|10| Não chore por ele: Eliel

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A Penúltima Memória:

Eliel

Em meus sonhos, Oxelfer moldava-se ao meu gosto e fazia tudo o que eu comandava pelo simples fato de pertencer a mim. Em meu sonho, Oxelfer, por ter meus cabelos brancos, minha pele pálida, meus olhos cinzentos e meus chifres animalescos, pensaria igual a mim, andaria igual a mim, falaria igual a mim. Em meus sonhos... Oxelfer não era uma decepção, pois não andava de trás para frente quando queria, não arrancava os olhos por diversão e não, absolutamente nunca, tentava pegar o que era meu.

Apenas em meu sonho.

Após a explosão de minha experiência, encarei o espelho em que havia testado minha nova mistura e cerrei os olhos ao ver um pequeno vulto branco surgindo e desaparecendo pelas extremidades da moldura, ele movia-se como um raio infernal, como uma bola em constante movimento escondida por uma fumaça cinzenta e fúnebre que fazia o espelho desfocar.

Observei o vidro embaçar completamente até não conseguir visualizar meu reflexo, limpei um pedaço do vidro com meu punho e suspirei quando, ao contrário do reflexo de meus olhos brancos, o que se revelou para mim foi um par de olhos negros opacos, fundos e assustadores. Soltei uma exclamação e dei dois passos para trás ao perceber que o espelho, pouco a pouco, desembaçava e, cada vez mais nítida revelava-se a figura de um ser semelhante a mim, porém completamente diferente ao mesmo tempo: seus olhos, cabelos, roupas eram negros, seu corpo mais magro, seus dedos mais longos, entretanto nossas expressões faciais eram exatamente iguais, o que o tornava uma cópia distorcida e peculiar de mim.

A figura tombou a cabeça para o lado curiosamente, cravando as garras no vidro do espelho como se quisesse me capturar, então cerrou os olhos de ébano e sorriu para mim. Aos poucos, seus olhos foram esbranquiçando assim como seus cabelos, sua pele, suas roupas; seu corpo ganhou mais forma, músculos, precisão. Quando percebi, havia uma cópia perfeita de mim encarando-me como se eu fosse algo novo e, de certa forma, seu novo objeto de desejo.

— Convocou-me, mestre? — perguntou pausadamente, parecia ainda se acostumar com sua voz dois tons mais grossa que a minha.

— S-Sim... — respondi hesitante, depois tossi e recuperei minha postura ditadora. — Convoquei-o para uma coisa.

Ele se agachou e me olhou dos pés à cabeça com um sorriso mínimo no canto dos lábios, depois acenou para que eu prosseguisse.

— Você deve ser, hm... Meu amigo! — ordenei.

— Amigo? — gargalhou. — Faça-me o favor! — rosnou. — Não sou demônio para essa palhaçada.

Cravei minhas garras no espelho e raspei-as pelo vidro, causando um rangido ensurdecedor, ele pôs as mãos no ouvido e soltou um grito de dor pura e latente que apreciei bastante.

— Você está aqui para fazer o que eu quiser — conclui pomposamente, afastando-me. — Sou seu mestre, deve-me devoção.

— Devoção... — resmungou levantando-se. — Não serei amigo de ninguém! Você, por acaso, tem algum problema?

Revirei os olhos e cruzei os braços.

— Estou entediado, não compreende? — perguntei baixinho. — Agora escute-me, pois tenho algumas ordens a dar.

— Pff! — sentou-se no chão, entediado, finalmente havia entendido que devia obedecer à mim.

— Quando eu libertá-lo, quero que mude sua aparência — ditei a primeira. — Se você se parecer comigo, causará confusão pelo Castelo e eu não quero que isso aconteça.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora