A Conversa

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Malfoy foi para a biblioteca e passou o resto da tarde procurando respostas. Leu livros atrás de livros e nada foi capaz de sanar suas dúvidas. Quando anoitecia, voltou para seu salão comunal.

Abriu a porta e viu uma cena que desmanchou seu coração.

Hermione estava sentada no sofá ao lado da janela, com a face totalmente magoada, bebendo uma xícara de chá. Seu cabelo parecia mais escuro e volumoso, e estava preso em um coque. Ela o olhou com os olhos brilhando, inundado de lágrimas, e perguntou:

—Você não gosta mais de mim?

Ele correu para abraça-la, compadecido pelo rosto frágil de Hermione. Abraçou-a forte e deu um beijo em sua testa. Ela estava passando por muita coisa e ele precisava ser bonzinho. E sabia disso. Mas não seria bonzinho com Hermione por que McGonagall mandou, mas sim por que ele gostava de ser bonzinho com Hermione. E esse pensamento o fez sorrir.

—É óbvio que eu ainda gosto de você. — disse ele.

Ela ergueu sua mão e passou a ponta de seu dedo pelo rosto de Malfoy, contornando suas linhas e percorrendo caminhos imaginário, olhando com muita atenção como que para não se esquecer nunca deste rosto. Ele ficou olhando a garota em seu colo, tão pequena. Era seu pequeno tesouro.

—Não gosto de você. — tornou a dizer. —Eu amo você, Hermione Granger.

Ela ergueu seus olhos para os olhos dele e o beijou.

—Eu também amo você, Draco Malfoy.

De repente, os olhos dela mudaram de cor de novo. Acontecia sempre que ela sentia algo intensamente. Mas ele não se assustou dessa vez. Só se sentiu ainda mais apaixonado por ela.

Era uma menina muito forte.

E ele chegou ao ápice deste pensamento: ela é uma menina forte, eu preciso contar pra ela.

Ele sabia que a diretora McGonagall seria capaz de devora-lo vivo se soubesse o que estava fazendo, mas ele não podia deixar que ela fosse pega de surpresa. Ela precisava estar emocionalmente preparada. E então e contou a lenda de Rósea Lewis (que não era exatamente uma lenda).

—Por que está me contando isso? — perguntou ela, ao final da história. Malfoy sentiu sua garganta secar. Era agora ou nunca.

Mas então alguém bateu na porta, Malfoy desviou seu olhar de Hermione para a porta e se levantou para abri-la.

Jack, não vendo que Hermione estava ali, começou a falar.

—Eu acabei de encontrar um registro de um garoto que sofre a mudança também, nos anos 60! Não faz muito tempo-

Ia dizendo apressado, mas foi interrompido por Malfoy, que o empurrou para o corredor.

—Hermione está aqui dentro, fale baixo. — cochichou, nervoso; mas não adiantou. Ela levantou-se e veio ver o que estava acontecendo.

—Um garoto mudou nos anos 60? Luna disse que o pai dela viu um garoto mudar, mas eu não entendi o que ela quis dizer com isso. — Hermione cruzou os braços e cerrou os olhos para eles. —Para dentro, agora. E vocês só vão sair de dentro desta sala quando me explicarem exatamente o que está acontecendo.

Eles se entreolharam. Era isso. Não tinha mais escapatória. Entraram na sala se arrastando, como quem se entrega para o carrasco. Sentaram-se os dois no sofá, lado a lado, e Hermione na poltrona da frente.

—Por que exatamente Luna entrou nesse assunto com você? — perguntou Malfoy, tentando descobrir o quanto ela já sabia.

—Ela disse que eu mudei, e que o pai dela viu um garoto mudar também. Eu não entendi o que isso significou. — disse ela balançando a cabeça e olhando para baixo. — Mas você sabe, não é? — perguntou encarando Jack. — Xenofílio estudou aqui na escola na década de 60, e você acabou de falar que um garoto da década de 60 mudou. O que isso quer dizer?

Os garotos se encararam uma última vez, sabendo que essa era literalmente sua última chance de manter esse segredo até McGonagall dizer o que fazer. Malfoy finalmente suspirou, após alguns segundos do mais puro silêncio.

—Tudo bem, vamos contar a ela. Primeiro me conte o que você sabe, e por que McGonagall não sabia deste rapaz. — Malfoy disse para Jack.

—Me contar oque? Por que Minerva sabe de algo que eu não sei, e por que vocês sabem de algo que ela sabe e ainda não me contaram? — perguntou Hermione, exaltando-se levemente e cruzando os braços. Odiava ser a última a saber das coisas.

—Calma. Vamos explicar tudo, mas primeiro Jack tem que me contar o que ele descobriu. — disse Malfoy, esticando-se para fazer um breve carinho no rosto de Hermione. Ela descruzou os braços e assentiu com a cabeça. Jack fingiu não ter se sentido desconfortável com essa demostração de afeto, pois ainda não tinha perguntado para Malfoy o que McGonagall quis dizer com "quase tiveram um filho juntos".

—Tudo bem, vamos lá. Malfoy, eu descobri que esse garoto sofreu a mudança, mas ninguém ficou sabendo por que ele não fez a cerimônia de seleção novamente. A seleção dele foi na sala do diretor. E quando ele saiu da Lufa-lufa para Corvinal, ele ficou tão chocado que fugiu da escola e nunca mais foi visto. Por isso não entrou no registro.

—Dumbledore sabia disso? Ele era o diretor na época. — Mafloy fez uma anotação mental em voz alta.

—Dumbledore era muito bom em guardar segredos. — disse Hermione com certa amargura na voz, mas ninguém ousou perguntou o que ela quis dizer com isso.

—Hermione. — Malfoy chamou sua atenção. — Você já entendeu a qual mudança nos referimos?

—Não exatamente. — respondeu fazendo uma expressão de confusão.

—Nós acreditamos — começou Jack, alternando seu olhar entre Hermione e Malfoy, ele confirmou com a cabeça e então Jack continuou a falar. — que você esteja mudando de casa. — disse ele, e pareceu ter trancado a respiração logo depois.

—O que? — perguntou espantada com tamanho absurdo. —Isso é insano, claro que não. — disse e deu uma risada estupefata.

—Tem certeza? Quero dizer, seu olho ficou verde. — argumentou Jack.

—Meu olho o que? — perguntou, ficando cada vez mais confusa.

—Acho que ela ainda não viu. Quer dizer, ela teria que estar na frente de um espelho, não? — disse Malfoy para Jack.

—Ainda não vi o que? — exaltou-se, voltando a cruzar os braços.

—Hermione, seus olhos mudam de cor quando você sente fortes emoções. — disse Malfoy.

—Como raiva, por exemplo. — disse Jack, exemplificando. Malfoy o encarou, por que ainda não havia perguntado o que tinha acontecido entre os dois para que ele visse os olhos de Hermione mudarem.

—Ou desejo. — disse, olhando para Hermione.

—Ou angústia. — disse ela, mais para si do que para os outros. Sentou-se no braço da poltrona e soltou os braços novamente, ligando os pontos. Os outros dois se encararam, nenhum deles queria ser o primeiro a perguntar, mas a medida que as sobrancelhas de Hermione ficavam mais franzidas, Malfoy foi tomando coragem.

—O que quis dizer com angústia, Hermione? — perguntou Malfoy, com a voz mas suave que conseguiu.

—Eu estava indo para a aula de Trato das Criaturas Mágicas, — disse ela, olhando para o tapete, tentando lembrar-se exatamente dos detalhes. — encontrei com Luna. Eu estava muito angustiada por que achava que estavam todos escondendo alguma coisa de mim. — disse, apoiando as mãos na poltrona. — Estava todo mundo me tratando esquisito. Gina disse que eu estava diferente, e até o Nott disse também. E eu também estava me sentindo diferente, mas não sabia dizer o que era. — encarou Malfoy à sua frente. — Como se eu estivesse quebrada, entende? — ele afirmou com a cabeça. — Eu estava muito agustiada e encontrei com Luna. Ela sorriu quando me viu. E começou a falar sobre eu ter mudado, e que o pai dela tinha visto um cara mudar também, e eu não entendi. Ela disse que com certeza eu mudei. Ela disse "tudo mudou, você saberá em breve".

Escutaram uma batida na porta. Malfoy abriu. Era McGonagall.

—Parece que você saberá agora. — disse Malfoy.

o Leão e a CobraWhere stories live. Discover now