|16| Não olhe para os reflexos

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— O que está... O que está acontecendo? — perguntei, tentando me desvencilhar das amarras em que havia sido preso. — O que você está fazendo, Morfus?

Quando perguntei o porquê de ter sido chamado de Santa Casca e por que de seus olhos estarem tão diferentes, ele apenas negou com um balanço de cabeça e me pegou nos braços.

"Me larga!", eu pedia, debatendo-me em seu aperto. "Para onde está me levando?".

"Para o local onde tudo irá acontecer!", respondeu com um risinho assombroso. "O local onde você irá perceber tudo", e não falou mais nada, ignorando meus pedidos chorosos.

Estávamos em uma sala escura, iluminada parcialmente por uma única vela. Devido à escassez de luz, eu era incapaz de analisar onde e o que fazíamos ali..., mas sabia que não era coisa boa.

— Por que estou preso? — indaguei com a respiração acelerada, olhando ao redor em busca de algo que pudesse me dar uma pista de onde estávamos.

— Não é óbvio? — gritou. Só pude enxergar seu rosto risonho quando se aproximou o suficiente de mim. — Assim você não irá fugir, o que eu duvido que faça — se afastou novamente, sumindo pelo negrume do lugar. — Você está fraco, não aguentaria correr por muito tempo.

— O que vai fazer comigo? — perguntei num sussurro, tentando forçar as amarras mais uma vez.

Ele estava certo; eu estava fraco demais.

Morfus apareceu ao meu lado abruptamente, com um sorriso vitorioso nos lábios.

— Eu vou fazer você enxergar sua verdadeira forma, Jimin! — bradou, alisando a pele de meu braço esquelético. — Vou mostrar suas verdadeiras formas.

— Eu... Eu pensei que você fosse meu amigo... — murmurei, prendendo a respiração ao notá-lo se aproximando um pouco mais.

— Você pensou? — fez uma careta. — Meu trabalho não é ser seu amigo, Santa Casca...

— Por que me chama...

— .... Meu trabalho é trazer meus reis de volta à vida! — interrompeu-me com um berro, jogando as mãos para cima com nítida euforia.

— Reis? — questionei em um fio de voz, remexendo-me incomodado com seu olhar fixo em mim. — Você está louco!

— Estou? — gargalhou, sumindo no escuridão.

Quando voltou a falar, sua voz era apenas um eco retumbando pelas paredes.

— Muitos duvidaram de mim quando revelei seu propósito ao cair no inferno, Santa Casca. Disseram que eu estava ficando louco, do mesmo jeito que você acabou de pronunciar... — riu. — Mas eles estão errados e você também.

— Por que? — gaguejei, mordendo o lábio para não gritar quando ele apareceu novamente ao meu lado e segurou meu queixo brutalmente.

Com um aperto, forçou meu maxilar a se abrir e despejou um líquido verde e viscoso que desceu rasgando minha garganta.

Por que eu vou te fazer lembrar.

06 DE JUNHO DE 1999 – Terça-Feira

Caí de joelhos no chão de uma sala escura e barulhenta. Ao meu lado, Morfus flutuava de pernas cruzadas, com uma expressão pomposa no rosto.

— Onde estamos? O que está acontecendo? — perguntei, levantando-me com pressa.

Olhei ao redor, tremendo ao reconhecer o papel de parede de anjinhos inesquecível que minha mãe dizia estar naquela casa desde meu nascimento. Estávamos no corredor do segundo andar, disso eu tinha certeza, pois lembrava fielmente do quadro em que mamãe e papai se abraçavam felizes. Sozinhos.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora