|04| Seja Mal Pela Primeira Vez

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— Todos falaram de você no jantar — Morfus invadiu meu quarto, fechando a porta com um baque ensurdecedor.

Eram seis e vinte, como no dia anterior.

Abri os olhos, assustado, e quase caí da cama ao vê-lo escorado contra a parede. Vestia um terno turquesa, com listras amarelas. Sua pele branca parecia ainda mais branca ainda, e não havia luz em lugar nenhum para destacá-la. Os filmes sempre disseram que vampiros não precisam de Sol para brilhar, como no caso da Mortícia Adams.

Outros já diziam o contrário, como o triste Edward Cullen e seu corpo que só brilhava no sol.

— Edward Cullen? — perguntou, com uma careta. — Aquele cara é um otário! Caiu aqui há dois anos, depois que a própria Bella o matou. Acredita?

— Uou! — exclamei concordando, mas confuso ao mesmo tempo. — Como sabia que eu estava pensando sobre ele?

— É o meu talento — deu de ombros, com um sorriso convencido nos lábios. — Consigo ler a alma das pessoas, e isso inclui seus pensamentos.

— Por quê não me disse que estava lendo tudo o que eu pensava, ontem? — afinal, já havia passado um dia.

— Pra quê? — questionou, soprando as unhas em descaso. — Sua cabeça 'tava uma bagunça ontem. Entretanto... — ele baixou a voz e cerrou os olhos, me olhando fixamente. — Não está tão bagunçada, hoje.

Sim, não estava. Havia passado a noite inteira em claro, pensando, pensando... até minha cabeça começar a doer e eu adormecer de qualquer jeito pela cama. Eu estava no inferno, e não demoraria para minha partida ocorrer; Ruda só precisava arrumar minha redenção e minha transferência, então eu estaria livre para sempre daquele lugar asqueroso e horripilante.

Eu estava morto e não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso. Talvez... talvez já estivesse até conformado com toda a situação.

Mas havia algo que tinha me perturbado até em meus sonhos: olhos vermelhos, sangrentos e brilhantes. Os olhos de Jungkook, o próprio satanás — que havia me segurado por trás, apertado meu corpo contra o seu, soprado sua respiração quente contra meu pescoço e falado — roucamente — em meu ouvido —, estava assombrando meus sonhos de uma maneira que nunca pensei que aconteceria.

Não conto as vezes que acordei assustado, suado e.... quente.

Quente como o inferno.

"É só um sonho", pensei várias vezes, mas aquele toque de suas mãos grandes continuava arrepiando minha pele suada.

Havia algo muito errado ocorrendo comigo.

— Acho que estou mais calmo, agora — comentei, esfregando os olhos.

— Bom — ele sorri um sorriso peculiarmente bonito. — Vamos, temos que te arrumar para o café-da-manhã.

— Ah — bufei. — Eu não vou.

Seu sorriso se desfez. — Por que não?

— Não quero nem olhar para cara daquele idiota do Lúcifer de novo.

Ele riu novamente, sentando na ponta de minha cama. — Jungkook?

— Tanto faz — desviei o olhar para a parede, respirando fundo. — Só vou sair desse quarto quando Ruda, ou Rubel, aparecerem para me entregar minha Redenção.

— Você está indo contra as regras de Jungkook... — Morfus observou, passando a ponta afiada de sua unha pela cama. —... e eu não sei se te repreendo e te forço a ir, ou te dou um abraço e te deixo fazer o que quiser.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora