O Desejo de Laura

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  Laura respirou fundo.

— Ok. —  Ela respondeu encarando a sopa feita por sua mãe na mesa do hotel. —  Não está ruim... Digo... Está até muito bom para alguém que tocou em um fogão pela primeira vez... Maaaas, aconselho a diminuir um pouco o sal ou eu morro de hipertensão. —  Disse rindo fazendo Eva sorrir também.

—  Oh céus... Ok, me desculpa por essa. —  Eva se sentou ao lado de Laura.

—  E como você conheceu meu pai? Ele nunca me contou exatamente a história. — Perguntou Laura limpando os lábios.

— Foi algo engraçado. —  Eva sorriu. —  Sherman acabou me encontrando no momento errado e na hora errada. Exatamente no meio de uma briga entre O arcanjo Gabriel e o demônio Askharkan. Eu estava de passagem, não queria me envolver e correr o risco de ser levada pelos anjos. Mas seu pai acabou entrando no meio sem querer.

—  Meu pai sempre teve um azar incompreensível...

— Askharkan ia matá-lo e Gabriel não ia chegar a tempo. Consegui conjurar um feitiço de proteção. Foi então que fiz um acordo com Gabriel, ele me deixaria ir se eu levasse Sherman longe dali, não pensei duas vezes, ele já havia desmaiado com o choque mesmo. — Disse Eva rindo junto a Laura. — Mas quando ele acordou ele ficou ali me encarando por minutos... Como se buscasse algo em meus olhos. Óbvio que ele quis explicações e eu lá não tive coragem de explicá-lo. Porém eventualmente o expliquei, já que ele não parava com as perguntas. Estávamos ambos solteiros na época tanto eu quanto ele não sentíamos o toque de alguém a anos... E Sherman começou a afirmar que eu era um anjo. Ele dizia que não havia outra explicação para a minha beleza. Ótima conversa para levar alguém a cama não é mesmo?

—  Se meu pai se deitou com você, tenha certeza de que ele queria se casar com você minha mãe. O lorde Hollis não engravida uma mulher e deixa bastardos pelas ruas. —  Ela sorriu. 

—  É, só que nunca fui imaginar que engravidaria de um humano Laura... Até por que eu não sabia que era possível... Aquela noite eu o deixei sozinho e o abandonei apenas por acreditar estar o protegendo.... Porém, tive de retornar, estava em meio a uma guerra... Não podia arriscar sua vida. Te entregar ao Sherman foi a decisão mais difícil que fiz a toda minha vida. Entretanto não me arrependo, fiz para te proteger do males que havia naquele mundo, mas nisso tive que contar ao Sherman que eu era uma renegada do inferno e que você provavelmente herdaria meus poderes. Óbvio que ele pirou, e perdeu a cabeça. Mas te aceitou como todo bom pai. Quis te dar  meu livro para  que soubesse como controlar sua magia se ela viesse a sair do controle como já havia acontecido comigo antes... Sherman queria que você tivesse uma vida normal, e por isso ele relutou em aceitar o livro, até eu finalmente conseguir convence-lo de que seria necessário.

— Entendi... — Laura abaixou a cabeça. — Uau... Ele foi tão compreensivo.... Ninguém aceitaria ter uma filha com... Bom. Um demônio.

—  Ele era um homem muito bom.

—  E um ótimo pai... —  Laura parecia querer chorar. — Eu cresci bem lá, se te serve de consolo. Tive um pai maravilhoso, não tive mãe, mas tive duas governantas extremamente amorosas, a Perry era a mais atrapalhada, vivia com medo de fazer burradas, mas nunca atrasou o horário de me acordar e me levar a mesa do café. Sempre me ajudando com minha alimentação e roupas, já a Laf era a melhor, me aconselhava sempre e me lembrava de ir a igreja todo domingo. Sem contar que me ensinou a tocar piano e quando me apaixonei pela Carmilla ela não me julgou por um minuto. —  Laura sorriu com as lágrimas escorrendo de seus olhos. — Meu pai era turrão e queria que eu me casasse com esse príncipe da Prússia, mas eu não queria me casar. Não com ele. E meu pai não iria entender. Por mais que ele tenha me aceitado como filha de uma renegada, ele também teria de me aceitar como alguém que não se casaria com um homem. E naquela época, era bem mais fácil ser aceita por ser metade demônio do que lésbica.

