|15| As revelações: O veneno

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Seguimos em direção ao Salão de café-da-manhã, porém passamos direto para adentrar em um corredor mal iluminado, onde o papel de parede estava rasgado em algumas partes, como se alguém, num ímpeto de loucura, tivesse o rasgado com grandes unhas. A marca de garras era visível em todos os rasgos. Passamos por um grande quadro semelhante ao que Morfus havia pintado para mim, mas, além de anjos, uma rebelião de demônios louvava o que parecia ser um ser maior e mais poderoso. A diferença era que seus cabelos eram vermelhos e curtos como os de um militar.

Parecia que os olhos do ser poderoso estavam me seguindo durante todo o trajeto, contudo, não pude ter certeza se estavam, de fato, ou se era apenas um delírio causado pelo medo que estava sentindo.

Eu havia sido amordaçado, assim como tive os punhos atados assim que os guardas cansaram de meus arranhões e Dong Han passou a odiar o tom "esganiçado" de minha voz clemente por respostas. Estava sujeito a qualquer violência, a qualquer toque, e estava odiando.

Talvez tenham amarrado os punhos por saberem que você só pode segurar uma carta se estiver com as mãos livres, pensei, talvez só queiram pregar uma peça em você, afinal, são seus amigos há tempos e não o fariam mal algum. Não definitivamente, concluí.

Dong Han parou em um passo interrompido e seus ombros tremeram, seu pescoço torceu em um "creck" fantasmagórico e um risinho ecoou pelo corredor escuro. Ele estendeu a mão e tocou a parede, de onde uma gosma preta estava começando a escorrer, como se a própria estivesse derretendo, e seu corpo inteiro tremeu numa risada maquiavélica.

— O fim do jogo realmente começou! — Gritou eufórico.

Os guardas o acompanharam num gargalhar estrondoso, tendo os corpos contorcendo iguais ao de Dong Han. Num lapso de momento, seus rostos começaram a derreter até mostrar a arcada dentária por completo, depois os buracos das bochechas e nariz, então me largaram no chão sujo e trataram de capturar todos os pedaços de pele que haviam caído, colando-os em seus rostos sem parar de rir. Pareciam doentes.

O rosto de Dong Han virou como um parafuso, como um boneco sem ossos, e se contorceu em uma careta irada.

— Por que o largaram? Peguem-no de volta! — Esbravejou, juntando um pedaço de sua bochecha que estava escorrendo. — Não podemos fazer nada errado. Devemos seguir as ordens.

Neguei com a cabeça quando eles voltaram a me capturar pelos cotovelos, arrastando-me ao longo do corredor imundo. Tropecei contra uma pedra coberta de gosma preta, fui sacudido pelos guardas por mero capricho e tive que me encolher para atravessar uma estreita fenda, pois, quanto mais avançávamos no trajeto, mais estreito ele ficava. Segurei a respiração e fechei os olhos, atravessando a fenda, e quando voltei a abri-los, notei que havíamos deixado os guardas para trás, pois eram grandes demais para atravessar.

Dong Han agarrou meu braço e me forçou a continuar o caminho, ainda em posse de sua tocha acesa. Olhei para trás, para o chão que fazia um barulho estranho a cada passo meu, e encarei a gosma que descia pelas paredes nos acompanhando, preenchendo todo o espaço vazio que deixávamos para trás. Tentei chamar a atenção de Dong Han, mas ele estava diferente, tinha o pulso mais firme e tremia à todo instante. Forte e instável, subitamente.

O maestro é o melhor, o maior, o incrível... — começou a cantarolar, cravando as unhas em minha pele. — Ganha partidas à toda hora, é invencível! — Riu apressando o passo. — Perca o jogo, sua vida! Tão pouca... — cantou com pesar, baixando a cabeça num suspiro. — Mal sabe que está condenado à forca...

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora