Capítulo Setenta e Dois

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Jade:

Agora sim, estou namorando. Sem forjar, sem mentiras, sem nada. E eu me sinto tão feliz.

Parece comédia, porque se há um tempo atrás alguém chegasse pra mim e dissesse: “Ei, Jade. Você vai namorar com o rapaz que você não gosta. O Nicholas”.
Eu certamente mandaria essa pessoa ir para um hospício, porque bem da cabeça ela não estaria.

Eu não sei explicar como todo ódio virou amor. Isso é se um dia foi ódio de verdade. Foi tudo tão rápido e ao mesmo tempo tão natural que quando fui ver...

— Agora você está namorando oficialmente. — Mia diz, se olhando no espelho e retocando seu batom.

— Sim. — Dou uma risada. — Não imaginava que iria por uma aliança tão cedo em meu dedo, ainda mais selando um compromisso com ele. Nicholas. Que era quase meu rival.

— A vida tem dessas surpresas as vezes... — Ela me olha sorrindo. — Vocês podem finalmente ficar juntos de verdade, sem ninguém empatar ou atrapalhar. Aproveitar um ao outro.

— Finalmente. — Amasso meus cabelos, definindo meus cachos ainda mais. — Eu estou tão feliz...

Assim que termino de falar, escuto a porta de uma das cabines se abrindo e olho pelo espelho, levando meu olhar até Scarlett sorridente.

— Ah, vocês estão aqui? — Ela caminha até a pia ao meu lado, e lava suas mãos. Seu olhar repousa em minha mão, e uma de suas sobrancelhas se levanta. — É uma aliança?

— É sim. — Dou um sorriso, escondendo a minha mão discretamente.

— Parabéns. É linda. Combinou bastante com você... E Nicholas sempre foi ótimo em dar presentes. — Ela diz, e em seguida, tira seus olhos de mim e se concentra em lavar suas mãos.

Olho pra Mia, que está do meu outro lado. Ela mantém sua típica cara de nojo, e seus braços cruzados, encarando a loira. Ela não disfarça nada.

Mas Scarlett realmente me parece estar em paz consigo mesma. Sem querer guerras ou brigas. Ainda mais porque ela também está namorando, então isso não faz o menor sentido.

— Por que vocês estão me olhando com essas caras? — Ela ri, enquanto seca suas mãos.

— Nada não. — Mia diz. Mas sua voz parece dizer o contrário.

— Olha Jade... — Ela caminha até mim e pega em minhas mãos. — Eu sei o quão difícil é pra você, e pra todos acreditar que eu mudei. Mudei de verdade. Não quero seu mal e jamais farei nada pra te prejudicar. Fique tranquila, e só peço que não me olhe de forma estranha como se eu fosse a pior pessoa do mundo. — Uma risada escapa dos seus lábios, mas se encerra no mesmo instante em que seu telefone toca. — Tenho que atender essa ligação, é importante. Depois terminamos essa conversa, tá bom?

Ela dá mais um sorriso e sai do banheiro falando no telefone. Me viro pra Mia com minhas sobrancelhas arqueadas, e ela mantém sua expressão de tédio no rosto.

— Quase acreditei...

— Qual é, Mia? Por que ela estaria sendo tão legal assim? A preço de nada? Não faz muita lógica. — Dou uma risada. Acho que Mia nunca vai acreditar em nada que Scarlett diga.

Eu, por outro lado, acredito bastante em sua mudança porque é exatamente isso que ela está mostrando. Não vejo o porquê de duvidar, apesar de ficar um pouco surpresa com ela sendo tão... Simpática e sorridente.

— Querida, estamos falando de Scarlett Mateo. Nunca se sabe o que esperar dela.

(...)

Passo meus dedos pela a aliança, a analisando com cuidado. Por quanto tempo será que ele planejou isso?

— O que a gente coloca como regras em um contrato de namoro verdadeiro? — Pergunto, olhando pra ele ao meu lado que toma uma bebida rosa, e me lembro do nosso “contrato” quando começamos aquela loucura do namoro falso. A melhor loucura da minha vida, inclusive.

— Nada. — Ele diz, jogando sua cabeça pra trás em uma gargalhada. — A gente só deixa acontecer.

Apesar do horário, o salão ainda está lotado, todos animados e nenhum vestígio de que horas irá terminar. E eu espero que dure bastante, porque essa está sendo a melhor festa desse colégio.

Mesmo com tanta gente junta aqui dentro, parece que o ar condicionado estar no mínimo e estar ficando cada vez mais frio. Mas definitivamente, eu devo ser a única que estou sentindo, porque mais ninguém parece estar incomodado.

Minha sorte foi ter trago aquele casaco. Mesmo que seja fininho, ainda dá pro gasto.

— Me empresta a chave do seu carro? — Peço a Nicholas, estendendo minha mão.

— Pra que?

— Pra eu pegar meu casaco.

— Deixa que eu pego pra você, ou posso te emprestar meu blazer. — Ele diz, deixando sua bebida em uma mesa.

— Eu sei que você gosta de ser cavalheiro...— Dou um sorriso, depositando um selinho em seus lábios. — Mas não precisa, eu posso ir buscar sozinha e você também pode acabar sentindo frio.

— Mas eu... — O interrompo.

— Não precisa, de verdade. Eu vou rapidinho e já volto.

Ele hesita um pouco mas acaba me entregando a chave. Dou mais um beijo em sua boca e saio andando.

Solto um pequeno sorriso em ver a forma que ele cuida de mim e é atencioso. Eu amo, mas acho que posso ir pegar meu casaco sozinha no carro.

Caminho pra fora do salão, que está completamente vazio e silencioso. E com um vento gelado, que faz toda minha espinha arrepiar.

Me encolho, tentando me proteger do frio e observo todos os meus lados, checando se realmente não tem ninguém por aqui. Está um pouco difícil de ver por estar meio escuro, mas acho que se tivesse alguém eu já teria visto.

— Cadê esse casaco? — Digo após abrir o carro de Nicholas, vasculhando em busca do casaco que fica mais difícil de achar por conta da baixa iluminação. — Aqui está.

Pego o casaco preto de tecido macio e fino, e jogo pelo meu corpo de qualquer jeito.

Mas antes que eu possa fechar a porta, sinto uma dor forte e algo rígido indo de encontro a minha nuca, fazendo eu perder minha consciência e tudo se escurecer no mesmo instante.

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