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Abri os olhos assustada, e presenciei novamente aquela imensa escuridão. Me levantei da cama e enquanto apalpava tudo a minha frente, andei até a minúscula janela que havia ali, o dia estava ensolarado. Não sabia identificar exatamente o horário, mas poderia afirmar que passará do meio-dia. Vozes começaram a ecoar dentro daquela sala, virei meu rosto em direção a porta que permaneci fechada. Não demorou muito para a porta se abrir e a claridade tomar conta do lugar.

- Acordou, finamente. - O rapaz de cabelos negros rasteiros permanecia a porta de braços cruzados. - Vamos. Está na hora dos exercícios matinais. - O encarei fixamente, observando atrás dele. Se eu conseguisse derrubar ele e correr eu teria uma chance. - Nem tente. - Ele suspirou sorrindo, um sorriso escroto e começou a se aproximar de mim. - Se tentar algo, você leva um tiro. - Escutei um assobio soar pela sala, um rapaz extremamente robusto apareceu a porta segurando uma pistola automática. Me lançou um olhar gozado e permaneceu com os olhos fixados ao rapaz.

Segurou meu braço firmemente me puxando para perto. Levou minhas mãos as minhas costas. Senti algo se colocar sobre meus pulsos. Tente mexer minhas mãos, mas percebi que estavam presas, a algo que desconheço. Parecia um metal, mas não eram tão pesadas. Me levantou o mais brusco que ele conseguiu e me empurrou em direção a porta. Me desequilíbrio andando em direção a porta onde o rapaz já não estava mais, porém minhas pernas cederam e eu fui ao chão, batendo meu resto contra o piso branco.

- Você mal acordou e já quer dormir novamente? - Meus olhos permaneciam ao azulejo e suspirei fundo. Eu não conseguia ver sua expressão, mas sabia que ele possuía uma expressão debochada. Suas mãos seguraram meus braços novamente e me levantou colocando em pé, me empurrou novamente, e dei alguns passos para frente.

- Você não tem boas maneiras, não? - Movi meu olhar para trás vendo ele se aproximar.

- Não com você! - Novamente suas mãos se chocaram com as minhas costas. Dei de cara com um elevador, ele me empurrou para dentro. O elevador deu um tranco antes de subir e começou a subir lentamente. Quando as portas abriram, albino permanecia de braços cruzados com um sorriso confiante aos lábios.

- É bom ver você acordada. Ray foi amigável com você ? - Encarei seus olhos profundamente.

- Mais amigável, impossível. - Ele sorriu novamente e o rapaz me empurrou mais uma vez. - Viu, mais amigável impossível. - O albino deu de ombros. Se virou nos dando as costas e começou a andar. Ray foi empurrar minhas costas novamente, mas dei um passo a frente antes. - Eu já sei. 'Anda'. - Suspirei e seguimos ele.

Quando a porta se abriu fui pressionada contra a parede. Uma mão permanecia a minha garganta. Começava a ficar sem ar quando a mão se afastou e deslizei pela parede até o chão. Tossi um pouco recuperando o ar.

- É tão bom finalmente descontar toda a raiva de vários anos em você. Eu te procurei, por toda parte. Foi difícil te encontrar, eu admito. Mas quando você quer algo, você acha, demore o tempo que demorar. - Ele sorriu, um sorriso diabólico. - Lembra o que você fez comigo? Você me humilhou, na frente de várias pessoas, aquilo foi a gota d'água para mim. E para piorar, mandou capangas para me matar.

- Você quer se vingar por causa daquela luta? isso foi a 4 anos, esquece isso. - Suspirei morrendo de dor. - Não foi eu quem mandei. Mas se tivessem feito seu trabalho corretamente, você não estaria aqui hoje. - O encarei sem demonstrar emoção.

- É fácil para uma pessoa dizer ''Esquece isso', não foi ela que passou pela aquela situação horrível. A pessoa que bate, não lembra. Mas a que apanha, lembra sempre de todas as dores. Afinal, não foi VOCÊ QUEM TEVE SUA DIGNIDADE JOGADA ÁGUA ABAIXO POR CAUSA DE UMA GAROTINHA! - Elevou bruscamente sua voz, enquanto seus olhos me observavam com ódio. Outro soco ao nariz quebrado. Virei o rosto com tudo para o lado, flexionado os olhos enquanto algumas lágrimas insistiam em brotar nos meus olhos devido a dor. Uma risada em junção com um suspiro foi ouvido pela sala. Olhei em sua direção, deu alguns passos, se afastando e mim e estalando os dedos. - Sabe. - Segurou uma pequena lamina as mãos. - Vou te machucar, o tanto que eu conseguir, a ponto de você me implorar para parar. - Seu olhar estava fixo a lâmina prata, enquanto deslizava seu polegar por ela. Se aproximou de mim agachando a minha frente. - Eu sei como dói um nariz quebrado, sei bem. - Ele sorriu. - E eu adoro quando outra pessoa sente essa dor.

Senti a lâmina entrar em contato com a pele sensível da minha clavícula. A lâmina deslizou suavemente pela pele até perto do pescoço. Eu estava eufórica, desesperada. Eu sabia, ou não, que ele não iria me matar tão rápido, mas essa era a grande questão. Matar aos poucos é pior que matar de uma vez. Senti algo quente descer pela minha clavícula em direção aos meus seios. Provavelmente sangue. Mordi o lábio tentando aguentar a dor.

- Por enquanto, está ótimo. - Se afastou depois de deslizar aquela lâmina afiada por todo meu pescoço, onde provavelmente ficaram diversos cortes superficiais. Olhei em direção a porta onde Ray estava encostado apenas observando, e apertei os olhos os voltando para o teto. - Dói, não é mesmo, Darkness? - Suspirei fechando os olhos.

- Por favor... Me poupe apelidos formais do passado. - Suspirei e escutei ele soltar um sorriso.

- Se arrepende? - Soltei um suspiro e movi meu olhar para ele.

- E quem não? Tanta merda que você faz quando é jovem, ou deixa de fazer, todo mundo se arrepende. Independente do que.

- Não adianta se arrepender. Passado faz parte de você. Conviva com seu erro e aceite ele. Afinal, querendo ou não, ele já faz parte de você. E você foi moldada em cima disso. - Começou a passar um pano branco a lâmina. - Então, arque com as consequências. E ature as surras.

- Lição de moral? Agora? É sério? - O encarei levantando uma sobrancelha. O rapaz deu de ombros.

- Digamos que é mais um incentivo para mim. - Sorriu e colocou a lâmina sobre a bancada.

Eu não sei quanto tempo eu estava ali, mas na minha mente já fazia tempo. Eu não aguentava mais sentir dor, fome, saudades de casa, até mesmo da escola, se me perguntar. Você só dá valor a algo quando perde, as pessoas tem razão. Seria esse meu juízo final? Pagar todos os meu erros, aqui? Aquele cara não era a melhor pessoa para me julgar, mas quem era eu para falar algo. Permaneci deitada a pequena cama observando o teto cinza.

- All you sinners, stand up
Sing hallelujah. (Todos vocês pecadores, levantem cantem aleluia). - Escutei ao longe sons se sirene. Andei até a janela para ver alguma coisa, mas a janela dava a uma mata densa. Andei me desequilibrando até a porta e comecei a esmurrar ela com a restante de força que possuía. - Tem alguém aí? - A porta foi aberta rapidamente e Ray entrou segurando uma pistola que permanecia apontada em minha direção. Levantei as mãos ao alto suspresa.

- Vai. Para fora, agora! - Ele balançou a pistola e andei até a porta. Começou a me empurrar em direção a uma escada. Descemos ela lentamente, enquanto sentia o cano da arma a minhas costas.

Quando chegamos a uma sala gigantesca e não iluminada, ele me empurrou contra umas correntes prendendo meus pulsos firmemente. Suspirou segurando a pistola e me lançando um olhar de quem está com pressa. Moveu sua mão em direção ao meu estômago me fazendo ir com tudo para frente. Por um momento me faltou o ar. Arquei o corpo para frente enquanto minhas pernas amoleceram, e cai sobre o chão com as mãos presas ao alto. E logo em seguida mais um soco seguido por um tapa. Suspirei fazendo o máximo para aguentar a dor.

- Boa morte. - Ele sorriu sarcasticamente e seus passos começaram a se afastar. Permaneci com os olhos fechados enquanto aguentava firmemente a dor. Uma mão foi colocada ao meu ombro e suspirei. Lá vem outro soco.

- Beatriz? - Abri os olhos bruscamente olhando na direção da voz.

- O-Oque você está fazendo aqui? - A pessoa sorriu amigavelmente me dando um grande abraço.




Diferente do meu Passado? ( A Rockeira e o Playboy).Where stories live. Discover now