Gravatas

364 33 0
                                    

Hermione terminou o trajeto até seu salão comunal quase que em transe. Não podia acreditar no que tinha acabado de fazer.

Agredira uma pessoa.

Hermione Granger, agredira uma pessoa.

Completamente gratuito. Quer dizer, ele a havia provocado, não? Mas quantas vezes em toda a sua vida ela já havia sido provocada? Jamais havia reagido dessa forma a um insulto.

Exceto aquela vez, no terceiro ano.

Entrou no salão comunal, e Malfoy a esperava de pé em frente à lareira.

—Tudo bem, Hermione. Acho que você está certa. Nós devemos conversar. — disse ele.

—Não é uma boa ideia, até outra hora. — disse sem olhar para ele. Simplesmente continuou caminhando reto para seu quarto, quase como fazendo pouco caso de Malfoy.

E ele ficou ali, estupefato, com as mãos na cintura e o queixo caído, olhando para a porta recém fechada do quarto de Hermione.

—O que deu nela? — perguntou retoricamente, e sem conseguir encontrar uma resposta, virou-se e foi para seu quarto também.

No outro dia de manhã, ele ficou esperando Hermione no salão comunal. Acreditava que ela deveria estar cansada, provavelmente, e por isso decidiu adiar essa conversa.

Mas ela não saiu de seu quarto. Ele simplesmente suspirou e foi em direção à saída.

Hermione, deitada na cama, completamente desperta. Não conseguira dormir a noite inteira. Sentia que algo nela estava desregulado, mas não sabia dizer o que.

Lutou contra sua vontade de passar o resto do dia isolada e sem manter qualquer interação com outros seres humanos, ela levantou-se e foi até o banheiro. Tomou banho e pôs o uniforme. O uniforme normal, sem nenhuma alteração ou customização, como andara fazendo ultimamente.

Suspirou para a sua imagem no espelho. Mal se reconhecia.

Estresse pós traumático? Talvez.

Pegou seus livros e foi para o grande salão tomar o café da manhã. Logo depois iria para a aula. Já estava atrasada.

Sentou-se na mesa e serviu uma caneca de café com leite, pegou um pão torrado com manteiga. Cantarolava alguma música que não se lembrava exatamente qual entre as mastigadas.

—Hermione, você está bem? — perguntou Gina, tocando suavemente o ombro da amiga.

—Por que não estaria? — perguntou, ainda concentrada no seu café.

—Não sei, você parece um pouco pálida. Na verdade, você parece branca como uma folha de oficio. — disse Gina, estreitando os olhos para a amiga, com preocupação. —Acho que devia ir na ala hospitalar.

—Estou ótima. — disse Hermione, sem dar importância ao conselho da amiga.

O grande salão estava quase vazio, já era tarde e ela estava atrasada. Poucos remanescentes ainda tomavam café da manhã.

Ela se apressou até a sala de Poções, onde tivera mais uma aula teórica extremamente desnecessária se levando em consideração que ela já sabia tudo o que estava sendo ensinado.

Sentiu um cutucão no seu ombro, virou-se para trás.

—Granger. Você está bem? — perguntou Theodore Nott, sem parecer, de fato, preocupado. Hermione de um sorriso, achando graça.

—Desde quando se importa? — perguntou baixinho para não levar advertência do professor.

—Não lembro de ter dito que me importo. — disse ele, deixando escapar um sorriso de canto.

—Estou ótima. — disse ela apenas, virando-se para a frente.

—Está diferente. — disse ele, próximo a ela.

—Diferente bom ou ruim?

—Bom.

Ela sorriu e não respondeu mais nada. Talvez só ela esteja se achando tão bizarra afinal. Talvez não esteja tão ruim quando na sua cabeça.

Ao meio dia, foi até seu quarto no salão comunal dos monitores chefe e deixou suas coisas. Desceu novamente até o grande salão.

Sentou-se com Gina, sorriu para a amiga antes de servir uma colherada de purê de batatas no seu prato.

—Você parece um pouco melhor agora. — disse Gina.

—Deve ter sido por causa da péssima noite de sono que tive, mas agora me sinto melhor. — respondeu.

—Não me surpreenderia se fosse por causa do estresse. Você tem passado por muita coisa. — disse Gina num tom despreocupado. Hermione concordou. Terminaram de comer em silêncio.

—Acho que vou subir agora. Nos falamos depois. — disse e se afastou.

Subiu até seu salão comunal e entrou no quarto. Olhou em volta, respirou fundo. Não fazia ideia do que estava fazendo ali.

Resolveu conversar com Malfoy. Fazia algum tempo que não se falavam direito, e ela tinha plena noção de que era sua culpa, porém estava com saudade.

Bateu na porta do quarto dele, mas ele não abriu. Ela decidiu entrar para ver se ele estava lá, mas ele não estava.

Ela voltou a cantarolar aquela mesma música de antes, em quanto caminhava devagar pelo quarto do garoto.

Olhou em cima da poltrona o uniforme reserva separado, e no cabide o uniforme do time de quadribol.

Deu uma risadinha. Será que verde caía bem nela?

Era verdade que em todos esses anos, jamais tinha experimentado o uniforme de nenhuma outra casa, e nem nunca tivera vontade.

Mas estava sozinha ali, e ninguém precisava saber. Não é?

Desamarrou sua gravata vermelha e largou em cima da cama. Enrolou a gravata verde em volta do pescoço e fez um nó.

Riu para seu reflexo no espelho.

—Até que não fiquei tão mal. — disse, ainda achando graça. A porta do quarto abriu e Malfoy assustou-se com a inesperada presença.

Hermione assustou-se também, num sobressalto fez seu corpo bater contra a porta do roupeiro do garoto.

—O que está fazendo? — perguntou ele confuso, sem deixar de notar a gravata que ela usava.

Hermione percebeu o olhar dele em seu pescoço e sentiu seu rosto arder. Que constrangimento ser flagrada num momento como esse!

Desamarrou a gravata num puxão e jogou a em cima da cama no garoto, onde já estava sua gravata vermelha.

—Estava brincando apenas. — disse, tentando recuperar a voz, que diminuía à medida que a vergonha aumentava.

Ele aproximou-se alguns passos, alternando o olhar entre as duas gravatas em cima da cama e a garota assustada a sua frente.

Ontem ela parecia tão decidida, poderosa e dona de si quando chegou no salão comunal e o deixou falando sozinho. Agora parecia indefesa, com o olhar assustado. E ele não soube como reagir.

Sentou-se na cama.

—Senti sua falta. — se rendeu a ela.

o Leão e a CobraWhere stories live. Discover now