—  Mas ao menos teve uma vida bacana. —  Respondeu Eva sorrindo e segurando a mão de Laura.

—  Teria mais se não tivesse me conhecido. —  Respondeu Carmilla na porta da cozinha obviamente triste ao ouvir as palavras de Laura.

  O clima naquela cozinha era de tensão, Laura encarou Carmilla nos olhos e sabia que precisavam conversar. Ela acabou intercalando os olhos de sua mãe para a vampira e Eva entendeu o que aquilo significava.

—  Irei deixar vocês conversarem um pouco ok? —  Disse ela beijando a testa de Laura e saindo da cozinha.

—  Carm... Claro que não eu...

—  Você tinha uma vida antes de eu chegar Laura. Uma vida calma e pacata, mas eu estraguei tudo! Minha mãe estragou tudo!  E por minha causa você foi amaldiçoada! Amaldiçoada Laura! 

—  Sim, mas acordei! E você estava lá comigo ainda!

—  Com outra! Por que havia desistido de você, achava que estava morta! Você perdeu sua família por minha causa! E eles nunca souberam de nada! Eu não consegui falar nada! E tinha desistido... E então você acordou de novo e meus sentimentos voltaram de novo! E agora eu te perdi! E você tem a porra de um alvo nas costas que não teria se eu não tivesse sido tão egoísta!

—  CARMILLA! —  Gritou franzindo o cenho. — Do que você está falando? Você não me obrigou a nada! Eu estou aqui por que eu quis! Eu fiz o que fiz por que quis! Para de se culpar pelo nosso término! —  Laura se levantou da cadeira indo em direção a vampira. —  Você tem razão. Não podemos ter filhos com a vida que levamos... É demais para uma criança, mas... Acontece que sou egoísta, e que quero ter sim uma vida comum... Quero me sentir normal ao menos uma vez na vida.

—  Eu sei... Mas será doloroso demais assistir essa vida. Por que eu sei que eu nunca vou conseguir uma vida normal.

—  Talvez isso não seja verdade. —  Respondeu Laura frente a frente de Carmilla. —  Minha mãe sabe um feitiço capaz de curar o vampirismo Carm... Posso fazer você humana novamente.

  Carmilla deu um passo para trás e franziu o cenho.

— Isso é alguma piada?

—  Não. Não é. Se quiser podemos esperar até essa situação com Aurora passar... mas, só se você ainda quiser uma vida comigo... —  Laura engoliu em seco. —  Não quero te privar de nada, se quiser continuar como está tudo bem, e se quiser tomar a cura mas continuar como está, tudo bem também. Quero te dar a cura para você se sentir bem consigo mesma. Mas para estar comigo... Para estar comigo tem que entender que ainda quero uma família Carm e eu sei que parece bobeira mas eu...

—  Casa comigo? —  Ela perguntou fazendo Laura parar para pensar se ouviu direito.

—  O que?

—  Casa comigo? —  Ela perguntou novamente. —  Depois que tudo isso passar, depois que sua mãe conseguir a cura. Casa comigo e vamos ter uma família? O que você acha? —  Ela perguntou com suas lágrimas escorrendo pelo rosto.

  Laura sorriu.

— Demorou mais de 5 séculos para me pedir em casamento por que estava esperando uma cura?

—  Estava esperando o momento certo. O tempo certo. E é claro... A cura. —  Carmilla sorriu.

—  Aceito. —  Laura estava séria agora e Carmilla sorriu de felicidade abraçando a bruxa iluminada que não pareceu tão feliz naquele momento. Talvez pelo fato de uma marca gigante em suas costas afirmarem que Laura estava se transformando em algo que Carmilla mais tem nojo?

—  O amor é lindo. — Disse a voz de alguém despertando a atenção de Carmilla e Laura.

  Era um homem de aparentemente 40 anos abraçando Eva com uma mão e com a outra tampando sua boca.

  Ela parecia pedir para que ambas fugisse, como se ele fosse alguém que elas não poderiam combater.

—  Uma pena que Aurora quer a bonitinha morta a qualquer custa. —  Respondeu encarando Laura. — E eu vim aqui pra isso.

  Aquele era Belfegor, um dos príncipes do inferno.


Descendentes do Inferno - Uma história Renegados do Inferno - Vol ÚnicoHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin