Capítulo Setenta e Quatro

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Scarlett:

— Não precisava levar as coisas a esse ponto, Scarlett. — Pedro diz, andando de um lado para o
outro.

Observo o corpo de Jade jogado sobre o colchão e um pequeno sorriso escapa dos meus lábios. Dessa vez, foi eu que venci.

O plano deu muito mais que certo, eu diria até que foi a coisa que mais obtive êxito nos últimos tempos.

— Sossega, garoto. — Reviro os olhos, saindo do pequeno quartinho puxando ele pelo braço.

Foi tudo tão premeditado, tão bem planejado, que as chances de dar errado foram quase zero. Jade contribuiu um pouco, quando saiu pra fora do salão sozinha. Fiquei em sua cola a noite toda, assim que ela saiu do salão, liguei para um dos meus homens e eles executaram tudo perfeitamente.

Se não fosse por um grande empurrão do meu pai e dela, teria sido um pouco mais complicado sequestrar Jade.

Meu pai me disse que fazer esse sequestro, não ia interferir nada na vida do David, que era o que ele queria, mas disse também que faria isso por mim, já que eu estava sofrendo por amor.

Ele e sua adorável amiga que eu muito conheço bem, foram essenciais para tudo dar certo.

Os capangas trouxeram ela pra um galpão, no meio do nada. Cercado por mato e uma estrada velha sem manutenção.

Papai disse que geralmente trazia pra cá seus bonequinhos, nome que ele dar as pessoas que o traí, e dava a lição aqui mesmo.

Não tem nada aqui, apenas um quartinho no fundo com um colchão velho e sujo. Já na parte de fora do quarto, tem algumas mesas e cadeiras onde os capangas costumam ficar.

Me sento em uma dessas cadeiras, ao lado de Pedro e rolo minha redes sociais onde o assunto é unicamente Jade.

Até assim ela consegue ser o centro das atenções, e olha que não faz nem um dia que ela está sumida. Na verdade, faz umas dez horas, no máximo.

— O que você vai fazer com ela? — Ele indaga, fazendo com que eu leve minha atenção para os seus olhos vermelhos e marejados.

— Ainda estou pensando. — Dou de ombros.

— Você me prometeu que não ia fazer nada com ela, e que me entregaria ela bem.

Dou uma gargalhada alta e me desencosto da cadeira, inclinando meu corpo e aproximando meu rosto do dele.

— E você acreditou?

— O que?

— Pedro, meu anjo. Veja bem, eu só fiz um ótimo uso da sua fragilidade e da sua tristeza. Você até que me foi muito útil pra forjar isso do namoro e tudo mais. Agora você realmente pensou que eu iria trazer Jade até você? — Dou mais uma gargalhada, vendo ele comprimir seus lábios e as lágrimas rolarem. — Quando eu te procurei, você estava quase depressivo, tristonho. Eu pensei: “Perfeito para executar meu plano”. E foi mesmo, mas pouco me importa se você vai ou não ficar com ela.

— E o que eu faço agora? — Ele pergunta entre os dentes, secando suas lágrimas.

— Deixa eu pensar. — Levo a mão até o queixo, fingindo pensar. Porque eu realmente não me importo. — Você pode ir até o final disso comigo, ou você pode sair por aquele portão e fingir que nada aconteceu aqui. Porque se você abrir o bico vai acabar igual a ela, ou até pior.

Escuto sua respiração ofegante, enquanto ele passa a mão pelos cabelos loiros, olhando atordoado para um ponto fixo a sua frente.

Eu não tenho pena dele. Ele foi burro, deveria ter imaginado coisas do tipo. E foi meu instinto de sobrevivência que falou mais alto. Meu intuito nunca foi ajudar ele, e sim conseguir Nicholas de volta pra mim.

As vezes parece loucura eu literalmente ter sequestrado uma pessoa por causa de Nicholas, mas foi tudo por amor.

Quando estivermos juntos, tenho certeza que ele vai me entender e me perdoar.

— Eu irei até o final...

(...)

— Eu topei entrar nisso por grana. E por ela ser isca fácil. Botei meu trabalho a jogo, e não vou aceitar perder isso. Não me importa se vocês estão com medo de desconfiarem, você vão voltar pra cidade e vão fingir solidariedade pela jovenzinha indefesa que desapareceu. — Ela esbraveja,  fazendo cada músculo do meu corpo contrair.

Ela é, sem dúvidas, muito pior que eu, Pedro, meu pai e todos os capangas dele juntos.

— Pega leve com as crianças. — Meu pai sussurra atrás dela, que nos olha de braços cruzados após termos dito que estávamos com medo de voltar pra cidade e desconfiarem da gente.

Ela é uma amiga de longo prazo do meu pai, aprendeu a ser tão cruel quanto ele. Na verdade, aprendeu a ser pior. Por dinheiro, ela é capaz de fazer todos os tipos de coisa sem dó e nem piedade.

Ela é fria. Acho que a palavra certa pra ela é psicopata. Talvez seja por isso que toda sua vida seja uma mentira e ela seja sozinha no mundo. Não existe nem uma pontinha de amor e compaixão dentro do seu coração.

— Você. — Ela aponta pra mim. — Não quis ter essa ideia mirabolante? Agora você vai até o final, e eu juro que se eu souber que estão desconfiando de vocês, eu acabo com os dois.

Meu corpo fica tenso com sua ameaça. Ela está realmente brava, e sinto que irá facilmente matar o primeiro que a tirar do sério.

Não vou negar que ela foi de extrema importância pra tudo dar certo nesse sequestro. Apesar de ser um pouco medonha, ela é braço firme e é exatamente disso que estávamos precisando.

Com o cair da noite, ela chegou aqui no galpão acompanhada do meu pai, para ver como anda as coisas por aqui. E não gostou nem um pouco do que viu.

— Ethan, esses seus capangas são outros inúteis. E se eles tivessem matado Jade? Como ia fazer? — Ela pergunta, se virando para o meu pai, e apontando para os homens de preto parado em frente a porta do quartinho. — Eu falei que era pra desmaiar ela, não uma tentativa de homicídio.

— Querida, relaxa um pouco. Deu tudo certo, não é? A garota já está lá dentro guardada e ninguém desconfia de nós.

Meu pai vai até o carro, e volta depois de alguns minutos com um balde de gelo com um champanhe e quatro taças na mão.

Ele deposita na mesa, se sentando de frente pra min e para Pedro, e ela faz o mesmo se sentando ao seu lado.

— Só temos o que brindar e comemorar.

Ele abre o champanhe derramando um pouco na mesa, e enche nossas taças com um grande sorriso no rosto.

É inevitável não sorrir também. É conquista dada. Conseguimos, finalmente.

Um plano que no começo parecia meio doido, mas que a pior parte já foi feita, agora só falta o resto. E eu poderei, por fim, ter Nicholas só pra mim sem ninguém atrapalhar.

— Um brinde a nossa vitória...

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