1ºCapitulo

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Em 2012, comecei esta história, era uma pré-adolescente meio desajeita, com uma pequena e chata dislexia, mas que queria muito escrever. Hoje, em 2023 tenho outra bagagem e vontade de recontar esta história, de um ponto de vista mais seguro, mais meu e menos frágil, cheio de cortes e recortes do que era um mundo meio "tumblr" e esquisito. Para o bem e para o mal, aquilo que escrevi nos primeiros anos da minha adolescência está aqui para sempre, e tudo bem, tenho orgulho do percurso todo que fui fazendo e de onde Vision me trouxe. Aproveitem este primeiro capitulo :) novinho em folha. 


Edição de 2023

Mal podia acreditar onde estava, há medida que os edifícios de estilo gótico passavam por mim como um filme que eu jurava já ter visto. E na verdade, tinha. Tinha passado os últimos meses a planear a minha grande fuga, haviam mapas, fotografias, listas de ruas pelas quais teria de passar para chegar à universidade... era tudo familiar, sendo completamente estranho. Era Oxford e ao mesmo tempo, não era. Era real e ao mesmo tempo era um sonho.

Quando me candidatei à Universidade de Oxford, no lado oposto do mundo, de casa, de tudo aquilo que conhecia, não achei que fosse ser aceite, quem é que quero enganar? Duvidei até que me respondessem, imaginei uma senhora de meia idade, a bebericar cházinho, óculos na ponta do nariz enquanto se ria da americana a tentar fingir ser uma coisa que não era. Inglesa.

Agora, quase vinte e quatro horas depois de ter saído de casa, e de ter atravessado o oceano com duas malas e os meus pais, preciso de agradecer à senhora de óculos que achou divertido ver uma miúda de San José, habituar-se ao frio infernal de Inglaterra. Para confirmar que o frio não é psicológico, sigo uma das gotas de chuva que escorre pelo vidro do carro, enquanto o meu pai estaciona em segunga fila. Olho para a morada no meu telemovel e empoleiro-me entre os bancos da frente.

-Não é aqui.- Digo como se eles não soubessem.

O meu pai olha para trás, mesmo sentando é mais alto que eu e do que a minha mãe, que vejo sorrir pelo canto do olhos.

-Eu sei que não é aqui, mas não me parece que o estacionamento ou o transito vá melhorar nos próximos minutos.

Olho para fora da janela, para a enchente de miúdos que passam por nós; trazem caixas, vejo dois tipos a andar com um colchão por cima das cabeças, não sei se por precisarem dele, ou porque não tem guarda-chuvas, qualquer uma das hipoteses não me parece inteligente. 

-Terra chama Sophia?

Volto a olhar para a minha mãe, os olhos escuros iguais ao meus e o sorriso fácil que consigo replicar num milésimo de segundo. Vou sentir a tua falta...

-Desculpa. Então, como é que querem fazer? Podemos deixar o carro assim?

-Só se quiser ser multado por um daqueles tipos usam gatos na cabeça.- O tom ácido do meu pai, impede-me de rir da péssima piada.

-Porque é que não vais buscar a chave e eu e o teu pai arranjamos estacionamento e levamos as malas?

Desvio o olhar para o email no telemóvel:

"Cara, Miss. Sophia Black. A Uniford Dorms, informa-a de que todos os estudantes dos anos letivos 2012/2013 terão a sua sessão de boas vindas dia 2 de setembro, pelas 18:00. Na hipótese de chegarem mais cedo, cada chave poderá ser encontrada dentro da respetiva caixa do correio. Relembramos que lhe foi atribuído o apartamento 16A. Com os melhor comprimentos, Mr. Geral. P "

Alguém apita ao meu pai, antes de um carro preto de aspeto caro contornar o nosso carro. A única coisa que vejo é um dedo do meio esguio erguer-se na nossa direção antes do meu pai abrir o vidro.

Vision 1 - The JudgedWhere stories live. Discover now