|09| Fuja do Circo Infernal

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Nós...

Então, o espetáculo começou.

Diversos holofotes acenderam ao mesmo tempo, focados em apenas um ponto no alto do salão, que iluminava uma pequena janela, somente. Nele, não havia ninguém, até que, aos poucos, uma pequena linha de fita foi se arrastando pelas paredes como uma grande lagarta, subindo e subindo, até poder se segurar no parapeito da pequena janela.

E as gárgulas do coral retomaram a canção.

— "Nós temos sete tronos, e somos muito ruins. Temos até carrapatos, piolhos e cupins! A dama que está por vir é a mais linda de todo o mundo. Comanda o primeiro trono, o inferno e seus confins".

Olhei para os lados, esperando que algum dos monstros me explicasse o que estava acontecendo, mas eles pareciam maravilhados demais com o que estava acontecendo, e foi quando olhei para cima, novamente, que percebi o porquê.

A fina linha de fita se enrolava e enrolava, formando cilindros, redemoinhos e pequenos círculos, depois quadrados e triângulos, estrelas e corações, assumindo formas impossíveis de criar à mão humana. Em seguida, começou a se deformar: criou mãos, braços e pernas, pescoço e cabeça, com longos cabelos cacheados e um grande par de chifres animalescos.

Rubel zumbia por todo o salão, batendo palminhas animadas e dando gritinhos de entusiasmo. Havia um pequeno microfone cor-de-rosa e suas mãos.

— Contemplem, seus miseráveis, a luxúria! — gritou ele, chacoalhando as mãozinhas.

Como se estivesse esperando apenas ser introduzida, aquela coisa pulou da janela e caiu no chão com a ponta dos pés. Estendeu os braços, onde se formaram um longo par de luvas vermelhas, depois um lindo vestido brilhante caiu de seus seios e se estendeu até suas pernas voluptuosas, com uma vantajosa abertura entre elas.

"Seu cheiro é assombroso, seu olhar também! Está apaixonada, só não sabemos por quem..."

— Dessa pessoa, eu tenho inveja! — um íncubo interrompeu a canção com um grito, reverenciando-a de longe.

— Eu também! — uma gárgula malabarista concordou, batendo suas asinhas avidamente.

Ela riu e colocou as mãos na cintura, sorrindo com seus grandes lábios vermelhos, desfilando pelo meio da multidão.

Vários monstros tentavam tocá-la, mas sempre eram impedidos pelas gárgulas-segurança do local.

— Olá, súditos... — pronunciou de uma maneira quase manhosa, olhando para todos por detrás de seu ombro nu.

Ela subiu até o palco e acenou mais algumas vezes, depois nos deu as costas e sentou em seu trono, onde a bandeira com uma grande leoa mordendo uma maçã estava estampada no que parecia ser ouro. O primeiro trono.

— Meu satanás, meu satanás! — um dos monstros ao meu lado não parava de pular. Estava suado e olhava para cima com os olhos arregalados. — São eles, são eles!

Cruzei os braços, engolindo em seco.

— Eles quem? — perguntei.

Esperei sua resposta fielmente, contudo, as luzes voltaram a apagar e, segundos depois, os holofotes passaram a iluminar dois pontos diferentes. Duas bolas grandes e vermelhas, com brilhantes estrelas em seu centro.

Rapidamente, elas começaram a rolar por entre a multidão, atraindo gritos de encanto e exclamações de assombro entretido. Percebi que estava, realmente, em um espetáculo onde os sete pecados eram as estrelas principais.

Incluindo Jungkook.

Toquei meus lábios quentes com a ponta de meus dedos, lembrando de nosso beijo, e tentei seguir as bolas por onde elas passavam. Durante certo tempo, nada demais aconteceu; elas pararam de se mover, bem no centro de tudo, e o salão rompeu em um silêncio ensurdecedor. Todos estavam de olhos bem abertos, segurando seus sombreiros, controlando seus quadris dançantes e seus sorrisos animados — estavam esperando o próximo passo.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora