29ºCapitulo

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O caminho até ao campus é muito mais longo do que eu esperava ser. O trânsito está horrível e começou a chover. O Harry mantem-se calado e parece nervoso. Não consigo entender porque. Mas desde que me pôs o sinto o que sinceramente! Está nervoso. Não sei porque. Mas isto faz-me pensar na imagem do rapazinho agarrado ao livro da Tess. E novamente o vazio. Aquele vazio que não consigo explicar. Aquilo que engole tudo aquilo em que penso relacionado com isso. Eu tento o meu melhor, mas não consigo achar, abro a minha mala e retiro a carteira onde está o contacto do amigo do meu pai. Será poderá um mero charlatão ajudar-me? Eu com a psique mais complexa do mundo?

-o que é isso?- o Harry tira-me dos meus desvaneios. Estamos parados num semáforo.

-nada de especial.- Murmuro

-como assim? Pareces um fantasma a olhar para isso.- ele parece irritado

-estiveste com o teu pai?- pergunto sem ao menos esconder que possivelmente já sei a resposta.

-porque dizes isso?

-porque estas muito mal-humorado.- Digo olhando para ele. E ele tem um sorriso torto para mim.

-achas que estar com o meu pai é a causa da minha má disposição?- não acredito no que vou dizer a seguir.

-bom tendo em conta como estava o teu estado de espirito esta manha e como está agora. Sim acho que estiveste com ele.- Digo ficando vermelha.

-oh e também o fato e o carro.- Acrescento e ele recomeça a condução. Também tenho carta, queria poder conduzir este carro.

-o carro é meu. Comprei-o com o meu dinheiro.- Ele parece novamente irritado.

-tu trabalhas sequer?- pergunto-lhe

-sim. Na realidade estou a construir um pequeno negócio.- Ele parece orgulhoso. O Harry com um pequeno negócio? Como vender limonadas?

-como assim um pequeno negocio.

-sou estudante de economia Sophia.

-sim. Exatamente devias estar a estudar para ser contabilista ou coisa do género.

-não me contento com pouco Sophia.- Isto é uma espécie de indireta?

-oh bom. Eu apenas pensei que o fato tivesse a ver com o teu pai.

-e tem. Estive numa reunião.- Não percebo

-como assim numa reunião? Com o teu pai? É a isso que chamas almoço de família?

-eu e o meu pai não somos propriamente amigos Sophia.

-então o que estiveste a fazer exatamente?

Espero não estar a passar das marcas. Todo este dia tem sido perfeito e não quero que nada o arruíne. Muito menos a minha curiosidade aguda. Eu pergunto-me se irritarei sempre assim tanto o Harry com perguntas. Ele é sempre tao evasivo. Tem a tendência de me ocultar tudo e isso chateia-me. Mas não o posso obrigar a falar comigo. Ele vai falar e contar o que quiser.

-não sei porque te quero contar isto mas quero.- ele resmunga para sim mesmo. O meu subconsciente bate palmas com a facilidade com que ele vai falar comigo.

-estou a reclamar as ações que me pertencem.- ele diz como se fosse uma banalidade.

-que ações?- devo soar patética.

-o meu pai tem uma empresa de seguros "Mitchell insurance companies".- o que? O pai dele é dono da maior empresa de seguradoras do mundo?

-oh deus o teu pai é o Edward Mitchell?- arquejo horrorizada.

-yap ele mesmo.- o Harry revira os olhos

-tu és herdeiro de um império?- sussurro

-sim. Mas tenciono ficar com as minhas ações e vender a quem der mais.

-porque? Podes lucrar se ficares lá a ser qualquer coisa com subpresidente da empresa não?

-o meu pai nunca me vai deixar aquilo. Ele vai arruinar a empresa assim que perceber que já é velho demais. Ele era capaz de meter uma bomba em tudo aquilo apenas para eu não ter nada. E eu não quero trabalhar para ele. Eu odeio-o

A maneira como ele fala do pai dele faz-me pena. Pobre Harry solitário. Mas o que vai ele fazer com o dinheiro das ações que vender?

-porque vais abdicar das ações? Podias fazer alguma coisa com elas. Como controlar melhor o que ele faz.

-eu só tenho 50% daquilo. Temos o mesmo poder, mas eu não quero ter nada a ver com ele e com o que ele faz.

-porque não?

Ele bate com as mãos no volante e isso assusta-me. Ele encosta na estrada ligando os piscas. Os olhos dele estão marejados, mas não há nenhum indício de que agua vá cair por eles. Ele apenas está com raiva. Consigo ver a sua veia na testa e a força com que ele crispa os maxilares. Ele parece duro e imponente no seu fato preto e elegante. Serão ele e o pai assim tao diferentes?

-porque foi por causa de toda esta merda de empresa que a minha mãe morreu.- Ele murmura. E eu não acredito que ele está finalmente a falar comigo. Parece tao irreal.

-como assim?- pergunto e ele solta uma risada desprovida de humor.

-vamos lá Sophia, não te estiques muito.- Ele diz e recomeça a conduzir. Decido ir por outro caminho.

-o que vais fazer com o dinheiro das ações?

-investir no meu pequeno negócio.

-não há nada de pequeno em ti. Ainda agora disseste que não te contentas com pouco.

-yap. Mas não te vou dizer. Vou esperar mais um pouco até te contar.

-porque?

-porque gosto de ti irrequieta.- ele diz a sorrir para mim como um pequeno gato de Cheshire.

-pareces o gato da Alice no pai das maravilhas. O de Cheshire

-bom minha linda, fica a saber que eu sou Cheshire.

-asserio?- pergunto entusiasmada

-yap. Ainda tenho lá os meus avós maternos.

-eu também tenho um avô.- Digo tristemente pois isso faz-me lembrar a minha avó.

-o que se passa?- ele pergunta com preocupação estampada na voz

-a minha avó morreu no ano passado.- Murmuro

-lamento muito.- Ele diz sinceramente

-eu sei. Eu também lamento.

-como aconteceu?- ele parece hesitante

-Foi horrível. Ele levantou-se para ir dormir a sesta e quando o meu avô a foi acordar ela estava...

-estava simplesmente morta.- Sussurro tentando conter as emoções.

O resto do caminho é feito em silêncio. O Harry não fala e eu também não falo. Tudo isto parece ainda muito recente mesmo que não o seja. Tento concentrar-me em mais alguma coisa mas a única coisa que me aparece na cabeça é o Harry. Ele e só ele.

-Soph?- ele chama

-sim?

-es a rapariga mais corajosa que já conheci

-porque dizes isso?

-foste a única não me abandonou depois de uma semana de convivência. Quer dizer. Costumo ser eu a despacha-las mas mesmo assim tu aturas-me como nem o meu pai me aturou. Eu faço-te mal, mas ainda assim aqui estas tu a ser tudo o que eu nunca tive.

A confissão dele faz o meu coração inchar de amor. Adoro quando ele me diz estas coisas. É como se o mundo ganhasse cor e o tempo parasse. É tudo isso e muito mais. sou eu e o Harry a ser aquilo que somos de melhor e pior.

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Sei que está pequeno mas tenho que estudar Filosofia.

LY 

Vision 1 - The JudgedOù les histoires vivent. Découvrez maintenant