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- Ótimas! Estou ótima! Não poderia estar melhor! – ela ri histericamente – Acabei de levar um tiro na garganta, sofrer uma emboscada e ser sequestrada pelos Surdos depois de fugir da cidade no meio de um tiroteio, e agora, para melhorar a noite, tenho de dizer olá para o cretino do meu pai que me abandonou há mais de doze anos! Estou ótima! E você, como está?!

- Estou feliz que esteja segura.

- Que maravilha! Resolveu se importar com minha segurança só depois de me fazer passar a vida inteira como refém de um assassino?! Você sabia que ele matou minha mãe? Você sabia que ela estaria viva agora, se você estivesse lá para proteger sua família?!

- Pandora, por favor, eu não tinha ideia que ele faria isso. Eu pensei que ela fosse vir com você. Eu jamais deixaria acontecer se eu soubesse que...

- Ah, então você sabia?! – grita, sua voz desafinada transparecendo seu ódio – Você sabia que ele iria me buscar? E não fez nada para impedir? Você deixou que ele me trouxesse até aqui?! Eu não acredito! Você fez parte disso, o tempo todo?! Você é o homem mais nojento que eu já conheci em toda minha vida!

Helena mal respira, movendo os olhos de um ao outro, indecisa se deveria interferir no rumo da discussão desenfreada ou se deveria aproveitar a oportunidade para desaparecer entre as árvores.

Lúcio parece ler seus pensamentos, virando-se para ela no momento em que começava a erguer a perna para se afastar.

- Você não pense que vai a lugar algum, Helena. Se correr eu vou atrás de você, e juro que não vai gostar.

- Que cavalheiro. Abandonando a própria filha e agora ameaçando mulheres com a metade de sua idade... Os boatos sobre você não mentem, aparentemente.

- Cale a boca, sua traidora. A conversa ainda não chegou aí.

Pandora está de pé, segurando uma pedra numa das mãos, encarando-a com uma expressão selvagem e descontrolada. Pelo visto, reencontrar o pai foi a última gota para que todo seu ódio reprimido viesse à tona.

- Escute... – Lúcio aperta os dedos ao redor da ponte do nariz, tentando retomar a concentração – Muitas coisas aconteceram, muitas coisas saíram de meu controle, e eu sinto muito. Estou tentando corrigi-las agora. Preciso de sua ajuda, e preciso de sua compreensão. Você poderia pelo menos me ouvir?

Pandora cruza os braços, batendo um dos pés com impaciência.

- O que faremos com ela? – questiona, apontando o queixo na direção de Helena.

- Eu preciso conversar com ela também.

- Conversar?! Ela atirou na minha boca pra me matar!

- Mas você não morreu. Fim da história.

- Isso não importa! Ela tentou me matar! Você não tem nada a dizer a respeito?!

- E o que vai fazer com ela? – Lúcio a encara nos olhos como nunca a encarou durante todo o tempo em que conviveram na mesma casa. Não eram mais um adulto e uma criança. Eram dois adultos. Dois adultos que mal se conheciam e que haviam acabado de passar por um dos momentos mais traumáticos de suas vidas – Vai mandá-la para a guilhotina? É isso que quer fazer? Vai ficar satisfeita se ela morrer na sua frente? Se é isso que você quer, eu posso te dar as balas e você mesma faz. O que acha?

- É claro que não!

- Então pare de acusá-la se não tem coragem para puni-la.

Seu olhar severo percorre a distância entre as duas, sem demonstrar qualquer predileção pela filha. Pandora arremessa sua pedra para longe, ouvindo-a afundar no rio. Lúcio estava de volta, e ainda assim ela continuava sem um pai. Seria melhor que ele tivesse morrido.

- Ninguém aqui é inocente, e vocês duas sabem disso. Não estou dizendo o que devem fazer porque sou melhor que vocês, estou dizendo o que devem fazer justamente porque já cometi tantos erros que me cansei de ver os outros errarem.Vocês duas estão incomodadas por questões pessoais? Resolvam! Agradeçam que vocês podem resolver. Agradeçam que vocês têm essa chance. Estão vivas, e se depender de mim continuarão vivas até o nascer do sol. Vocês voltaram até aqui porque decidiram lutar por esta cidade, e eu honrarei sua decisão, e farei com que esta noite seja a última. Nesta noite, nós daremos um fim ao pesadelo que é este lugar. Hoje nós terminamos o que foi iniciado há tanto tempo, e por isso eu conto com a ajuda de vocês. E por isso eu peço que coloquem suas diferenças de lado e passem por cima de suas mágoas. Ninguém está aqui para ser amigo de ninguém. Estamos aqui porque precisamos uns dos outros. Será que vocês podem colaborar?

 Será que vocês podem colaborar?

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Pandora (COMPLETO) - Livro III - Trilogia DantálionWhere stories live. Discover now