|06| Receba a ajuda de quem não quer

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— Ai!

— Cala a boca, humano! — um dos monstros que me arrastava mandou. Havia percebido que eram dois, no final das contas. — Ou você quer que eu arranque sua cabeça agora?

Havia batido minha cabeça em alguma coisa, porém não fazia ideia do que era.

— E pare de chorar! — o outro gritou, sua voz fantasmagórica fez meu corpo inteiro tremer.

Já havia perdido a conta do tempo em que estava sendo arrastado por aqueles brutamontes. Na verdade, não conseguia nem pensar em algo além do chão rasgando a pele de minhas costas. Já sentia meu sangue molhando tudo ao meu redor, escorrendo de meus cortes e do buraco aberto em meu peito.

Eu não podia gritar, pois se o fizesse, eles paravam e começavam a me espancar sem pena alguma. Já haviam feito isso várias vezes.

Cuspi um pouco de sangue e fechei os olhos com força, tentando prender as lágrimas grossas de desespero.

— O que querem de mim? — não consegui impedir um soluço. — O que fiz para vocês?

— Para nós? Nada... — de repente, o que me segurava largou meus pés. —..., mas você procurou encrenca com nosso mestre, e isso não vamos tolerar.

— O quê? — perguntei incrédulo.

Eles me colocaram sentado em uma cadeira pequena e desconfortável, amarraram meus pulsos e pés e, depois de uns risinhos horripilantes, tiraram o saco preto que vetou minha visão por tanto tempo.

Pisquei diversas vezes, me acostumando com a pouca luz do que parecia ser um pequeno porão. As paredes estavam descascadas e sujas de sangue e terra, perfuradas por apoiadores de grossas correntes que se estendiam por todo o chão imundo. Todo o local cheirava a tortura e temor.

Olhei para os dois dragonóides na minha frente, que me encaravam perversamente em contrapartida. Não usavam ternos coloridos e sapatos sociais brilhantes, não mais; usavam máscaras que cobriam seus rostos e grandes casacos pretos que cobriam seus corpos, mas não disfarçavam suas asas encolhidas — uma era esverdeada e escamosa, já outra era azulada e tão lisa que parecia reluzir com a pouca luz.

— Você ameaçou nosso Lúcifer! — o de asas esverdeadas gritou, me dando um soco no queixo.

Pelo nível da força, eu teria caído no chão, mas o mesmo segurou a cadeira e o outro avançou com uma faca, cravando-a em meu pescoço.

Gritei, chorando sangue pelos olhos — aqui, nós chorávamos lágrimas de sangue? — e tentei me soltar, mas eles riram e me acertaram mais golpes em sequência.

Por que não estou sentindo uma dor de partir meus ossos? Pensei assim que o azulado retirou a faca de meu pescoço e rasgou minha blusa, começando a riscar a pele de meu peito com sua ponta afiada. Ele soltou um rosnado e lambeu a lâmina, tremendo em êxtase.

— Ainda não tem gosto de medo... que pena! — reclamou, voltando a cravá-la em meu ombro. — Talvez por que você ainda não esteja sentindo muita dor.

— Me soltem! — pedi desesperado.

Observei com horror o meu próprio sangue banhando meu corpo inteiro.

— Por favor! — solucei. — Por quê...

— Calma, humano... — um deles tapou minha boca com sua mão enluvada. — Temos algo que vai fazer você querer chorar ainda mais.

Senti meu corpo inteiro tremer e fechei meus olhos. Não queria ver o que aconteceria comigo, mesmo que o barulho de ferro sendo arrastado tivesse me assustado até os ossos.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora