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- Helena, precisamos conversar.

- Quem diria, já está no meu horário de visitas?!

Ela ri com os dentes à mostra, erguendo o rosto vermelho do chão.

Ao que parece, estava fazendo exercícios, braços e pescoço úmidos de suor, o calor de fornalha espalhando-se pelo quarto inteiro.

- Está olhando o quê, impostora? Acha que sou muito gorda pra ser forte?

- Eu não disse isso.

- Mas estava pensando.

- Eu não...

- A verdade é que você não precisa ser um palito para conseguir correr rápido. – ela interrompe, acertando um tapa no peito de Pandora, que dá um passo atrás para não perder o equilíbrio – Muito pelo contrário, você não duraria dez segundos comigo. Isso é péssimo para alguém que está sofrendo ameaças de morte.

- É sobre isso que vim conversar.

Helena senta num canto do chão, puxando o maço de cigarros do bolso.

- Alguém resolveu cair na real sobre a própria segurança? – resmunga, as consoantes se enrolando enquanto segura o cigarro entre os dentes para aproximar o isqueiro.

- Eu acho que Camilo está mentindo. – Pandora dobra os joelhos para ficar na mesma altura.

- Descobriu a América, Einstein?

- Acho que não foi Einstein quem descobriu a América.

- Tanto faz. Tudo que eles fizeram deu em merda, de qualquer jeito...

- Helena...

- Está bem, continue. Camilo está mentindo. Então você resolveu procurar minha ajuda?

- Eu não quero pedir sua ajuda.

- Não quer, mas precisa. Eu já entendi, garota-garoto. Você me odeia, mas no momento eu sou a única arma que você tem na mão, então vai cumprir seu papel de bom homem e me usar, depois de me obrigar a passar um dia inteiro trancada num quarto. Parabéns, impostora. Você está melhorando sua atuação. É quase um homem perfeito agora.

Pandora leva as mãos ao rosto, suspirando com raiva.

- Você quer conversar comigo, não quer? – Helena empurra o maço para ela - Lembra da minha condição? Sente aí como um bom garoto, mande um pouco de fumaça para acalmar seu peito, e então você me diz o que está torturando esse seu rostinho lindo de projeto de homem mal feito.

Ela obedece, sentando à frente da outra e acendendo um cigarro sem esconder a irritação.

- O bilhete me disse para confiar em você. Eu quero entender por quê.

- O bilhete não disse nada, impostora. O bilhete foi escrito por alguém, e se quer saber o motivo, provavelmente devíamos começar por tentar descobrir quem é esse Cérbero. Nome horrível, aliás...

- Meu nome é Pandora. – rompe.

- Eu estava falando do Cérbero, não do seu nome.

- Eu disse que meu nome é Pandora. – fixa os olhos nos de Helena – Pare de me chamar de impostora, de Sacerdote, de garoto, ou do que quer que seja. Meu nome é Pandora.

Helena bate seu cigarro algumas vezes, jogando cinzas sobre o chão.

- Pandora é um nome tão ruim quanto Cérbero. – comenta – De onde surgiram tantas pessoas com péssima criatividade para nomes ao mesmo tempo?

Pandora (COMPLETO) - Livro III - Trilogia DantálionWhere stories live. Discover now