|12| Vá para o Hotel Mortal

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Tudo o que eu havia visto no castelo de Jungkook até aquele momento não me pareceu nada comparado ao que vi quando deixamos os portões do castelo para trás. Para ser mais sincero, nada se comparava as coisas que habitavam os campos além dos portões de contenção.

Pude ver que o céu vermelho de nuvens escarlates era real quando atravessamos a ponte que ligava o castelo ao topo da colina, um céu estrelado onde nunca havia sol, apenas uma grande lua cheia amarelada. Uma estranha paisagem morta adornava os arredores, com arvores cinzentas sem folhas e restos de arbustos, assim como gravetos e pedras... pedras de todas as formas e tamanhos.

Assim que saímos, quase fui carregado por um pássaro enorme. Ele tinha um bico gigante que tomava todo o lugar de sua cabeça, e quando perguntei para Jungkook onde estavam os olhos daquela criatura, ele me disse que ela não possuía; que nenhuma criatura além do castelo possuía visão — o que não deixavam de compensar com garras, asas e caudas enormes. Não importava o que fosse, sempre haveria alguma parte de seus corpos desproporcional ao resto.

— Ai, que horror! — resmunguei com um gemido amedrontado quando vi uma espécie de lagarto sem olhos, com uma perna maior que a outra, cavando um buraco no barro mais afrente.

Estávamos descendo do topo da colina mais alta do inferno em um pequeno bonde aos pedaços, extremamente enferrujado. Todas as vezes em que as rodas completavam uma volta, ele dava um solavanco para trás e para frente, junto de um rangido que já estava para me enlouquecer.

— Ele parece com o Brou... — Gula comentou enquanto lixava as unhas despreocupadamente.

Mais à frente, Dong Han soltou um risinho. Ele comandava o bonde preguiçosamente.

— Ele até parece... — Dong Han começou, fazendo uma pausa entre uma palavra e outra. — Aquele seu bichinho... de estimação...

— Que o Wonho matou! — Mino completou abruptamente, batendo um garfo de metal contra a lataria do bonde furiosamente. — Você pensa que eu não sei, não é?

— Quem foi que abriu o bico? — Wonho rosnou, olhando para todos nós. De todos, ele era o maior e parecia irado e desconfortável pela cabine ser pequena demais para caber seu corpo.

O bonde deu mais um solavanco, dessa vez forte demais para que meus braços me segurassem no lugar. Acabei me desequilibrando e tive quase certeza de que iria cair, contudo, Jungkook foi mais rápido em me apanhar com apenas uma das mãos e me colocar em meu lugar novamente, dessa vez um pouco mais perto de seu corpo.

— Se segura em mim — sussurrou ele, baixo o suficiente para que somente eu ouvisse.

Eu poderia ter negado e tentado a sorte em meio a todos os solavancos que o pequeno bonde volta ou outra dava, entretanto, por mais embaraçado que eu estivesse por ter suas mãos em meu corpo horas atrás, meu instinto de sobrevivência — mesmo que pós-morte — ainda gritava em meu âmago para que eu não fizesse escolhas estúpidas... e naquele momento, não me segurar em Jungkook e em seu corpo firme me parecia a opção mais idiota de todas.

— Só até o bonde descer toda a colina — comentei no mesmo tom de voz, engolindo em seco assim que me aproximei o suficiente para sentir o calor emanando de seu corpo.

Ao contrário dos demais, ele não vestia uma armadura — apesar de ter posto um chapéu semelhante ao de Avareza, onde seus pequenos e tortos chifres tinham buracos especiais para não "ficarem abafados"; usava uma blusa social vermelha como os próprios olhos, com uma calça e sapatos de couro. Além disso, estava usando um sobretudo aveludado e preto, com pequenos quadrados vermelhos como estampa.

Eu estava surpreso, por que aquela era a primeira vez que via Jungkook vestido em algo que não fosse um terno colorido com estampas estranhas. O mais estranho ainda era que eu estava semelhante, porém minha blusa social era azul escura; algo que ele havia praticamente me forçado a usar, uma vez que havia me impedido de retornar ao meu quarto.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora