Autodefesa

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Gina acordou-se sem ânimo. Se apoiou nos cotovelos e piscou algumas vezes. Se arrastou até o banheiro e tomou um banho rápido. Pôs o uniforme. Foi até o quarto de Luna. Bateu na porta.

A garota loira logo abriu a porta, se espreguiçando com um sorriso. Parecia nunca se aborrecer, estava sempre de bom humor.

—Bom dia, Luna. — Gina entrou e sentou-se na cama.

—Bom dia, Gina. — disse Luna, agora procurando pelo seu uniforme.

—Temos que contar para Hermione. Ela ainda não sabe. Que tal se formos antes do café da manhã falar com ela?

—Adorável. — respondeu, vestindo-se.

Saíram lado a lado do salão comunal dos monitores assim que Luna estava pronta.

Hermione estava sentada na sala, pronta para a aula, mas esperava Malfoy sair do quarto dele. Faria ele escuta-loa dessa vez.

Ele logo saiu do quarto, reparou a garota sentada ali e sabia que ela não desistiria tão cedo. Revirou os olhos e tombou a cabeça para trás.

—O que você quer? — perguntou ele, aborrecido.

—Quero te explicar. — disse ela. Ele se rendeu.

—Tudo bem, explique. — se colocou de pé à frente dela, com os braços cruzados.

Mas antes que ela pudesse falar alguma coisa, a porta do salão comunal dos monitores-chefe foi aberta. Entram Gina e Luna apressadamente, com sorrisos largos.

—Hermione, queremos falar com você. — disse Gina, animada. Olhou para Malfoy. Salvo pelo gongo. Sorriu para a garota ruiva.

—Ah, entendi. — deu uma risada. — Você seguiu meu conselho. Muito bem. Felicidades. Vou deixar vocês conversarem com mais privacidade. — piscou para a garota e saiu sem olhar para Hermione.

E a garota ficou frustrada. Momento errado, Gina.

—O que foi meninas? Que vocês estão com tanta pressa? — perguntou tentando esconder seu descontentamento na voz.

—Estamos namorando. — disse Luna. Gina surpreendeu-se. Não espereva que a noticia seria dada assim. Achava que ela mesma daria a noticia, mas de forma mais sutil. Olhou para Hermione. Ela só deu uma risada.

—Estava demorando. — disse ela.

—Como assim?

—Por Merlin, vocês viviam trocando uns olhares bizarros, eu sabia que tinha coisa aí.

—Nossa Hermione, — Gina jogou-se no sofá, ao lado da amiga, soltando o ar. — você tirou um peso das minhas costas. Não sabia como iria reagir. Luna se sentou no braço do sofá.

—Deveria saber que eu jamais a julgaria. Bom, e mesmo que quisesse, julgar, como poderia? Olha minha vida bagunçada. — disse rindo, mas sentindo o gostinho amargo da verdade nas suas palavras.

—Obrigada por estar com a gente, Hermione. — disse Luna. As três se uniram num abraço carinhoso.

Desceram para o café da manhã. Gina e Hermione sentaram-se juntas e Hermione não podia evitar olhar pra mesa da Sonserina. Pensava em um jeito de se redimir, mesmo sabendo que o que havia feito era quase imperdoável.

Pensando agora sobre o assunto, podia ver que foi quase insano pensar em fugir com o bebê. Como podia ser feito uma coisa dessa.

—Você esta me escutando? — Gina chamou sua atenção, um tanto impaciente.

—Não, na verdade. — respondeu. Levantou-se em seguida, ignorando completamente a amiga. Foi até o pátio e deitou-se na grama, em baixo de uma árvore na beira do lago. 

Ficou lá, olhando para as folhas verdes acima de sua cabeça, remoendo mentalmente seus erros, sentindo-se completamente perdida. O que supostamente deveria fazer agora? Perdera seu bebê e o amor de sua vida. Já tendo perdido até o presente momento seus pais, seu melhor amigo e seu antigo amor, que também era seu amigo. E estava a um pulo de perder suas duas únicas amigas também. Estava sendo uma amiga muito negligente. Uma namorada negligente. Uma aluna negligente. 

Não havia percebido que a guerra tinha a afetado tanto até o presente momento. Suspirou. 

Precisava ao menos, cuidar de suas notas. Tinha uma reputação a zelar. A situação ainda não estava completamente fora de controle, apesar dessa sensação de estar fora do ar. 

Levantou-se, sacudindo as vestes para tirar os fiapos de grama seca pendurados. Caminhou determinada de volta ao castelo, se agarrando a sua única chance de voltar a ser a Hermione de sempre. 

Voltou até seu quarto no salão comunal dos monitores chefe e pegou seus materiais para a primeira aula do dia. Livros, pergaminhos, penas, tinta. 

Não conversou com ninguém durante todo o dia. Estava focada. Devia lembrar-se por que estava ali, naquele castelo imenso. Por que voltara depois da guerra, mesmo não precisando. Segurou seus livros nos braços com mais força, como se abraçasse sua última esperança. 

Era fim da tarde, ela caminhava com aquela pilha de livros em direção a biblioteca. Devolveria estes e pegaria outros. 

Ficou muito tempo sentada num cantinho da biblioteca, atrás de um corredor, no chão. Não queria ser encontrada por ninguém, só queria ler em silêncio. 

No exato momento em que bocejou ao acaso, se espreguiçando e se alongando por causa da má posição, mas luzes da biblioteca se apagaram. 

Provavelmente madame Pince não percebera que ela ainda estava ali dentro, o que de fato era o que Hermione esperava: não ser encontrada. 

Juntou suas coisas e se dirigiu para fora da biblioteca. 

Uma figura que saiu das sombras se colocou ao seu lado em silêncio. Hermione, num sobressalto derrubou seus materiais no chão.

—Que quer, Jack? — perguntou enfezada, abaixando-se para pegar seus livros. 

—Conversar. — disse com os braço cruzados. 

—Não temos nada para conversar. Com licença. — disse  e se afastou. Ele apressou o passa até alcança-la, e quando o fez, puxou seu braço, fazendo com que os livros da garota caíssem novamente. Ela revirou os olhos. 

—Vá dormir, garoto. E me deixe em paz. — abaixou-se para pegar seus livros novamente quando sentiu a mão do garoto no seu ombro. Ela ficou parada, em silêncio por alguns segundos, esperando que ele tirasse a mão de seu ombro, mas ele não o fez. —Jack, você tem dois segundos para tirar sua mão de mim antes que eu quebre seu braço. 

—Até parece. Uma menina como você, que tem que estar sempre protegida por algum menino. Quando não é Harry Potter ou Rony Weasley, é Draco Malfoy. — deu uma risada debochada. 

As palavras custaram a entrar nos ouvidos de Hermione. Ela mal podia acreditar. Será que essa era a imagem que todos tinham dela? Que não sabia se defender sozinha? 

Levantou-se na rapidez de um lince e apertou o pescoço de Jack com força, empurrando-o contra a parede. 

—Eu não preciso de ninguém para me proteger.  — disse quase rosnando. O golpe não era de fato o mais bem pensado, e ela não poderia sustenta-lo por muito tempo — e sabia disso. Na realidade, só funcionou por que Jack foi pego de surpresa. Essa era uma reação que absolutamente ninguém seria capaz de prever vinda de Hermione. 

E o garoto ficou ali, completamente imóvel, ainda assustado e de olhos arregalados. Talvez ela não precisasse mesmo ser defendida por ninguém. 

Foi então que Jack vislumbrou, por milésimo de segundo, os olhos de Hermione mudarem de cor. 

Brilharam num claro tom verde menta. 

o Leão e a CobraOnde histórias criam vida. Descubra agora