|07| Estranhe o Diabo

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Aviso: esse capítulo possui cenas que podem desencadear possíveis gatilhos. Já tive problemas com elas antes, então peço que analisem bastante e interpretem o texto E O contexto.

"Durma..."

Quando retornei aos meus sentidos, estava desnorteado. Por um momento, senti que minha cabeça iria explodir de uma vez por todas, mas segundos depois, a dor evaporou surpreendentemente, e assim como minha cabeça, meu corpo inteiro parecia bem e indolor. Fora minha boca seca, nada mais parecia me incomodar.

Até abrir os olhos, pois Kimono estava bem em cima de mim, com a cabeça deitada em minha barriga e as garras cruzadas sobre meu peito, enquanto ressonava com pesados roncos monstruosos. Pensei em gritar, mas isso iria assustá-la e eu não queria ser atacado novamente, então olhei para todos os lados em busca de algo, ou alguém.

Estava assustado demais para lembrar que qualquer coisa que Kimono fizesse não me mataria de verdade, nem mesmo me causaria dor, ainda assim, não era o bastante para me acalmar.

Jungkook estava a poucos metros de distância, dormindo de cabeça para baixo em uma cruz invertida. Vestia um pijama azul escuro. Parecia até seda.

Se eu não soubesse que ele era o diabo, até pensaria que era um vampiro esquisito de cabelos roxos e pele pálida —, mas ele era o diabo, e roncava baixinho também, assim como seu animal de estimação horripilante.

Aquela situação estava ótima demais. Na verdade, estava mais para uma cilada; se eu ficasse quieto, Kimono — alguma hora — acordaria e provavelmente me rasgaria inteiro só para se exercitar. Se eu resolvesse pedir ajuda, teria que pedir para o próprio satanás.

E ele não era a pessoa que eu mais gostava naquele momento.

Kimono rosnou enquanto dormia e isso me assustou mais do que eu esperava.

Eu sabia que ela poderia acordar a qualquer instante, e também sabia que o dono dela dormia de cabeça para baixo a poucos metros de distância, mas eu não iria gritar para chamar sua atenção; isso acordaria a Fera também. Então, sorrateiramente, peguei o pequeno frasco seco de sangue de Náiade e cerrei os olhos. O que estava prestes a fazer era loucura. Uma loucura completa, mas... eu poderia lidar com Jungkook depois que ele expulsasse aquele monstro de cima de mim.

Torcendo para ter uma mira decente, estiquei o braço e joguei o frasco suavemente, com força suficiente para acertá-lo... bem na testa.

Ele não se assustou, nem fez barulho algum; apenas caiu sobre seus joelhos no chão e olhou para os lados com os olhos afiados, procurando... até que fixou seu olhar em mim e me lançou um sorrisinho malévolo, levantando elegantemente.

Foi a primeira vez que o vi em pé sem um auxílio de sua bengala.

— Vejo que acordou, Park Jimin — fez uma pequena reverência, distante demais. Porém, o brilho em seu sorriso era nítido e incandescente.

Não falei nada, apenas apontei para a grande fera deitada sobre mim, com os olhos apavorados.

Ele riu e se aproximou mais um pouco, lentamente... parecia se divertir com meu medo.

— O que deseja? — murmurou, ainda distante demais.

Ele não está fazendo isso...

Novamente, não falei nada, apenas me limitei a apontar desesperado para o maldito monstro que roncava em cima de mim.

— E o que quer que eu faça? — deu de ombros, fazendo menção em se afastar novamente.

Não gritei; na verdade, quase rosnei quando percebi seu jogo infantil.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora