|05| Tente negociar com a ira

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— Meu Deus! Como eu fui capaz de dizer aquilo para o próprio diabo? — já estava batendo minha testa contra a porta de meu quarto.

Era tarde ainda e eu havia optado por faltar ao almoço de adoração também, então estava morrendo de fome..., mas não iria dar o braço a torcer. Além do mais, estava apavorado e sentia que, a qualquer momento, aquele cachorro assombroso de Jungkook apareceria para me levar em direção ao seu mestre.

De novo.

Por instinto, toquei em meu peito — bem onde havia sido empalado — e suspirei, aliviado por não haver uma marca sequer.

— Você é bem corajoso, jovem Jimin... tenho que admitir — ouvi a voz de Morfus e me assustei.

Quando me virei para trás, ele estava encostado contra a parede, brincando com um palito de dentes e me olhando curiosamente, de cima para baixo.

— Ouvi dizer que até mandou Lúcifer prender Kimono com uma coleira...

— Primeiro: que susto! — coloquei a mão contra o peito novamente, sentindo as batidas aceleradas de meu coração. — Segundo: não foi bem uma ordem... e quem é Kimono?

— É o cachorrinho de estimação de Jungkook.

Kimono? — fiz uma careta. — Como um monstro daqueles pode se chamar assim?

Morfus soltou uma pequena risadinha, cruzando os braços. — Como achou que ele se chamava?

Dei de ombros, me sentando na ponta de minha cama. — Fera, talvez.

Dessa vez ele caiu em uma gargalhada. — Jimin, você tem uma imaginação maravilhosa! Mas vamos falar sério... você desafiou mesmo Jungkook?

Prendi a respiração, negando rapidamente.

— Não foi bem um desafio...

Foi?

— É o que todo mundo do inferno 'tá dizendo — comentou, olhando para as unhas.

Eu já estava queimando em arrependimento; havia tomado uma decisão impulsiva e, naquele momento, parecia que tudo estava se virando contra mim. Há pouco tempo, quando estava voltando para meu quarto, um dragonóide havia me encurralado contra a parede e me ameaçado. Disse que havia escutado minha conversa com Jungkook e que iria me arrepender se ousasse ameaça-lo novamente.

Percebi, no final, que os súditos de satã são bem mais devotos do que imaginei.

"Não irei", foi o que respondi. Sentia o suor escorrendo por minhas costas. "Foi apenas um engano".

"É bom que tenha sido mesmo..." rosnou, me largando brutalmente no chão. "Até mais, humano".

"Até...", acenei.

Forcei um sorriso até ele desaparecer de vista, depois soltei a respiração e levantei lentamente, pondo as mãos nas costas. Estava mais dolorido do que nunca.

— Não adianta se arrepender, agora — Morfus avisou assim que terminei de falar sobre o ataque que havia sofrido. — Fui bobo em não o avisar.

— Avisar sobre o quê? — perguntei, fechando minhas mãos em punhos sobre meu colo. Estavam suadas e pegajosas, fruto de meu pavor crescente.

— Que você não só caiu no inferno, mas sim no mundo da carnificina, Jimin... aqui, você não pode morrer..., mas pode sofrer.

Morfus não precisou me falar mais nada, pois imagens e mais imagens das coisas mais perversas que já fui capaz de pensar surgiram em minha mente, como facas em minhas têmporas. O inferno era um lugar de muitas regras, mas nenhuma era contra a violência. Só naquele momento, percebi que havia me metido em algo bem maior do que imaginava.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora