98ºCapitulo

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A minha respiração é pesada e sinto-me como se estivesse a ser chicoteada, vezes e vezes sem conta. Ele fez coisas terríveis, ele dormiu com a noiva do pai, ele... oh céus, isto é tanto para assimilar, e tenho tanto medo agora que me contou. Medo de lhe contar de mim, medo de lhe contar o que me acontece, o que faço, medo de o perder.

Eu consigo aceitar o que ele fez, mesmo que eu não devesse, mas eu consigo mesmo aceitar, não sei porque mas a verdade é que sinto que preciso de aceitar para ele não me julgar quando eu lhe contar, eu apenas não tenho maneira de encaixar tudo isto, toda esta nova informação.

 Em que gaveta meto isto? Na da roupa suja, ou na do meu namorado tem jeito para dar cabo das coisas?

Eu enterro a minha cabeça nas minhas mãos e respiro fundo a combater a minha dor de cabeça. Eu posso ter uma visão se eu não me controlar, demasiada informação está a deixar-me nervosa.

Levanto-me do seu aperto e caminho até á casa de banho, tiro um comprimido do armaria e engulo-o com ajuda de água. Quando levanto a cabeça o Harry está atras de mim.

 -diz alguma coisa!- ele murmura.

-faças o que fizeres, não abras a capa se a conseguires.- Sussurro.

Ele acena com a cabeça, e eu viro-me de novo para ele. O que quer que possa estar na cabeça dele neste momento, não dá para adivinha. Eu só queria poder enroscar-me sobre mim mesma, e apagar, para nunca mais precisar de voltar a ouvir esta história de novo.

Saio da casa de banho e avanço para o quarto. As camas estão feitas, mas ambas continuam juntas, eu deito-me sobre a minha, e levo os meus joelhos ao meu peito e fecho os olhos. Eu preciso mesmo de dormir um pouco. Eu ando tão cansada, e o pouco que dormi em casa da Kate parece ter sito á eternidade. Respiro fundo e tento acalmar-me, eu apenas preciso de me manter calma, e perder a consciência é um bom método.

Sinto o colchão a afundar, e as mantas serem puxadas para cobrir o meu corpo. Os raios da tarde entram no quarto mas os meus olhos são pesados, mesmo com a luz a invadir o quarto de forma tão violenta.

O Harry aconchega-se mesmo atras de mim e puxa-me para o seu peito. Lágrimas indesejadas começam a escorrer com o contacto, ainda é muito para assimilar, mesmo que eu compreenda alguma coisa, ainda dói. Algumas das coisas que ele fez são horríveis, no entanto a infância a que ele teve acesso não foi fácil. Rodeado de opulência, mas sem o amor maternal, apenas um miúdo sozinho com frustrações por descarregar. Tudo que eu podia esperar dele era amor e compreensão, então agora, eu decido que eu vou fazer, e dar-lhe o mesmo. Amor e compreensão, mas mais uma vez isso não está diminuir o buraco no meu coração.

Viro-me para ele, ainda encolhida na posição fetal e agarro a sua camisola nos meus punhos. Encosto-me tanto a ele, que a minha respiração torna-se quente contra ele. As lágrimas correm e a única coisa que ele faz é encolher-se também contra mim. Como um círculo, o bom e o mau, não á bondade sem maldade, e não há paz, sem guerra. Nós não somos nada sem os defeitos um do outro, porque sem tal, as nossas qualidades nunca seriam destacadas.

-eu peço desculpa.- ele murmura a meio do meu choro.

Quero pensar bem no que lhe vou dizer a seguir, mas todas as palavras parecem estar desconectadas, parece que tudo é um turbilhão de emoções, parece que estou dentro de um aspirador e ando às voltas.

-porque?- a minha voz não passa de um murmúrio, baixo e rouco.

-por trazer isto para ti, por não poder guardar tudo isto para mim, por sentir que estávamos a viver em cima de mentiras, e coisas por desvendar, agora tenho a certeza de que está tudo preto no branco, de que não há mais nada. Sabes de todo o meu passado, e quero que isso continue, quero contruir um passado melhor contigo, quero que o amanha, seja tão bom, que se torne um passado bonito.- Ele sopra as palavras no seu tom habitual rouco, e um arrepio percorre a minha espinha.

Vision 1 - The JudgedWhere stories live. Discover now