Capítulo Vinte e Sete

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Nicholas:

Foi um dia e tanto... Mas nada melhor que por a cabeça no travesseiro e dormir, renovando as energias para o amanhã.

Me deito cobrindo todo o meu corpo e fecho os meus olhos. Mas o toque estridente do meu celular faz com que eu tenha que abri-los, procurando o celular debaixo do meu travesseiro.

Atendo meu celular já pronto para reclamar da falta de educação mas ao escutar a voz do outro lado da linha, meu corpo inteiro estremece.

— Nicholas?

— Sou eu. Quem fala?

—  Nicholas, sou eu, David... Seu pai.

Meu corpo inteiro congela, apenas confirmando minha dúvida de quem poderia ser. É ele. Após anos. Do outro lado da linha. Eu jamais esperava algo do tipo. Não tenho o que dizer. Nem como reagir. Nem o que pensar. Parece que telhado da minha casa caiu todo sobre minha cabeça.

Não sei se respondo, se desligo. E mesmo que eu queira muito desligar, não iria dormir em paz caso fizesse.

— Desculpa, e-eu não conheço nenhum Nicholas. — Digo tentando manter minha voz firme, mas gaguejando um pouco.

— Por favor, não desliga. — Ele pede. Resolvo não dizer nada porque além de tudo, acho que não conseguiria mais dizer qualquer coisa que seja. — Eu sei que é você, Nicholas. Conheço sua voz, conheço você. Sou eu, seu pai, David. Lembra de mim? Eu tenho tanto pra te falar.

— Mas eu não tenho nada pra falar com você.

— Mas eu tenho, e eu nem sei por onde começar, por onde me desculpar e por onde se explicar. Mas eu preciso que você esteja disposto a me escutar.

— Seja breve, tenho que dormir.

— Eu sei que parece o maior absurdo do mundo eu estar te ligando depois de anos que eu deixei você e sua mãe. Eu sei que você deve me odiar agora, e eu te entendo completamente. Eu só quero uma chance pra me explicar e me desculpar.

— Quais suas desculpas pra abandonar sua mulher e seu filho na rua da amargura?

— E não tem um dia que eu ponha a cabeça no travesseiro e não me arrependa disso mas não dá pra explicar isso tudo por telefone. Eu posso ir até sua casa? Ou você até a minha?

— Não é tão fácil assim, preciso pensar sobre. Sem contar que não vou na casa de um estranho e nem vou deixar ele vim na
minha. — Afirmo.

— Eu não sou um estranho, eu sou seu pai. Mas de qualquer forma, me encontre no endereço que irei te enviar por mensagem. É um restaurante, lugar aberto, se esse é seu medo. Depois de amanhã, ás 15h da tarde. Irei te esperar, por favor, me dê essa chance.

Logo a ligação se encerra me deixando completamente atordoado e paralisado. Meu pai. O cara que saiu pela porta deixando eu e minha mãe há anos atrás. Querendo me ver, e conversar? Nada disso parece fazer sentido algum.

(...)

— Eu acho que você deveria ir. — Jade diz se sentando ao meu lado na mesa do refeitório.

— Por que? Ele com certeza não tem não tem nada pra falar a não ser se desculpar sem parar. — Digo revirando os olhos remexendo na comida com o garfo.

— Talvez ele tenha como se explicar. Não estou dizendo que o que fez tenha explicação, mas talvez tenha um motivo que você não sabe.

— Eu não... Não sei se vou conseguir fazer isso.

— Se você não se sentir confortável, não precisa ir. Eu imagino o quanto deve ser difícil pra você tudo isso. — Ela passa a mão delicadamente pela minha nuca me olhando de forma carinhosa.

— Você pode ir comigo?

— Eu? Tem certeza?

— Sim. Talvez, assim eu tenha coragem de ir.

É que na verdade olhar pra ela me acalma. Não vejo outra pessoa pra ir comigo , outra pessoa que vai me deixar tranquilo só com um abraço e com um olhar que somente ela tem.

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