|13| Divida o quarto com Jungkook

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Percebi que Mortícia possuía um modo singular de andar: a cada dois passos que dava, completava com dois pulinhos na ponta dos saltos pretos. Era algo interessante de se observar, ainda mais quando ela nos deu as costas mais uma vez, se cobriu com seu capuz misterioso e começou a nos apresentar o Hotel Mortal, cantando com sua voz aveludada uma canção peculiar.

"Meu nome é Mortícia Solar, e meu hotel é de espantar! Com exatos seiscentos e sessenta e seis quartos¹, desejamos uma estadia terrível te proporcionar" — e então interrompeu a canção apenas para dar uma gargalhada estrondosa. Quando retornou à letra, um coro de esqueletos surgiu por buracos feitos nos quatros de paisagens mortas nas paredes de tijolos para acompanhá-la. — "Abrigamos anjos de todas as cores e tamanhos, não importa se são magros, gordos ou fanhos..."

"A Mrtíiiiicia!" — os esqueletos cantavam uniformemente, marchando ao seu redor.

"Grite o quanto quiser, não basta se assustar" — silabou. — "Minhas gárgulas anciãs estão prontas para te matar!".

Gritei assustado, me agarrando ao braço firme de Jungkook quando duas pequenas gárgulas fêmeas vestidas em túnicas roxas, com pequenos cetros em mãos surgiram do teto, batendo suas asinhas extremamente pequenas até estarem lado a lado com Mortícia, que saltitava e rodopiava animadamente enquanto cantava.

"Eu sou Mortene..." — cantou a da esquerda. Usava um par de óculos trincados e parecia entediada.

"Eu sou Mortana!" — cantou a da direita, tentando acompanhar os passos ávidos da Morte animada.

"Mortena e Mortana são minhas gárgulas anciãs. Uma é carrancuda..."

— Ei! — gritou Mortene, ajeitando seus óculos esfolados com uma expressão desgostosa.

Revirando os olhos, Mortícia continuou: — "A outra é boa, que terror!"

— Obrigado! — Mortana acenou para nós, e por um segundo, parecia que estava piscando um dos olhos esbugalhados em minha direção.

Me encolhi um pouco mais atrás de Jungkook, ignorando o rosnado impaciente que ele soltou quando comecei a dar beliscões nervosos em seu braço, olhando para todos os lados com um medo crescente. Não havia nada para ver, para ser sincero. Uma vez que todas as luzes haviam sido desligadas, havia apenas um holofote vermelho apontado para Mortícia e suas gárgulas anciãs. O resto era apenas o breu nivelado por um mistério sublime.

Mino havia pulado do ombro de Jungkook para o meu, e agora batia palminhas animadas enquanto apreciava o espetáculo. Nem parecia que me odiava há alguns dias atrás.

Como esses pecados são voláteis!

"Vejam meu exército de esqueletos! Eles pulam, eles dançam, eles matam, que perfeitos! Estão aqui para tornar sua viagem ainda mais perturbadora, te assustando, te cortando, olha só, mais que beleza!".

E conforme ela cantava, centenas de esqueletos começavam a aparecer em pontes e pilhas de ossos, acenando em nossa direção. Alguns tinham uma aparência medonha, com dentes afiados e buracos no crânio, mas outros — principalmente os que tinham o tamanho de Mino — pareciam até dóceis ao meu ver, mesmo que estivessem carregando adagas afiadas e brilhantes em mãos.

— Eu quero brigar! Eu quero brigar! — Mino exclamou, rebolando em meu ombro, enquanto fazia punhos cerrados com as mãos.

— Eu também! Eu também! — Wonho gritou por cima do coro de vozes esquelético, estendendo a mão para pegar Mino de meu ombro. — Vamos quebrar alguns esqueletos!

— Eles nunca conseguem se controlar... — ouvi a voz de Jennie. Ela parecia impaciente.

Gritando eufóricos, Mino e Wonho partiram para cima da montanha de esqueletos atrás de Mortícia, mergulhando e sumindo diante daquele mar de ossos. Por segundos, a música parou e até Mortícia e suas gárgulas se viraram para ver o que estava acontecendo.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora