|15| Descubra o erro da redenção

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Consegui voltar a falar quando começamos a subir a grande colina do castelo. Antes de sairmos do primeiro círculo, um dos esqueletos de Mortícia nos abordou para entregar um pequeno vidrinho com um líquido preto e viscoso.

"Quando o sol se pôr, essa será a hora para o humano tomá-lo", avisou, colocando-o nas pequenas mãos de Mino.

Quando saímos do trem intrainfernal, Jungkook fez questão de me levar em seus braços. Sempre tentava puxar algum assunto de vez em quando, mesmo que estivesse limitado a ouvir meus resmungos de dor.

O sol estava começando a se pôr quando Mino pulou em meu peito e enfiou seu pé em minha boca — um pedido nada gentil para que eu a abrisse —, despejando aquela gosma sem gosto, contra minha vontade, goela abaixo.

— Olha para a minha cara e vê se eu pareço uma babá demônio — resmungou, pulando no ombro de Wonho, que ainda carregava Dong Han com uma cara nada boa. — Eu sou o Mino, um dos sete pecados mortais! — berrou, levantando o punho para o Céu numa pose quase heroica. — Não a porra de um babá!

— Cala a boca, anão de jardim! — Wonho esbravejou, jogando Dong Han com violência no bondinho.

— Ai! Precisava me jogar assim? — Dong Han exclamou, aproveitando para se deitar de uma vez pelo chão.

— Precisava — Wonho deu de ombros, rosnando quando Mino voltou a furar seu ombro com seu garfinho mortal. — Mino, eu juro por Lúcifer, que se você me acertar no canto certo com essa arma infernal, eu vou te socar tanto...

Mino revirou os olhos e cravou o garfinho com força em sua orelha, gargalhando quando Wonho tentou mirá-lo um soco e acabou acertando um dos suportes metálicos da cabine. Estávamos subindo com cada vez mais velocidade, graças as quatro gárgulas que puxavam o bondinho colina acima, com a ajuda de cordas.

Duas delas — as de corpos fininhos — pareciam maravilhadas por estarem servindo ao seu mestre. As outras duas — de corpos musculosos e esculturais — pareciam cansadas e suavam o tempo todo.

Pensei que Jungkook iria me colocar sentado em algum lugar do bonde quando entramos, entretanto, assim que sentou e me arrumou de uma maneira extremamente confortável em seu colo, com uma mão em minhas costas e a outra em meu peito, tive a sensação de que não me queria em lugar nenhum, além daquele.

Mesmo tentando recusar e não apreciar, acabei sentindo meu corpo inteiro esquentar ao ver que ele se mantinha concentrado no caminho, todavia, seus olhos moviam-se em minha direção e depois retornavam a mirar a paisagem todas as vezes em que percebia que também estava olhando-o.

Parecia quase tímido, não como um demônio, ou como o rei do Inferno..., mas como Jungkook, alguém que ficava acanhado raramente e, vez ou outra, demonstrava gostar de alguém.

Então, percebi: enquanto Jungkook saía do bondinho, comigo em seus braços, minha voz voltava aos poucos e, mesmo que ínfimo, um pequeno lampejo perceptivo rondou minha mente e me deixou tonto.

Além de meus antigos amigos, Hoseok e Taehyung, ele era o único que demonstrava gostar de mim... e eu já não sabia mais como lidar com aquilo.

[...]

Quando chegamos ao castelo, um alvoroço enorme começou nos portões de entrada. Os súditos de Jungkook clamavam seu nome, ansiosos para ouvir o porquê de sua ausência de quatro dias.

— Alguns contratempos no Hotel Mortal — ele falou em voz alta, e não pareceu se importar o suficiente para dar mais explicações.

O que pareceu alimentar mais ainda a chama de suas perguntas inconvenientes.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora