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- Este é o Templo, - Camilo apontou um dos braços na direção das paredes de mármore – o seu Templo, senhor Sacerdote.

Apertei os olhos para a construção gigantesca. Como eu tinha desconfiado antes, as paredes realmente estavam cheias de frases de ódio. As letras mal escritas e desbotadas eram difíceis de ler, mas uma única frase, pintada em vermelho-sangue que escorria quase pela lateral inteira, surgiu diante de meus olhos com clareza:

MORTE AOS SACERDOTES.

As outras eram impossíveis de ler, algumas escritas pela metade, outras escondidas sob o negrume deixado por incêndios. Um dos cantos do Templo estava lascado, um buraco do tamanho de minha cabeça mostrando dentes azuis e afiados.

- Quer dar uma conferida dentro?

Eu levantei o rosto para olhar em seus olhos. Ele não estava brincando, aparentemente. Voltei a olhar para o Templo, sem ter certeza se sairia viva ao entrar ali, naquele abatedouro de Sacerdotes.

- Não se preocupe, os corpos não estão mais lá.

Virei para encará-lo mais uma vez. Minha certeza sobre não voltar viva havia acabado de aumentar.

Ele sorriu, compreendendo a pergunta que eu fazia em silêncio. Coçando a nuca, retomou a gravidade de sua voz:

- Os corpos das vítimas de seu pai, claro. Ele não deve ter te contado essa parte da história, eu suponho...

As portas do Templo me encaravam com ameaça conforme nos aproximamos. Atravessá-las não seria apenas entrar num lugar perigoso, seria entrar numa parte de minhas origens que provavelmente eu não gostaria de ver.

- Seu pai foi um assassino, senhor. Um assassino violento e descontrolado. Ele matou o próprio pai, e depois o Auxiliador da Justiça, além de outras pessoas que entraram no caminho dele.

Camilo tocou a mão em meu ombro, apertando com firmeza. Eu tinha medo do rosto de meu pai, e tinha medo de seus gritos de terror, mas jamais havia dado ouvidos para aquela voz que sussurrava em mim quando ele estava por perto, a voz que me dizia que ele era perigoso.

- Mas o passado está enterrado, seja lá onde for. – ele soltou o ar esfumaçado num início de risada – Seu pai foi um criminoso sem escalas, mas você, pequeno Sacerdote, tem agora a chance de consertar os estragos que ele causou. É por isso que estamos aqui, para restaurar a ordem.

Eu observei os homens que nos guardavam, gigantes perto de minha altura na época, com armas enormes descansando nas mãos. Era por causa deles que Camilo se referia a mim no masculino, provavelmente.

Me enrolei na túnica larga que ele me deu, escondendo o máximo que pude de meu rosto, enquanto apertava os olhos em silêncio, distinguindo o Templo destruído que começava a refletir os primeiros raios de sol, distinguindo a fumaça cinza que se erguia de alguns pontos afastados da cidade, distinguindo o vazio da vida nos intervalos calados entre o esmagar de rochas sob botinas militares que caminhavam pelo centro.

A minha cidade. O meu exército. O meu templo.

Em breve eu estaria no controle de tudo aquilo.

Minha dúvida, porém, era como poderia controlar coisas tão maiores do que eu. Meus dedos pequenos seriam capazes de conter ou pressionar os gatilhos dos soldados? De restaurar o Templo? De segurar uma cidade no meio de uma guerra civil? De reconectar a ponte invisível entre criminosos rebeldes que se recusavam a ouvir e a Voz?

Era assim, pai, que você se sentia quando estava aqui?

Era assim, pai, que você se sentia quando estava aqui?

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Pandora (COMPLETO) - Livro III - Trilogia DantálionDonde viven las historias. Descúbrelo ahora