Capítulo Setenta e Sete

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Pedro:

— Até quando vamos manter ela aqui, Scarlett?

— Até quando eu quiser.

Suspiro, e encosto meu corpo na cadeira observando ela mexet concentrada em seu celular.

Eu tenho medo do futuro de Jade. E me arrependo, mais uma vez, de ter topado esse plano grotesco de Scarlett.

Fazem quatros dias desde o sequestro, e sempre que pergunto sobre o que Scarlett pensa em fazer, ela responde coisa do tipo: “Estou pensando ainda”. Eu realmente não sei o que eu tinha em minha cabeça quando topei aquilo tudo. O que eu esperava, afinal? Que Jade fosse voltar pra mim após eu ter, literalmente, ajudado Scarlett a sequestrar ela?

Olhando por um certo lado, esse plano nunca fez o menor sentido. Eu deveria acusar Scarlett por tudo, mas ela não foi a única que errou. Eu também fui. Fui inconsequente quando topei isso tudo, e agora me sinto perdido e atordoado.

Eu poderia simplesmente sair dessa galpão, e ir a primeira delegacia denunciar eles. Eu não me importo se eu seria preso, ou o que iria acontecer comigo. Tudo eu fiz por merecer. Mas o que mais me assusta, é o que Scarlett e Meredith fariam com Jade após isso.

Quando falei com Meredith que não queria fazer mais parte disso, ela me disse exatamente isso: “Saia por essa porta e o corpo da sua amada jamais será achado”

Ja fui responsável por tanto sofrimento na vida dela, eu não aguentaria ser o responsável por sua morte também.

Eu demorei pra entender que Jade não era mais minha, mas quando entendi, já não dava pra voltar mais atrás.

— Pedro, eu realmente não te entendo. — Ela leva sua atenção até mim, e joga seu celular em cima da mesa. — Jade está quase tendo uma vida de princesa aqui. Damos comida, roupa limpa, damos água e ainda tem um banheiro pra quando quiser usar só pedir pra alguém levar ela.

— Nós a sequestramos, Scarlett. Você acha isso normal?

— Não é nenhum bicho de sete cabeças.

Forço uma risada, e me levanto da cadeira revirando os olhos. Caminho até a pequena cozinha improvisada que o pai de Scarlett montou aqui, e pego um sanduíche e um suco de laranja.

Eles realmente tinha cada detalhe meramente planejado que montaram até uma cozinha nesse galpão vazio e enorme.

Ando em passos largos até o quartinho que ela está, e abro a porta me deparando com Jade com a cabeça encostada na parede e seus olhos vermelhos e molhados, olhando para um ponto fixo parecendo estar meio perdida.

Me sento no colchão de frente pra ela, que ignora completamente minha presença.

— Eu trouxe isso pra você. — Empurro a pequena bandeja com o sanduíche e o suco até ela.

— Não quero, obrigada.

— Você precisa comer alguma coisa. Está desde ontem a noite sem comer nada.

— Não estou com fome, Pedro. Agora você pode sair daqui, por favor?

Cada vez que entro nesse quarto, sinto um pedaço do meu coração indo embora e eu fico cada vez mais arrependido. Eu queria poder tirar ela dessas correntes, queria poder levar ela pra casa. Mas como irei fazer isso com aqueles brutamontes dos homens do Ethan vigiando cada canto desse galpão? Eu colocaria a vida dela em risco.

— Me perdoa. — Digo a analisando, vendo uma risada sem ânimo sair dos seus lábios. Ela me olha, pela primeira vez desde que entrei aqui.

— Te perdoar? Parece piada, não acha? Você ajuda esses monstros a me sequestrar e você acha eu vou um dia te perdoar por isso?

— Eu te entendo. Mas eu estava tão triste, eu precisava de você. E por um momento muito idiota, eu pensei que esse sequestro iria trazer você de volta pra mim. Eu não quero continuar, mas se eu parar colocaria a sua vida em risco.

— Você nunca pensa, não é? Já parou pra ver quantas vezes você fez as coisas e se arrependeu depois? Você age como se fosse um adolescente que só pensa no hoje. A vida não é assim, Pedro. Por sua falta de pensar, eu estou aqui. Acorrentada. Presa por não sei quantos dias.

Balanço a cabeça positivamente sem dizer mais nada, e saio pela porta segurando ao máximo que posso a vontade de chorar. Ela cuspiu as palavras na minha cara. Mas tudo que ela falou é verdade.

Já perdi Jade por não pensar direito, agora ela está sequestrada porque ao invés de eu tomar uma atitude e contar pra polícia pela primeira vez que escutei aquele plano, eu fui lá e topei.

Mais uma vez estraguei tudo por não pensar nas consequências dos meus atos.

(...)

Talvez eu já esteja no quinto copo de whisky, eu realmente não faço ideia. Sei que quando estava voltando pra casa, passei no mercado e comprei essa garrafa e ela já está pra baixo da metade.

O álcool e a droga são, infelizmente, a minha válvula de escape há muito anos.

Eu tenho plena consciência que a cada gota de álcool que eu bebo, e a cada droga nova que eu provo, estou jogando um pedaço da minha vida do lixo. Mas eu não importo, há muito tempo eu deixei de me importar. Eu não tenho muito o que perder mesmo.

Mas eu tenho que admitir, nem o álcool e nem as drogas estão me fazendo esquecer dos meus atuais problemas. O máximo que eu consigo é ficar mais tranquilo, mas minha mente continua a 100km por hora.

Ponho o som no máximo, e troco o copo pela boca da garrafa. Me sento em minha cama, observando as paredes azuis e o teto branco do meu quarto.

Uma casa tão grande, tantos empregados e eu me sinto sozinho da mesma forma. Minha mãe foi para fora do país e me deixou aqui, nessa mansão enorme. Bancando todos os meus vícios e sempre depositando bastante dinheiro em minha conta. Mas o que adianta ter tanto dinheiro, sem nem o amor da pessoa que eu amo consegui?

Procuro meu celular pela cama bagunçada, e logo o acho em meio as cobertas.

Procuro o nome de Nicholas na minha lista de contato, e acho no mesmo instante. Observo a foto dele com Jade dando um beijo em sua bochecha.

Acho que já está na hora de acabar com todo esse sofrimento, principalmente o de Jade.

Hesito um pouco, mas logo aperto no botão de ligar para ele. Toca por alguns segundos e rapidamente escuto a voz de Nicholas do outro lado da linha.

— Alô?

Abro minha boca mas não consigo dizer uma só palavra. Um medo repentino me consome, fazendo eu desligar o telefone e respirar fundo.

Eu preciso ser racional, não seria a melhor ideia contar isso para Nicholas. Eu não tenho muita credibilidade com ele, sem contar que a ameaça de Meredith ronda a toda instante em minha cabeça. Eu não posso correr o risco de perder Jade, embora ela já não seja mais minha.

Jogo o celular com força na parede sem pensar muito. Vejo o celular se despedaçar e cair em vários pedaços no chão.
Mais uma vez eu falhei.

Ponho a garrafa no chão e levo minha mão até meus cabelos. As coisa parecem piorar cada vez mais.

— Eu irei te ajudar, Jade. Não sei como, mas eu vou.

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