Capítulo Cinquenta e Oito

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Jade:

— Não acredito que rolou. — Mia fala, lavando sua mão até a
boca.

— Não rolou nada. — Digo, levando uma colherada do meu sorvete até a boca. — Quase rolou.

— Foi quando?

— Ontem. Mas o seu namorado atrapalhou tudo pra falar de jogo. — Digo, vendo ela segurando a risada.

Eu tenho plena consciência de como aquilo ia terminar. E pra ser sincera, eu não me importava e não me importo. Eu queria, tanto quanto ele.

Apesar de nunca ter me envolvido de forma amorosa com ninguém, já fiquei com outros rapazes. As coisas sempre “esquentavam” mas nunca passava disso. Nunca consegui me entregar pra ninguém, e também nunca quis.

Mas, ali com Nicholas, senti que poderia facilmente fazer isso.
Eu me sinto bem com ele, me senti tranquila e me entregaria a ele. Acho que se não fosse por aquela ligação, eu não já seria mais virgem.

— Você se lembra da sua primeira vez? — Pergunto, fazendo ela tirar seus olhos da mesa ao lado e me olhar.

— Ah, me lembro. Não faz muito tempo. — Ela dá de ombro, mexendo no canudo do seu milkshake.  — Não vou dizer que foi como nos filmes de romance. Tudo perfeitinho. Não sangrou, mas doeu e foi uma dor bem incômoda, eu diria. Mas é só nos primeiros minutos. Acho que envolve muito o clima, a pessoa, se você se sente bem com ela ou não... Mas você acha que iria realmente rolar entre você e Nicholas?

— Acho que sim. Só ia saber mesmo no ato... Mas pelo jeito, ia acontecer.

— E como ficou as coisas entre vocês depois?

— Normais. — Dou uma risada. — Nenhum de nós dois comentamos sobre isso depois. E eu prefi...

Paro de falar quando alguém se aproxima da nossa mesa, se sentando rapidamente ao nosso lado, deixando eu e Mia de queixo caído.

— O que você está fazendo aqui? — Mia indaga, com uma ruguinha se formando entre suas sobrancelhas, mostrando sua irritação.

— Jade, eu preciso conversar com você.

— Pedro, eu já falei que não temos nada pra conversar. Vai embora, por favor.  — O olho, tentando manter minha calma.

— Eu só quero um minuto.

Me encosto na cadeira, respirando fundo e intercalando meu olhar entre Mia e Pedro. Me sinto pressionada e eu não gosto disso.

— Jade, você não precisa. Vamos sair daqui. — Mia fala, me olhando com preocupação.

— Está tudo bem, Mia.  — Suspiro. — Você tem cinco minutos.

Eu sinto que eu não deveria escuta-ló, mas ver ele desse estado me faz sentir um pouco de pena dele. Ele está largado, com seus olhos fundos e pele pálida, parecendo que não dorme há dias.

— Pode ser a sós?

— Não. Mia fica aqui comigo. — Digo, firmemente. — O seu tempo está passando.

Ele passa as mãos pelo rosto, olhando para o suporte de guardanapo, enquanto balança sua perna, parecendo um pouco nervoso.

— Eu não sei nem por onde começar.

— Pode tentar começar do começo, eu sugiro. — Mia murmura, revirando os olhos.

— Eu... Eu me arrependo muito do que fiz com você. Eu tinha tudo em meus braços e só percebi depois que te perdi. Fui um moleque e cedi a sua prima, quando ela deu em cima de mim. Foi culpa dela, ela nunca deveria ter feito aquilo.
Mas enfim. Eu peço perdão por tudo que te causei. Eu te amei de verdade mas eu fui um péssimo namorado e eu sei disso.

— Pedro, Amber errou sim, mas quem me devia fidelidade era você. Eu namorava com você, não com ela.

— Tudo bem, eu sei. Mas eu... eu te amo. Nunca deixei de te amar.
E faria de tudo pra tê-la de volta. Não tem um dia que eu não pense em você, que eu não me lembre de quando eu tinha você e não dei valor. Eu te quero de volta, eu quero outra chance, eu quero te reconquistar.

Em um gesto automático, levo minha mão até a boca com os olhos arregalados. O que acabei de escutar me deixou um tanto quanto... Surpresa?

É, no mínimo, muito bizarro escutar que ele ainda gosta de mim. Mesmo após ter feito tudo o que fez.

— Eu gosto de outra pessoa. — Digo, vendo ele deslizar a mão pelos seus cabelos loiros.  — E mesmo que eu não gostasse, Pedro. Entre nós dois nunca mais vai rolar nada.

— Eu cheguei tarde demais, não foi? — Ele fala, dando um sorriso sem ânimo.

— Você não chegou tarde, porque eu nunca te esperei. Você escolheu isso tudo. Não existe nada nessa vida que a gente faça, e não colha lá na frente.
Você me traiu porque quis... Eu posso te perdoar sim. Mas perdoar, não significa abertura pra um relacionamento entre nós dois. Eu sinto muito.

— De qualquer forma, espero que um dia você possa me perdoar de verdade, por tudo que eu te causei. E saiba que você está guardada em minha memória, pra sempre.

Noto seus olhos vermelhos e cheio d'água. Ele me analisa por alguns segundos, e se levanta, saindo rapidamente da nossa mesa e em seguida, da sorveteria, me deixando completamente atordoada.

Olho pra Mia, balançando minha cabeça negativamente, em gesto de desaprovação. Ele realmente esperava que eu fosse voltar pra ele, depois de tanto tempo e depois de tudo o que aconteceu? Coisas as quais eu trago cicatrizes até hoje.
Cicatrizes que aos poucos estão sumindo, mas ainda existem.

Mas apesar dos apesares, desejo tudo de bom pra ele. Porque ele está me parecendo péssimo.
Espero que seja feliz, seja lá como seja. Não desejo o mal dele, apesar de tudo que me fez

(...)

Estou há algum tempo andando pelo bairro, sem rumo.
Desde que voltei da sorveteria, na verdade.
Estava um pouco afim de ficar sozinha e apreciar minha própria companhia. As vezes é bom me conectar com eu mesma, mesmo que seja em uma longa caminhada pelo meu bairro tranquilo e silencioso, que raramente se vê vizinhos do lado de fora. O pessoal por aqui é bem caseiro.

Olho pra trás, tendo a quase certeza que tinha alguém me observando.
Mas pelo jeito, foi apenas uma impressão minha. E se estivesse, não é nada muito fora do normal, afinal, pessoas habitam por aqui.

Sigo em passos calmos e curtos, observando o céu nublado, que ameaça chover. Acho melhor eu me apressar

Escuto meu celular vibrar em meu bolso, e o pego vendo o nome da minha mãe no visor. Demoro um pouco pra atender, fazendo com que ela desligue e ligue novamente. Isso não me parece boa coisa.

— Jade, aonde você está?

— Estou por perto mãe, o que aconteceu? — Escuto sua voz, que esbanja preocupação.

— O Nicholas sofreu um acidente.

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