paz. Era um momento totalmente dela. Onde ela só tinha que prestar atenção nela mesma. Onde podia pensar, ter tranquilidade e privacidade. Mas nem isso foi capaz de anima-la. 

Prestes a sair do banheiro. Abriu a porta e viu Malfoy na frente da lareira com seu livro na mão. Resolveu não incomodar. Voltou para o banheiro e puxou o espelho, voltando para o quarto pela passagem secreta. 

o Leão e a CobraWhere stories live. Discover now