Anos após a fracassada Revolução Surda, a filha de Lúcio é trazida ao Palácio para assumir seu lugar como Sacerdote, numa tentativa de conter a violenta guerra civil entre Surdos e Reformadores.
O problema é que mulheres não podem ser Sacerdotes, e...
Perto do trecho de mata fechada onde Camilo escondia a moto, Helena espera, sentada sobre o veículo, acelerando freneticamente.
- Pegue isso e atire neles assim que aparecerem! - ela lhe arremessa uma arma – Eles também estão com rodas.
Pandora erra o cálculo da distância e deixa a pistola cair aos seus pés, abaixando-se desajeitadamente para pegar. O metal não pesa muito, mas sua frieza penetra por seus dedos.
- Eu não vou conseguir! – diz, pressionando o metal prateado contra as palmas das mãos suadas.
- Vai rápido! Suba! Precisamos correr!
Pandora salta sobre a moto. Mal havia tocado o assento quando Helena já dispara, os pneus derrapando e guinchando contra o solo úmido da floresta, jorrando um jato de lama e folhas mortas para trás.
- Vire de lado e segure em mim! – grita a ruiva, o vento quase matando sua voz – Mire para trás e atire assim que eles aparecerem! Você tem dez balas aí, deve ser o bastante pra desistirem!
- Helena, eu não posso fazer isso!
- Agora!
O som de outro motor se aproxima, a silhueta escura correndo com velocidade atrás das folhas verdes.
- Atire nele! Agora!
- Eu não consigo!
- Pandora! Se você não atirar nós vamos morrer!
- Faça isso você!
- Eu estou pilotando!
- Por favor, não me obrigue a...
- Agora, merda!
Lascas de madeira voam sobre ambas quando uma bala atravessa uma árvore próxima.
- Estoure a cabeça dele, Pandora, ou ele vai estourar a sua!
Mantendo uma mão presa aos ferros da moto para não cair, Pandora ergue a outra mão, sacudida pelos solavancos dos pneus atravessando raízes e pedras, e dispara uma única vez contra o vulto desfocado que as segue. O projétil se perde.
- Acertou?
- Não!
- Mas que merda! Ele está tão perto! Como você conseguiu errar?!
- Eu não consigo, Helena!
- Sua imbecil inútil!
Sem reduzir a velocidade, Helena tomba a moto, espinhos e galhos rasgando os braços das duas conforme rolam sobre o chão. Ela arranca a pistola das mãos de Pandora, saltando para ficar em pé.
Helena se mantém imóvel, respirando pesadamente, segurando a arma com as duas mãos na direção por onde o som se aproxima.
Quando a moto inimiga entra em seu campo de visão, ela dispara calmamente. O veículo vazio passa voando ao seu lado alguns segundos depois, o piloto caído a vários metros.
Ela abaixa a arma e ergue a moto em que estavam do chão, chutando-a para ganhar impulso.
- Você pilota então. Eu atiro.
Pandora, já de pé, olha com terror para os controles do veículo.
- Eu não...
- Cale a boca, está ouvindo?! – Helena a puxa pelo cabelo, notando rapidamente a ausência de suas roupas – Você não sabe fazer merda nenhuma, eu sei! Mas preciso que você saiba agora! Eu preciso de sua ajuda! Agora sente naquela merda e faça tudo que eu mandar, entendeu?! Se você me desobedecer eu mesma vou dar um tiro na sua cabeça! Eu quero sair daqui viva, e não vou levar um peso morto comigo!
Sem coragem para responder, Pandora se posiciona, apertando as barras entre os dedos molhados de suor e barro.
- É uma moto automática. Até uma criança consegue pilotar.
- Como eu acelero?
- Gire o lado direito. O freio é essa alavanca. Desviar é intuitivo. Você não precisa de marchas. Só nos faça correr e não me deixe cair, entendeu?! Cuidado com raízes e buracos.
- Entendi!
Ela acelera assim que sente o peso de Helena se equilibrar atrás de si. Seus olhos se concentram no percurso, tentando desviar de obstáculos enquanto os sons dos tiros de Helena se perdem pela floresta.
- Para onde devo ir?!
- Pra qualquer lugar. Pegue a estrada. Vamos sair dessa porcaria.
Ela prossegue, sentindo o vento arder em seus olhose tentando ignorar os cadáveres caindo atrás de si.
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