|14| Entre na Sala Proibida

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— Você fica bonito, assim, nu sobre a areia — Jungkook murmurou me encarando com um olhar despretensioso, sossegado.

— Você nem parece real assim, na pouca luz da caverna.

Estávamos ambos deitados um muito próximo ao outro. Minha cabeça estava deitada sobre seu ombro, enquanto seus dedos faziam carinhos em meu cabelo, subindo e descendo numa lentidão calma e dolorosa. E queria que suas unhas raspassem em minha pele com força. Naquele momento, por mais calmo que estivesse diante de toda aquela situação, não pude evitar de sentir o triste e horroroso sentimento de amargura e arrependimento que surgia de várias coisas; surgia da minha vontade de não ter feito tudo o que já havia, e crescia pelo remorso de não ter procurado redenção desde cedo por todos os pecados que cometi e regras que quebrei. Pela primeira vez, a vontade de ter feito tudo diferente emergia de meu âmago como uma faca, cortando minhas vísceras e me causando dor. Pela primeira vez, não me sentia digno de estar nos braços do amor da minha vida.

Ele se remexeu e me puxou para deitar a cabeça contra seu peito, recebi seu carinho com um ar pensativo.

— No que tanto pensa? Está calado desde a terceira vez que transamos — era a quarta vez que me perguntava aquilo.

— Por nada — respondi.

Eu menti para você.

— Isso não me parece tão simples assim — afastou-se para tocar um vinco em minha testa. — Você está ranzinza de tanto pensar. Acho que consigo ouvir o barulho de seu cérebro rodando as engrenagens — sorriu. — Me diga o que tanto pensa.

— Não é nada, sério — reforcei.

Você vai me machucar quando souber.

— Tem certeza? — Indagou, desfazendo o sorriso descontraído em uma carranca de seriedade. — Geralmente, não costumo perguntar tantas vezes assim. Sou uma pessoa bastante impaciente.

— Não há nada para se preocupar, estou bem — fingi um sorriso, movendo-me para beijar seu queixo. — Só estou um pouco cansado e sonolento. Meu corpo está quente.

Você vai me matar.

— Sinto seu calor, Jimin. É gostoso — beijou minha testa. — Durma um pouco, não irei a lugar algum.

Nunca irá me perdoar.

— E os outros pecados? Eles sabem onde estamos? — Perguntei letárgico, encarando o teto escuro da caverna.

Jungkook fez algo que nunca havia o visto fazer: enrolou os dedos em um punhado de areia, fechou os olhos e a terra sobre nós começou a tremer em ondas. As paredes rangeram, as rachaduras aumentaram e as águas do lado chacoalharam agitadas. Assim que voltou a abrir os olhos, tudo parou.

— Agora ele sabe — sorriu.

Encarei-o com os olhos arregalados, estava incrédulo com o que havia acabado de presenciar.

— Você consegue se comunicar através da terra? — Indaguei surpreso.

Ele soltou uma risadinha e negou com os olhos cerrados, largando o punhado de areia para voltar a acariciar a pele de meu ombro. A expressão séria que banhava sua face escorreu para uma completamente diferente; sorridente. Por segundos, pude jurar ver seu rosto tomando uma forma distorcida e monstruosa, completamente albina, de olhos cinzentos. Tremi, tomando por instinto me afastar, mas seus braços me apertaram mais incisivamente antes de qualquer ação minha de tomar juízo. Ele me apertou e murmurou meu nome quase que em um rosnado, depois riu baixinho, como se quisesse disfarçar o lapso de identidade que havia sofrido.

— Como você ainda é um humano inocente, meu Jimin... — suas unhas rasparam levemente na pele de meu ombro, onde pude sentir, brevemente, um "x" sorrateiro sendo desenhado. —... Ainda não tem noção do que sou capaz de fazer. Agora durma, você me parece cansado demais.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora