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- Podemos agora discutir nossas táticas?

Malphas estende uma coberta sobre o chão, colocando algumas frutas, legumes, cereais e pães à disposição de todos. Helena enche os punhos com uma porção generosa de castanhas e mastiga ruidosamente.

- Quer? – oferece a Pandora, que a observa com desgosto – Isso aqui é ótimo para dar energia, sabia? Se quiser matar alguém e não morrer, é melhor aproveitar. Pode ser nossa última refeição juntas.

- Você não faz ideia de como eu espero que seja verdade...

- A ideia é expor Camilo dentro da Ordem dos Surdos, já que, aparentemente, nenhum deles sabe que ele participa de suas reuniões. – Malphas esfrega uma lâmina num afiador de pedra portátil – Como expô-lo, é o problema. Obviamente ele adotou um nome novo e mantém sigilo absoluto. Mas ainda assim temos uma vantagem. Ele vai exibir certa autoridade a partir de agora.

- Como vocês podem ter participado das reuniões por tanto tempo e ainda assim não terem descoberto nada?

- Não é tão simples quanto você pensa, impostora. Eu estive lá esse tempo todo e não fazia ideia de que os três aqui tinham seus segredinhos.

- Helena estava em desvantagem, na realidade. – Lúcio assume o turno – É a única que tem o rosto e o nome revelados, por razões óbvias. Mas até mesmo esse detalhe é interessante, já que ela será a última suspeita de todos.

- Desmascarar Camilo não será fácil. – Malphas analisa a superfície fosca de sua arma – Precisamos colocá-lo em xeque num momento de distração. Para isso, porém, teremos que driblar suas defesas e tocar aquilo que é o mais importante para ele...

- O Palácio. – Helena acena com o queixo, pensativa.

- Exato. Se atacarmos o Palácio simultaneamente a uma reunião dos Surdos, ele não terá controle. – Lúcio sorri, saboreando sua própria engenhosidade – E então, quando ele descobrir, estará desesperado demais para se esconder. Nós o pressionaremos nesse instante, diante dos Surdos. Daremos a entender que sabemos quem ele é, e ofereceremos uma rendição.

- Falsa, é claro. – Bruno limpa a garganta, de braços cruzados contra a parede – Aquele desgraçado merece morrer do pior jeito possível.

- Isso ainda está muito vago. Como farão para ele saber que atacaram o Palácio?

- Faremos, Helena. Pare de se excluir. E isso é simples, usaremos câmeras para transmitir as cenas.

Pandora tosse, passando os olhos pelos rostos inexpressivos à sua volta.

- Que cenas?

- Seu pai não te contou? – Bruno ri com malícia – Ele pretende explodir o Palácio com todos os seus habitantes dentro. Eu pessoalmente adorei a ideia. Aquilo vai arder como uma festa de ano-novo. Será lindo.

- Aliás, é melhor ninguém fumar aqui.

Malphas ergue um tecido na lateral, revelando caixas transbordando de explosivos.

Pandora enrijece, sentindo as extremidades gelarem. Repentinamente, o grupo de pessoas ao seu redor parece um retrato bizarro de uma história de terror, seus olhos vazios e insanos, suas mentes se divertindo com cenas violentas e descontroladas. A pilha de explosivos ao seu lado a faz ter a súbita certeza de que não sairá viva daquela noite.

São todos suicidas, pensa com horror, buscando os olhos sádicos de Helena. São todos suicidas, e estão me arrastando com eles para um atentado terrorista.

- Quem vai revelar Camilo, se vocês vão explodir o Palácio? Eu sou boa com um revólver, mas não faço ideia de como manipular uma bomba.

- Fiquem tranquilas, senhoritas. Nós dois cuidaremos da parte suja. – Bruno continua a rir – Vocês se passarão por nós e irão com Malphas para a reunião. É conveniente que Helena se passe por Lúcio, já que está mancando da mesma perna. Quanto a você, Sacerdotisa, - ele dispara os olhos maliciosos para Pandora – é bom aprender comigo.

- Contamos com você, Helena, para pressioná-lo psicologicamente. Você acha que consegue?

- De olhos vendados. Eu passei muito tempo com ele no Palácio pra conhecer seu ego. E que ego! Até uma faísca faria aquilo virar pó.

- Muito bem. – Malphas embrulha o que restou da comida – Agora procurem cada um um canto para dormir e tentem descansar ao máximo. Amanhã acertaremos os detalhes e iniciaremos a ação. Lúcio, pare de ser implicante e dê um analgésico logo para a garota. Eu consigo sentir a dor dela daqui.

 Eu consigo sentir a dor dela daqui

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Pandora (COMPLETO) - Livro III - Trilogia DantálionWhere stories live. Discover now