NAS MÃOS DO MAESTRO
INTERLÚDIO
O Jogo
A peça se moveu lentamente, sob os olhos de todos, manuseada pelas mãos calejadas do oponente enganador concentrado. O atrito com o tabuleiro arranhou o ar e retumbou no quarto como uma pequena agulha raspando em uma mesa de vidro. O adversário irritado estava suando e temia pelo pior, não por apenas perder o jogo, mas ter que pagar o preço de sua perda. Assim que a peça parou no quadrado escolhido, o oponente enganador juntou as mãos presas ao queixo e esperou pela reação do adversário irritado. Finalmente, depois de várias e várias partidas empatadas, teria sua vitória e seu prêmio final.
Ele teria seu Reino de volta.
— Eu não acredito que você vai ganhar... — o adversário furioso soou ainda mais irritado. — Não acredito!
— Não seja tão ruim consigo mesmo, apenas aceite que está perdendo — disse o demônio enganador, mordendo o lábio em empolgação. Não conseguia evitar transparecer sua animação diante a vitória iminente, mesmo estando preso por correntes e algemas grossas e pesadas.
— Eu não estou perdendo, você está trapaceando! — Gritou o adversário em fúria.
— Estou? — Indagou o oponente, estendendo as mãos algemadas e inválidas pelo cárcere para ele ver. Não era possível que estivesse trapaceando.
O que os olhos não veem, o coração não sente, pensou ele, galante, escondendo seu ódio atrás de um sorriso convencido.
Irritado e, no fundo, por mais que não quisesse aceitar, temeroso, o adversário moveu seu rei uma casa adiante e suspirou quando o oponente trapaceiro o derrubou com sua rainha sanguinária. Imediatamente, as correntes que prendiam o preso se desfizeram e ele se esticou em liberdade, levantando-se de sua cadeira para estralar as juntas das mãos e do pescoço como se estivesse dentro de uma caixa há séculos.
— Você veio lentamente, demônio enganador, muito lentamente ao meu reino. Eu não tinha percebido qual era o seu verdadeiro desejo, mas agora vejo...
— Vê? — O oponente indagou com um semblante sério, porém duplamente convencido.
Ao redor, a tinta vermelha das paredes começou a descascar, formando uma espécie de gosma negra semelhante a petróleo, descendo e descendo, do teto ao chão. O adversário encarou a palma das mãos e soltou um som horrorizado ao vê-las descascando da mesma maneira, ao mesmo momento em que a gosma preta começava a consumi-lo. Entretanto, antes de ter a mão inteira coberta, o demônio vencedor estalou os dedos e o liquido se dissipou, assim como as mãos do perdedor voltaram ao normal.
— Nossa partida demorou séculos para ser finalizada — começou. — Você é um oponente páreo a mim, então iremos jogar por mais tempo.
— Mas...
O demônio enganador montou sobre ele, escalando com os pés em seus quadris e as mãos em seu rosto, calando-o imediatamente.
— E o jogo será lento... — avisou. —... muito, muito lento.
Foi quando a Profecia teve seu início.
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Nas Mãos do Diabo [1] O Maestro
Fanfiction[CONCLUÍDA, Jikook] Livro 1 da Saga Nas Mãos do Diabo. Há algo errado ocorrendo no Inferno. As gárgulas não riem mais como antes, os dragões não vestem mais ternos coloridos e listrados, os íncubos não parecem estar tão dispostos ao planejamento de...