|11| Roube a memória dele e fuja: Samandriel

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A Última Memória:

Samandriel

Jogos à parte,

De uma mente sem forças,

Roubou-me o coração

E atirou-me à forca.

— Hades.

Era uma noite chuvosa. As gotas de sangue da chuva atingiam as janelas como pedras, com os trovões preenchendo o vazio hesitante no castelo com pancadas violentas e brutais.

No salão de festas, os monstros se reuniam pouco a pouco diante do altar dos Sete Tronos Mortais, confusos, intrigados e temerosos. Algo estava acontecendo. Eles não sabiam o que era exatamente, mas sabiam que o castelo de Lúcifer já não era o mesmo, que não possuía a mesma monstruosidade animalesca, a sede fervorosa pelo caos e a adoração matinal que tanto ansiavam.

O Rei do Inferno havia desaparecido.

No começo daquele dia, não desconfiaram tanto. Acharam que havia embarcado em mais uma de suas loucas viagens pelos Círculos Infernais ou que havia ido visitar Srta. Morte e seus esqueletos dançantes, até pensaram que estava na entrada infernal tentando pela milésima vez adentrar o mundo dos mortais, mas... Depois de um tempo, acabaram percebendo que algo muito mais sério poderia estar acontecendo.

Não somente eles, mas os Pecados Mortais começaram a desconfiar também. Contudo, quando perceberam, já parecia ser tarde demais.

Porque eu havia chegado.

Ajoelho-me diante do mar de sangue que causei e seguro o rosto trêmulo de Jungkook com ambas as mãos, depois ofereço-lhe um pequeno sorriso de consolo por sua brava tentativa de me destruir. Ele parecia tão pequeno naquele momento, tão inseguro e vulnerável, exatamente como eu havia imaginado. Ao seu lado, uma pequena carta formou-se a partir da poeira ao redor e fez-se deliciosamente encantadora diante de mim... diante de nós.

— Você estava me perseguindo, Jungkook... — revelei acariciando suas bochechas com leveza.

— Eu estava? — Indagou completamente perdido. — Quem é você? — Voltou a perguntar.

Já era a quinta vez que me perguntava a mesma coisa.

Sorri em escárnio e forcei a ponta da unha de meu indicador contra a pele machucada de sua bochecha, forçando-o a levantar com um grito para, enfim, olhar a bela pintura que eu havia acabado de completar: metade de seus súditos estavam mortos, a outra estava amarrada por correntes enquanto esperavam a vez. Ao nosso redor formava-se um lindo círculo feito do sangue de minhas vítimas. Um círculo marcado e perfeito no centro do Salão Principal do Castelo.

— Preste bem atenção, pois irei falar apenas uma vez... — ordenei entredentes. — Tive o pequeno privilégio de possuir vários nomes e, além deles, várias personalidades memoráveis adjuntas... — revelei-o lentamente, observando a curiosidade e o ceticismo banhando seus olhos vermelhos como mel. — ...Não pense em mim como vários; pense em mim como um todo. — Dei de ombros. — Felizinho e Estressadão costumavam dizer que eu tinha algum transtorno de personalidades, mas não gosto de pensar dessa forma... pense nisso como uma... Como uma válvula de escape — enfiei meu polegar mais fundo em seu rosto, soltando um risinho quando suas mãos agarraram meu pulso numa tentativa falha de me afastar, contudo, já estava fraco demais para tal coisa. — Quando um não sabia lidar com a situação, outro aparecia.

— Isso não pode ser real... — resmungou sem fôlego.

— Pense comigo — então lentamente comecei a introduzir memórias antigas em sua mente, desde o tempo em que nos conhecemos em meu terrível julgamento. — Antes mesmo de nos encontrarmos, eu era Horácio, o tristonho, mas, assim que pus os pés no Salão de Julgamento no dia de minha sentença, senti que não aguentaria e que não queria mais ser aquele demônio tristonho e miserável... — respirei fundo, inserindo a memória em que ele me julgava e me humilhava na frente de todos. — ...eu queria ser mais, eu queria ser alguém... então tornei-me Adiv.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora