Sapatos Oxford

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Betsy deu alguns pulinhos em cima da mesa, e Hermione estendeu o dedo para ela. 

—Onde conseguiu essa coruja? — perguntou Malfoy, olhando para aquela pequena bolinha laranja sentada no dedo de Hermione. 

—Ela me adotou. — respondeu. Ele sorriu. 

Malfoy ficou em silêncio um longo tempo, observando Hermione acariciar Betsy, que vez ou outra piava alegremente. Ele ficava olhando para os detalhes de Hermione. O cabelo dourado o deixava encantado. 

Ele já a achava a pessoa mais linda do planeta quando tinha os cabelos castanhos volumosos, mas não podia negar que esse cabelo dourado esmagava seu coração inteirinho. E os olhos verdes dela. Pareciam faróis. 

Ele sempre achava que não tinha como Hermione ficar mais linda do que já era. Mas ela ficou. E era toda sua. E ele sorriu de novo pensando nisso. 

—Você não foi ao jantar hoje. — disse ele, franzindo o cenho. Ela congelou no lugar. Não queria mentir, mas não queria se passar por uma louca psicótica que tentou se matar novamente (sem querer). 

—Me distraí lendo. — disse, ainda olhando para a coruja, sentindo o olhar do garota a analisando. 

Ela sabia que podia mentir para qualquer pessoa no mundo, menos para ele. Era humanamente incapaz de mentir para Draco Malfoy, já que ele conseguia lê-la como um livro. Sua alma parecia se abrir para ele. Ela ficava transparente. 

E ele sabia que não era verdade, mas não se importava. Estava sendo um momento muito difícil para Hermione, e ele só queria distraí-la. 

—Quer ir até a cozinha? Posso pedir para os elfos fazerem bolo. — disse ele. Ela sorriu. 

—Obrigada. Sim, quero ir. — respondeu levantando-se. Sentiu frio. Olhou para baixo e se viu de saia, pés descalços. Ele parecia não ter reparado até aquele momento. 

—Por que está vestida assim? Cadê seus sapatos? Suas meias? Suéter e tudo mais? — ele levantou da cama, olhando para ela com as sobrancelhas franzidas. Não é como se ele achasse que ela poderia estar tendo um caso com outra pessoa. Mas era estranho. Até para ela. 

Convenhamos, era quase natal. Tinha uns 30 centímetros de neve fora do castelo. E ela estava de pés descalços. 

—Tive uma crise de ansiedade. — disse ela, soltando o ar. Não podia mentir para ele por muito tempo, sabia disso. Só não pretendia contar toda a verdade. — Por isso não fui ao jantar. Me senti sufocada e então vim para cá e tirei todo o excesso de roupa possível. Para tentar respirar. — disse como se fosse a coisa mais constrangedora do mundo e olhou para baixo, para os próprios pés. 

Ela tinha a impressão de que seus dedos estavam ficando roxos. Devia ser por causa do frio, colocaria uma grossa meia de lã, e se não resolvesse, visitaria madame Pomfrey. Mais uma vez. 

Só a ideia de ter que entrar numa enfermaria mais um vez já a deixava irritada. Francamente, não aguentava mais isso. Sua vida andava demasiado perigosa e instável. Demais para seu próprio bem. 

Ela já esperava que Malfoy diria alguma coisa. Que ele ofereceria ajuda. Que ele fosse ficar preocupado, ou ralhar com ela, ou qualquer outra coisa do tipo. Mas ele simplesmente suspirou, passou a mão pela cabelo dela. 

—Tudo bem. Coloque uma roupa quente. Se quiser, podemos conversar sobre isso depois. 

Ela desamarrou a capa de Daphne de seu pescoço e atirou-a para cima da cama. Malfoy viu, de relance, "DG" bordado na etiqueta. Mas ele não disse nada. Ficou em silêncio. Falaria sobre isso com Hermione no dia seguinte. 

Eles caminharam sorrateiramente pelos corredores, Malfoy com o braço em volta de Hermione, como se isso pudesse aquece-la mais. Foram até a cozinha. 

—Boa noite, tem bolo? — perguntou Hermione, sentando-se em uma cadeira. Um elfo balançou  cabeça com nervosismo e sumiu atrás de um porta, indo buscar o lanche de Hermione. 

—Cada novo dia descubro algo sobre você que eu não sabia. — disse Malfoy, despreocupado, sentando-se numa cadeira ao lado de Hermione. 

—O que descobriu dessa vez? — perguntou a ele, encarando a porta pela qual passara o elfo, esperando que ele passasse de volta por ela carregando um enorme pedaço de bolo de laranja. 

—Que você odeia sapatos oxford. — disse. Hermione não conseguir uma onda de graça que se subiu até a cabeça e deu um risada alta. 

—São feios e desconfortáveis. — disse quando terminou de rir, mas ainda tinha um sorrisinho nos lábios. 

—E por que exatamente isso te deixou tão preocupada? — perguntou ele, de modo casual, mas ela fechou o sorriso. 

—Eu não sei. — ela franziu o cenho, encarando a mesa. — As vezes os pensamentos vem na minha cabeça como um tsnunami, e uma coisa leva à outra, e esse processo acontece tão rápido que eu mal consigo acompanhar. 

—Certo. E de onde veio essa onda de pensamentos? — perguntou ele, apoiando um cotovelo na mesa e o queixo na mão. Ela piscou algumas vezes. 

—Emília Bulstrode é a nova monitora chefe. — disse ela. Ele permaneceu em silêncio para que ela continuasse. — Eu vou dormi naquele covil, cheio de gente que me odeia. Tem meninas lá dentro que me bateram e me ameaçaram, e eu vou ter que dormir perto delas. Eu vou acabar fazendo alguma bobagem, machucando alguém seriamente, por que vou me descontrolar. E então eu vou ser expulsa de Hogwarts. E vou ter que ir morar no mundo trouxa. E arranjar um emprego trouxa sem graça. E ter que vestir terninhos, e sapatos oxford, e coques bem apertados no cabelo, pelo resto da vida. E aí você não vai me amar mais e vai me abandonar por vou ser chata, sem graça e mal sucedida. — disse ela, sentindo um nervoso. Seu estômago borbulhou. 

No entando, Malfoy deu um gostosa gargalhada. Esticou sua mão até o rosto dela. 

—Você é completamente fora da casinha. — aproximou seu rosto do dela e deu um beijo rápido em seus lábios. 

O bolo de Hermione chegou e ela o devorou em poucos segundos. Não tinha percebido quanta fome sentia até começar a comer. 

Ela se sentiu grata de ter Draco Malfoy em sua vida. 

o Leão e a CobraWhere stories live. Discover now