|02| Comece a mentir de verdade

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Quando acordei, Jungkook já não estava mais deitado na cama ao meu lado, estava dormindo de cabeça para baixo na cruz invertida diante da cama, de braços cruzados e rosto pacífico. Vestia um pijama cinzento de seda e ressonava baixinho, elegante mesmo em seu sono... Era até irritante! Entretanto, vê-lo tão vulnerável daquela maneira despertou o fogo de minha curiosidade com rapidez, fazendo-a zarpar de sua caverna profunda em minha mente.

Eu queria vê-lo mais de perto.

Mordendo o lábio para não fazer barulho algum, engatinhei pela cama até a extremidade e depois deslizei até o chão como uma cobra peçonhenta em sua direção, parando apenas quando estava diante de seu rosto pálido. Então, sorri lambendo os lábios antes de sentar de pernas cruzadas como uma patética criancinha de cinco anos no ápice de sua curiosidade, cerrei os olhos e me concentrei e captar cada traço de seu rosto estúpido e bonito.

Ele não havia mudado nada...

Seu rosto continuava fininho, mesmo com as bochechas avermelhadas e patéticas, sua pele continuava tão pálida quanto antes, assim como ainda possuía as pequenas olheiras abaixo dos olhos, um grande sinal de que continuava dormindo pouco demais preocupando-se com as coisas do castelo e seus súditos. A única coisa que havia mudado era a cor de seu cabelo.

Antes de meu desaparecimento, eles eram negros... iguais aos meus.

Analisei seu par de chifres tortinhos com atenção, sentindo a ponta de meus dedos formigando para tocá-los. Eu queria segurá-los e arremessá-lo contra a parede, quebrando no mínimo uns sete ossos, mas..., mas eu não podia, ainda não.

Suspirei profundamente, mordendo a ponta da língua ao deslizar a ponta de meus dedos por sua bochecha quente, raspando minhas unhas em sua pele em direção aos lábios vermelhos e macios. Parei por um instante, de repente maravilhado pela sensação gostosa de sua boca e, em minha mente perturbada, imagens da noite passada e chuvosa surgiram como flashes cortantes. Em questão de segundos, fui capaz de lembrar de tudo, desde nossos beijos desesperados até suas mãos em minha cintura, tomando-me para si.

E a chuva continuava caindo, os trovões reverberantes eram prova disso.

Oh.

Soltei um sorrisinho, percebendo minha respiração levemente afetada e me afastei. Segundos depois, ele começou a se remexer até abrir apenas um olho lentamente, analisando o local com uma expressão extremamente séria. Depois, abriu o outro e soltou uma respiração suave, bocejando em seguida.

Afastei-me um pouco mais e observei quando deu um mortal e caiu de joelhos diante de mim, sua expressão continuava séria, entretanto, eu podia ver o pequeno início de sorriso no canto de seus lábios molhados. Ele se apoiou no chão sobre as duas mãos e arrastou-se até estar cara a cara comigo, arrancando-me um suspiro surpreso.

— Estava me olhando dormir, humano? — indagou com a voz rouca, abrindo minhas pernas para posicionar-se entre elas com as mãos em cada lado de meu quadril. — Que assustador! — soltou um risinho.

— Você... — fingi inocência, mesmo sentindo um leve rubor tomar conta de meu rosto. — Você ronca dormindo.

Ele fez uma careta horrorizada e tossiu indignado.

— Isso não é verdade, eu sou um Diabo muito educado — explicou, aproximando-se à ponto de nossos rostos estarem à centímetros de distância.

Oh...

— Desde quando? — perguntei num fio de voz, sentindo um arrepio quando se inclinou e mordeu meu lábio inferior, gemendo baixinho ao afastar-se lentamente.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora