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- Tem certeza que pegou tudo de que vai precisar?

- Tenho.

- Ótimo. Vamos aproveitar que ainda está claro pra trocar de roupa. Eu trouxe algumas de reserva. Pegue.

Helena lhe estende uma sacola.

Pandora a abre com curiosidade, retirando algumas peças de tecidos escuros e finos idênticos aos que Helena veste.

- Por que você não me disse antes que tinha roupas de sobra? Eu passei frio até agora.

Helena retorce os lábios, constrangida demais para se explicar. Nem seria necessário. Era evidente que escondeu as roupas porque não pretendia continuar ao seu lado por muito tempo.

Espiã. Agente dupla. Mercenária. Assassina. Mentirosa. Egoísta...

Ela realmente não estava pondo muito esforço em transmitir a impressão de bom-caratismo.

- Por que está fazendo isso por mim? – Pandora questiona enquanto veste desajeitadamente as peças que recebeu, saltando sobre uma das pernas – Por que está me dando isso, e correndo riscos por minha causa? Sua missão não era me eliminar? Por que está me levando de volta, se isso vai te trazer mais problemas? O que te fez mudar tanto de ideia sobre mim?

- Você me fez perceber coisas diferentes. – Helena fecha o zíper de sua jaqueta, sua pele desaparecendo completamente sob o tecido – Me fez perceber que, além de todas as coisas que nos separam, existe uma única coisa que nos une.

- E suponho que não seja o sagrado matrimônio.

- Não. – ri – Algo muito mais antigo que isso.

- E que é...?

Helena desembrulha a adaga que havia tomado para si, estendendo-a para Pandora.

- Enquanto nós não aprendermos a nos unir, os homens sempre triunfarão sobre nós. Sejam Auxiliadores, Surdos, nossos pais ou nossos maridos, tudo aquilo que nos disseram sobre o mundo e sobre nós mesmas. Enquanto nós estivermos escondidas debaixo das roupas que nos obrigam a usar, eles vão sempre vencer, e vão sempre criar suas ditaduras. Nós devíamos parar de perder tempo lutando uma contra a outra enquanto temos inimigos comuns. Com Surdos ou sem Surdos, Camilo já abusou demais da situação. Eu proponho um pacto entre nós. Enquanto Camilo estiver vivo, nós trabalharemos juntas. Depois que ele morrer, cada uma segue seu caminho. Pode ser?

- E então, se os Surdos mandarem você me matar, você vai me matar?

- Acredito que os Surdos não serão idiotas ao ponto de não reconhecerem seu valor como aliada. Eu prometo que não deixarei eles tocarem em você. Se vencermos, você poderá escolher se quer continuar no Palácio ou se prefere uma casa simples para tocar sua vida como uma pessoa comum. Não vai ser difícil recomeçar, já que ninguém sabe que você é mulher. De repente, podemos até forjar sua morte para garantir que ninguém vai perturbar seu sossego. O que me diz?

Pandora sorri diante do vislumbre. Nas últimas semanas, tudo que podia esperar do futuro era uma morte certa. Rápida, se tivesse sorte. Recomeçar do zero com uma nova identidade, tendo um lar, proteção e amigos, era algo com o que nunca tinha sonhado. Era uma perspectiva positiva demais para que se encaixasse em sua imaginação.

Ela troca olhares com Helena, que, vestida em seu uniforme negro, exala a firmeza e poder de seu espírito lutador. Apesar de não ser a pessoa mais fiel do mundo, ela certamente havia se esforçado para que ambas conseguissem chegar até ali. As palavras são o que menos importa, e, ultimamente, Helena havia provado seu valor com suas ações.

Pandora estende a mão, apertando com força os dedos da outra.

- Sabe que, vestida desse jeito, você chega até a parecer a irmã que eu nunca tive? – Helena sorri, um leve brilho maldoso brotando em seu olho azul – Uma irmã lenta e com um penteado horrível, mas, ainda assim, uma irmã.

- Eu não sei se agradeço ou se te dou um soco.

- Se me der um soco eu te devolvo dez vezes mais forte.

Helena prende sua mochila sob o assento da moto, saltando sobre ela com agilidade e oferecendo a mão para ajudar Pandora a subir.

- Obrigado. – ela murmura, inundada pela primeira vez com a sensação quente de poder confiar em alguém.

- Meninas dizem obrigada.

Assim que se ajeita sobre o veículo, as duas disparam pela estrada, a velha casa de madeira com seu túmulo de areia ficando no passado, para sempre.

Assim que se ajeita sobre o veículo, as duas disparam pela estrada, a velha casa de madeira com seu túmulo de areia ficando no passado, para sempre

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Pandora (COMPLETO) - Livro III - Trilogia DantálionWhere stories live. Discover now