Bônus - Mia

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Mia:

— Eu não gosto dela.

Dou um sorriso, observando Ravi emburrado no colo de Brian enquanto olha pra Ayla. Ele realmente não gosta do fato de não ser o único bebê da família.

— Mas ela gosta tanto de você, meu amor.  — Digo me aproximando dele, e mostrando Ayla dormindo tranquilamente em meu colo.

— Ela mordeu meu dedinho.

Brian joga a cabeça pra trás em uma gargalhada alta, enquanto Ravi mantém a cara emburrada e um pequeno biquinho formado em seus lábios.

Eu já vi que esses dois vão dar muito trabalho.

Mesmo com Ayla tendo pouco mais de quatro meses, ele ainda não aprendeu a gostar dela. Ele estava acostumado a ser o único bebê da família, e eu já imagino como vai ser quando o bebê do Nicholas e da Jade nascer.

Ele sempre fala que a tal cegonha podia ter entregado essa “coisinha” em uma outra família.

Mas eu tenho certeza que com o tempo eles vão aprender a se gostar e se amar. Ou não.

As vezes, eu olho pra Ayla e não consigo acreditar que essa coisinha pequena saiu de dentro de mim. No começo, eu fiquei bem assustada com a idéia de ser mãe na prática, porque até então eu tive uma gravidez muito tranquila mas depois que vi ela em minhas mãos com poucas horas de nascida, me bateu um pavor e eu só conseguia me questionar se seria uma boa mãe.

Mas esse gostinho de maternidade está sendo único. Toda dia que acordo me lembro da vida incrível que estou tendo. Do homem maravilhoso que tenho ao meu lado. E do fruto do nosso amor. Eu vivo em um sonho.

Mas nem tudo sempre foi um sonho. Pra ser sincera, tive que passar por grandes coisas em minha vida antes de tudo começar a dar certo.

Eu morava no interior com minha avó e minha mãe até meus cinco anos. Elas resolveram ir pra cidade em busca de uma vida melhor. O pouco de dinheiro que elas vieram, deu apenas pra comprar uma pequena casinha onde vivemos  por longos anos.

Minha mãe passou muito tempo a procura de um emprego e eu ficava com a minha avó. Mas numa dessas idas, ela não voltou. E até hoje não sei do seu paradeiro.

Mesmo com todas buscas e procura, não houve nem mesmo uma pista. E dali, minha avó começou a trabalhar e me colocou em um creche. A gente passou por muitas coisas juntas, muitas dificuldades. Mas dona Helena, como uma verdadeira guerreira, deu a volta por cima e hoje tem uma empresa de cosméticos.

Ela vive uma vida invejável. Está sempre viajando, usando roupas caras, frequentando a alta sociedade. Mas definitivamente isso não é nem a metade do que ela verdadeiramente merece.

E bom, meu pai eu nunca o conheci. Minha avó diz que ele era um fazendeiro muito rico e casado. Ele disse que não podia assumir filho de uma jovem de vinte anos, que foi a idade que minha mãe me teve. E nunca me fez falta, na verdade. Eu tive amor de duas mulheres incríveis que não me deixaram faltar nada, apesar de tudo.

Minha avó fala que esse dom que eu tenho, eu herdei da minha mãe. Quando algo vai acontecer, eu já sinto de antemão. Toda essa ligação que eu tenho com a espiritualidade veio da minha mãe, de acordo com ela. Inclusive, o jogo de tarot que eu tanto amo foi da minha mãe. Ele é bem antigo mas tem um significado enorme pra mim.

Eu sinto muito falta da minha mãe. Ela era ou é uma mulher incrível. Eu gostaria de saber o que aconteceu com ela. Se está viva ou morta, porque isso é uma dúvidas que me mata há anos.

Olhar pra trás e me lembrar da minha infância, me faz lembrar também de quando conheci a Jade, e não simpatizava nem um pouco com ela.

Tínhamos algo entre onze e doze anos. Ela parecia sempre estar brava e irritada com alguma coisa. Mas depois começamos a nos entender, quando nos colocaram pra fazer dupla em um trabalho.

Mas não dá pra negar, somos bastante diferente uma das outras. Mas nos entendemos como ninguém. Somos inseparáveis, mesmo com tantos anos de amizade.

E também, graças a ela, hoje eu estou casada com Brian. Se eu soubesse que ela ia pedir pra Nicholas desenrolar Brian pra mim, eu provavelmente a mataria por isso. Mas vim descobrir recentemente, porque ela me contou sem querer.

Eu sou completamente apaixonada por ele. Bem antes da cirurgia de mudança de sexo, na verdade. Eu sempre fui encantada por ele mas nunca foi muito a minha praia chegar nas pessoas que eu sou afim.

As coisas entre nós dois fluíram de uma forma muito fofa. Ele pegou meu número e me chamou pra sair. Depois daquilo, eu não entendi muito bem o que aconteceu mas quando me dei conta já estava namorando. E ele é um homem perfeito.

É lindo, é educado, é paciente, é um marido perfeito e um pai incrível. Eu tirei sorte grande. Ele faz com que eu me apaixone um pouco mais cada dia por ele. Nosso namoro foi incrível, cada detalhe.

Eu me lembro que ele me pediu em casamento em uma montanha russa. Foi a coisa mais doida que ele fez. Nós estávamos lá em cima, no topo, eu estava quase infartando mas o medo sumiu na mesma hora que ele fez aquela típica pergunta. Ele sempre me surpreende.

Eu nunca fui do tipo de menina reservada. Ou do tipo de menina calma e tranquila. Muito pelo contrário, sempre fui completamente doida. Quase um furacão. Mas é o meu jeito, e já fui muito julgada por isso.

Já ouvi coisas tipo: “Menina não pode se comportar assim.” ou “ Se você continuar assim nunca vai conseguir ninguém". E outras coisa piores, mas no fim eu sempre dava uma risada do que eles diziam. Eu nunca precisei de ninguém pra ser feliz, eu sempre fui suficiente pra eu mesma. Tampouco da opinião dos outros.

E pra tristeza de alguns, eu encontrei sim um alguém. E um alguém que faz meu coração acelerar cada vez que meus olhos vão de encontro ao seu.

— Amor, o que você acha da gente ter um outro bebê? — Brian pergunta, sem tirar os olhos de Ravi que brinca em seu colo com um brinquedo de Ayla.

— Uma péssima ideia. — Faço uma careta rindo. — Talvez por enquanto seja uma péssima idéia. Mal damos conta de Ayla, imagina só se tivermos outro.

E quem sabe, lá na frente realmente teremos outros filhos. Mas por enquanto, Ayla pra mim já é suficiente. E Ravi, que é como um filho pra mim... Sem contar o bebê de Nicholas e da Jade que já estão a caminho.

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