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Pessoas não crescem da noite para o dia, como algumas flores. Elas crescem como o passar da lua e das estações, lenta e progressivamente. Como o sol, que tomba para um dos lados durante o inverno.

É preciso observar com atenção as sombras para perceber que o sol muda de posição. A mudança das estações é muito natural, e, ainda assim, poucas pessoas percebem os sutis detalhes que a desencadeiam.

Pessoas crescem assim, menos de um milímetro por noite, menos de um fio de cabelo por dia, até que sejam irreconhecíveis.

Eu cresci somente com minha mãe por companhia, e talvez por isso o único detalhe de meu crescimento que pude notar foi minha sombra, cada vez mais distante de meus pés.

Será que é assim para todos? Nós só sabemos que crescemos porque nossa escuridão também cresce? Meu verão deve ter acabado faz algum tempo, então, porque minha sombra tem crescido exponencialmente.

Conchas também não crescem da noite para o dia, elas simplesmente existem em seu tamanho real. Os bichos da praia trocam das menores para as maiores, mas nunca vi qual dos bichos fez a concha. Ela sempre esteve lá, presença eterna e imortal. Por isso as conchas me fascinavam.

Eu poderia trocar para conchas cada vez mais amplas, e ainda assim nunca seria capaz de fabricar minha própria. Eu estaria me protegendo sob algo que outros criaram, principalmente sob algo que homens criaram, porque homens são especialistas em criarem conchas para esconderem mulheres. E a concha sob a qual Pandora se escondeu recebeu o título de Sacerdote.

Essa concha foi formada lentamente através dos eventos de minha vida. A primeira estrutura pétrea, porém, veio na forma de uma simples frase:

- Suba na moto. Não tenho o dia todo para perder com você.

Ele estava sério, seus olhos encobertos pelas espessas lentes escuras que usava. Eu observava sua barba dura, saltando como espinheiros de sua pele acidentada. Era assim que eram os homens?

- Eu não vou repetir, garota. Suba logo, ou eu terei que ir até aí pegar você.

- Mãe?

- Sua mãe virá depois, eu já te disse um milhão de vezes. Você não sabe falar nada além disso?

- Mãe? – repeti, olhando para trás, onde nossa pequena cabana de madeira se mantinha firme contra o vento que erguia as ondas.

Ele resmungou com irritação e se levantou da moto, avançando sobre mim e me erguendo do chão.

- Está vendo só o que acontece quando alguém cresce no meio da selva como você? Se torna um macaco que mal sabe balbuciar meia dúzia de palavras. Para sua sorte, você não vai precisar falar muito no lugar para onde vamos. Mas se puder me obedecer, já seria uma grande coisa. Não me obrigue a usar a força para te fazer obedecer, menina, seria um equilíbrio de poder muito injusto para o seu lado.

Ele me posicionou sobre o assento traseiro.

- Não solte as mãos de mim. Espero que saiba obedecer isso, ou então vai acabar perdida no meio do mato. Você consegue entender?

Sacudi a cabeça, sem tirar os olhos da cabana.

- Não quero sem minha mãe. – murmurei.

- Sua mãe vai chegar dois dias depois que nós. Fique tranquila, já está tudo acertado para ela. Mandarei alguém vir buscá-la assim que chegarmos ao Palácio. Se formos rápidos, estaremos lá antes da noite. Agora comporte-se e seja uma boa menina, sim?

- Mãe? – sussurrei, observando a cabana que se afastava de mim.

- Mãe? – sussurrei, observando a cabana que se afastava de mim

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Pandora (COMPLETO) - Livro III - Trilogia DantálionDonde viven las historias. Descúbrelo ahora