|16| O Apocalipse: Tânatos

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Seu sorriso despendeu de seus lábios, escorrendo junto de dois filetes de sangue que escorreram pelos cantos de sua boca

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Seu sorriso despendeu de seus lábios, escorrendo junto de dois filetes de sangue que escorreram pelos cantos de sua boca. Assim como a pele de seus braços albinos, a pele de seu rosto estava começando a derreter. Ele continuou olhando-me, alheio ao fato de que seu rosto estava desfazendo-se aos poucos, conforme o tique e o taque, vindo do único relógio que havia sobrado após o ataque do furacão, soava. Tique, taque, tique, taque. Seu tempo está acabando, Hades. Um pedaço de sua pele caiu na borda do tabuleiro e ele o encarou e rosnou, usando o lenço branco de seu paletó para limpar os restos de pele e sangue, depois o descartou. Encarou-me através do escarlate vibrante de seus olhos de águia e voltou a bater a ponta das garras na tampa da mesa e grunhiu um riso semelhante ao vibrante ronronar de um leão.

— Odeio quando as coisas ficam sujas, você não? — Perguntou com a voz macia como a nota de um piano.

Engasguei com minhas palavras e acabei soando como um animal sendo estrangulado. Àquele ponto o salgado de minhas lágrimas havia se juntado ao ácido de minha saliva, culminando em um mal-estar que estava tomando-me dos pés à cabeça. Meu corpo inteiro estava tremendo. As juntas de meus dedos e minhas mãos e minha testa e a linha de minha coluna estavam suadas. Um suor gelado de medo. Minha visão estava focada apenas nele, apesar de seu exército macabro de demônios sorridentes estar bem atrás.

Ainda não conseguia acreditar que o homem que eu conhecia há tanto tempo era, na verdade, o maestro responsável por todas as desgraças que vinham acontecendo ultimamente – apesar de que meu subconsciente tinha certeza de que ele vinha agindo há muito mais tempo – desgraças essas que pareciam servir para um único propósito: O jogo. Um jogo distorcido em que só haveria um possível vencedor diante um caminho repleto de armadilhas e gatilhos de trapaça e um final regado por perdas e desgraças. O homem que eu havia tanto amado não passava de um controlador de marionetes escondido em uma máscara de homem carinhoso e amável. O maestro havia se disfarçado de Jungkook ao mesmo tempo em que Jungkook havia se disfarçado com uma fantasia de homem galanteador. O que eu não sabia era que ele agia por um único motivo e que esse motivo não ia nada além dele mesmo.

Um maldito jogo, eles disseram, você não jogou ou apenas não lembra que jogou? Faz tento tempo...

— Eu não sei o que dizer — murmurei trêmulo. — Eu não entendo, você...

Ele estalou os dedos e a cadeira rangeu ao me arrastar para mais perto da mesa. As cordas apertaram em meus pulsos e os espinhos afundaram ainda mais em minha carne. Tremi com um gemido de dor e fitei a ponta de seu indicador raspando no vidro reluzente do tabuleiro. O tabuleiro era velho, semelhante ao da Rainha de Copas de Alice, com exceção de que suas bordas eram de madeira branca e sua superfície era banhada em um vidro arranhado, sinal de que muitas partidas já haviam sido jogadas. As peças eram novas, todavia. Peças brancas e peças pretas sem nenhum arranhão sequer. O deslizar de sua garra arranhou o vidro e o atrito reverberou cortante em meus tímpanos. Uma gota de sangue escorreu de sua boca e caiu bem em cima de um quadrado branco, ele logo limpou-a com o polegar.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora