Não consegui dormir. Minha cabeça estava cheia de ideias e pensamentos perturbados, tão perturbados, que tudo o que consegui pensar foi em como o teto do quarto parecia querer desabar a qualquer instante. Possuía fendas e rachaduras gigantes, e parecia que não possuíam fundo algum. Pareciam infinitas.
Como minha morte.
Eram cinco e vinte da manhã, quando um morcego bateu à porta de meu quarto e pediu licença ao entrar.
Um morcego.
— Parece que ainda não está pronto para o café — observou.
Batia suas asas lentamente, observando-me dos pés à cabeça.
— É... — concordei. — Parece que não.
Ele pousou em minha cama e, para meu espanto, se transformou em um humano. Em carne e osso.
— O quê? — meus olhos estavam arregalados em surpresa e pavor. — Como é possível? — perguntei.
Seus cabelos eram vermelhos como fogo, o que contrastava com sua pele branca como leite. Vestia um terno listrado — com uma gravata borboleta, verde — e sapatos sociais brilhantes. Quando levantou e deu um passo para frente, pude ver que seus olhos eram tão vermelhos quanto seus cabelos.
— Me chamo Morfus. É um prazer conhecê-lo — cumprimentou. — Se não me engano, seu nome é Jimin, não?
Gaguejei quando fui respondê-lo. — Sim, senhor — fiz uma referência.
Ele riu e negou rapidamente. — Não seja tão formal. Não sou ninguém importante.
— Ah — murmurei, concordando. — O que quer?
— Você precisa estar no salão de café-da-manhã até as seis e cinquenta — deu de ombros. — Estou aqui para guiá-lo até lá.
Concordei novamente.
— Que tal ir se arrumar, hm? — ofereceu.
Um pequeno sorriso estava estampado em seus lábios, e quando obedeci, apenas murmurou um pequeno "muito bem" e pediu que não demorasse.
[...]
Acabei vestindo um terno grande demais, roxo, e com listras pretas. Uma pequena gravata, da mesma cor e estampa, apertava meu pescoço e quase me fazia sufocar. Em meus pés, sapatos sociais pretos brilhavam, lustrosos. "Senhor Satanás não gosta quando os sapatos parecem maltrapilhos...", murmurou o homem morcego, quando os estava me entregando.
— Temos um rígido código de conduta por aqui — Morfus revelou.
Estávamos descendo uma extensa escada, que parecia não ter fim algum. As paredes de tijolos pretos eram decoradas por quadros e mais quadros; alguns, com fotos de pessoas que nunca havia visto. Outras, com fotos de paisagens mortas, como árvores sendo consumidas por lava de vulcões, ou flores murchas de sangue.
— Rubel disse que não posso sair andando, sozinho, por aí.
Morfus riu baixinho e me olhou de soslaio. — Ele disse?
Concordei. — Sim.
— Aquela gárgula anã gosta de assustar os novatos.
— Se não se importa que eu diga, eu acho que esse lugar, por si só, já é bem assustador — tentei não gaguejar, ou tremer, enquanto falava, mas acabei falhando miseravelmente.
— Eu o acho reconfortante — deu de ombros.
Terminamos as escadas e viramos em mais um corredor. Esse era totalmente vermelho, sem quadros, nem fotos. Apenas vermelho. E, conforme mais descíamos, mais quente parecia ficar.
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Nas Mãos do Diabo [1] O Maestro
Fanfiction[CONCLUÍDA, Jikook] Livro 1 da Saga Nas Mãos do Diabo. Há algo errado ocorrendo no Inferno. As gárgulas não riem mais como antes, os dragões não vestem mais ternos coloridos e listrados, os íncubos não parecem estar tão dispostos ao planejamento de...