Capítulo Cinco

70.3K 7.2K 3.9K
                                    


02h da manhã e Jade ali observando Nicholas dormindo. Além de estar sem sono, também estar com muito frio, ele tinha razão, a sala realmente esfria com o cair da noite. Mais especificamente, a menina está pensando se vai ou não deitar ali. O frio intenso e sofá desconfortável colaboraram para a falta de sono dela. Mesmo com roupas de frio e 2 cobertas, não foi possível se proteger do frio.

Ela se aproxima da cama na pontinha do pé, e se deita bem devagar para não acordar Nicholas e ele não soltar uma de suas piadas ou implicar com ela.

— Eu sabia que você não ia aguentar muito tempo lá embaixo. — Nicholas diz abrindo seus olhos castanhos o qual brilham a luz do luar que ilumina o quarto.

Jade faz uma careta sem olhar para ele. Orgulho ferido. Se ela tivesse sido mais cautelosa, talvez ele não estivesse acordado, ela iria dormir quentinha, acordar mais cedo que ele e voltar para sala. Seu plano falhou.

— Desculpa te acordar. — Ela diz se cobrindo e virando para o lado oposto de Nicholas.

— Eu não estava dormindo. Estou sem sono, não consigo dormir.

Jade, então, vira-se para ele, agora o olhando nos olhos.

— Eu também.

Eles se olham, um olhar tão... Diferente. Um olhar sincero. A cena é estranha, já que os dois se odeiam, ou pelo menos, se odiavam até algumas horas atrás.

O silêncio está agradável. O clima está agradável. O quarto está agradável. Tudo ali está agradável. Nenhum dos dois querem dizer algo, porque provavelmente vai estragar tudo aquilo ali, mas Nicholas se atreveu.

— Por que você me odeia tanto?

Essa a questão, por que eles se odeiam tanto? Tudo isso por um brinquedo? Jade não sabe a resposta, e caso ela fizesse a mesma pergunta para ele, Nicholas também não saberia.

— Eu não sei.

E ela realmente não sabe, simplesmente foi um sentimento que ela criou por ele e ele por ela, mas nenhum dos dois se arrisquem dizer o porquê.

— Mas você também não gosta de mim, por quê?

— Bom... — Ele para por um momento e continua a falar. — Eu não te odeio, mas por você me odiar, acaba que eu te odeio também, entende?

A risada em sintonia dos dois ecoa por todo o quarto. Jade não entende, e nem Nicholas entende. Porque a situação dos dois não dar para entender, não tem o que se entender. Os dois não entendem, quem é de fora também não entenderá.

— Nós somos complicados. — Jade diz observando o rosto do menino. — Muito complicado.

— Você é bacana, é uma menina linda e muito parceira. Mas você não gosta de mim, então eu também não gosto de você.

— Nós nos odiamos mesmo? — Ela faz uma cara de dúvida. — Porque, particularmente dizendo, não faz sentido pessoas que se odeiam dividir a mesma cama e até a mesma coberta.

— Tirando o fato de que estamos aqui obrigados. — Ele ri. — Mas me diz você, nós nos odiamos?

Ela pensa um pouco. Talvez ela não odeie tanto ele assim, e se odeia, é algo mínimo. Porque parando para observar, não existe um motivo ao certo para odiá-lo até hoje, afinal, eles eram crianças e também isso é um motivo um tanto quanto bobo para odiar alguém.

— Se um sentimento não tem um motivo para existir, então ele não existe realmente. Porque quando você se apaixona por alguém, existe um motivo oculto, talvez o jeito da pessoa, a forma como ela age ou como te trata. Assim como quando odiamos alguém, existe um motivo, seja se a pessoa te fez mal, algo imperdoável ou coisa do tipo. Se não existe o motivo, não existe o sentimento.

— Então isso quer dizer que...?

— Eu não te odeio. Você nunca me deu motivos de verdade para isso.

— Nós passamos 7 anos dizendo para todo mundo que nós nos odiamos. — Nicholas diz. — Me sinto em um livro clichê do John Green.

— Eu tenho a mesma sensação.

E novamente o silêncio se estabiliza ali. Apenas os dois, e a luz do luar reluzindo nos rostos deles. Os olhares. Os sorrisos. Tudo tão novo para eles, tudo tão bom, tudo tão diferente.

Inimigos De Infância Onde as histórias ganham vida. Descobre agora