Capítulo Sessenta e Cinco

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Jade:

— Então você está me dizendo que vocês dormiram juntos, falaram “eu te amo” um para o outro e não estão namorando? — Mia pergunta incrédula.

— Sim... — Dou de ombros, enquanto faço uns desenhos sem sentido em minha mão.

— Mas você o ama?

— Sim.

— Isso não existe, Jade. Vocês deveriam estar, no mínimo, caminhando pra um namoro.

— E por que não? Você namorou com todos as pessoas que transou?

— Não, mas eu nunca disse eu te amo pra eles. Só pra alguns, que foi os que eu tive algo sério.

— Aí, eu não sei, Mia. — Jogo a canetinha pro lado e me deito em minha cama. — Eu só quero deixar as coisas aconteceram naturalmente.

— Quem não faz acontecer, vê acontecendo...

Eu realmente não quero apressar as coisas entre nós dois. Acho que tudo que é forçado acaba dando errado, e eu quero dar muito certo com Nicholas.

Nossa primeira noite juntos foi incrível. Apesar do incômodo no começo, aos poucos a dor foi cessando e quando fui ver, já estava delirando de prazer.

E ele foi tão delicado e calmo comigo, só me mostrou que eu me apaixonei pela pessoa certa.

E eu, obviamente, já tinha planejado aquele jantar com àquela intenção. Eu o desejava e precisava dele, e pensei: “Porque não?”.
Eu senti que estava mais que pronta, e também sabia que ele me desejava tanto quanto eu o desejava.

Nós sequer dormimos na noite passada. Teve segundo round, terceiro round...
Nós realmente só paramos quando já estava pra amanhecer. E ainda fui acordada com café na cama, feito por ele.

— E essa mancha aí no seu pescoço? — Mia aponta, fazendo com que eu leve minha mão até o local que ela apontou.

— Desgraçado. — Digo, após ver a mancha roxa e meio avermelhada em meu pescoço pelo reflexo do celular. Será que mais alguém viu?

— Depois você põe uma colher no freezer e bota nisso aí, que vai sumir em um instante. — Ela diz, me lançando uma piscadinha. — Mas queria conversar com você sobre algo mais sério.

Sua expressão muda para mais preocupada, e noto seu corpo ficar mais denso.

— O que foi? —  Pergunto, dando um gole na minha latinha de refrigerante.

— Eu... Acho que estou grávida.

No mesmo instante arregalo meus olhos e sinto o refrigerante agarrar na minha garganta, fazendo eu tossir desesperadamente.

Mia dá três tapas nas minhas costas, como se adiantasse de alguma coisa.

— Você o que? — Pergunto após me recompor, a olhando com os olhos ainda arregalados. Eu só posso ter ouvido errado.

— Acho que estou grávida. Minha menstruação está atrasada há uns meses.

— Espera, mas o Brian não é um homem trans? Ele não pode engravidar você.

— Bom... — Ela diz, olhando para os dedos. — Estamos há pouco mais de dois meses juntos, e antes disso eu me envolvia com outros caras, até porque eu era solteira. E com todos eles, eu usei preservativo. Mas dizem que mesmo assim pode engravidar.

— E ele sabe dessa gravidez?

— Possível gravidez. — Ela me corrige. — E sim, conversei com ele ontem sobre isso. Ele foi super fofo, dizendo que antes eu era solteira e podia ficar com quem quisesse. Disse também, que acredita na minha índole e que se eu quisesse, ele assumiria a paternidade.

Levo minha mão até a boca surpresa. Não sei o que mais me deixou chocada, se é a possibilidade de Mia estar grávida ou de Brian ter sido super compreensível, o que é muito difícil de ver hoje em dia.

Eu sempre soube que ia ficar pra titia, mas não imaginava que ia ser tão rápido.

— Você fez o teste?

— Não. Eu ia comprar hoje quando estava vindo pra cá, mas a farmácia estava fechada.

— Então a gente vai comprar um agora.

(...)

Aguardo apreensiva Mia sair do banheiro ou dar ao menos um sinal de vida. Ela já está há cinco minutos ali dentro sem falar nada. Não é possível que seja tão difícil fazer xixi em um palitinho.

— Mia? Está tudo bem aí?

Antes que eu posso dizer mais alguma coisa, a porta é aberta seguida de um grito histérico dela.

— Nada de bebês. — Ela dá um largo sorriso e se ajoelha no chão, levantando as mãos para o alto. — Obrigada, minha nossa senhora do anticoncepcional.

— Poxa, achei que ia ter um afilhado pra mimar. — Digo rindo, voltando para o quarto e me deitando na cama

— Um dia, querida. Mas hoje não. Sou muito jovem e tenho muito o que curtir ainda.  — Ela diz, se deitando ao meu lado.

Eu já estava até me acostumando com a ideia de Mia ser mãe. Apesar de nova, ela seria ótima nisso. Ela é paciente quando o assunto são bebês. Mas não posso negar que ela ainda é muito nova e tem muito pra viver, antes de ter uma responsabilidade que é uma criança.

— Eu amo crianças, mas amo mais ainda quando posso devolvê-las para os pais. — Ela fala rindo. — Agora eu preciso ir ao médico e saber porque minha menstruação está tão atrasada.

Dou uma risada, me lembrando do seu desespero na farmácia. Estava com uma fila gigante e ela cismou que era prioridade porque estava "grávida" e tinha que passar na frente de todo mundo. Ela é inacreditável as vezes.

Acho que Mia nunca foi o tipo de menina que agrada a todos. Na verdade, eu diria que ela é exatamente tudo que uma menina deveria ser. Livre e feliz.

Ela não se preocupa se irá ficar mal falada por dormir com homens e mulheres. Não se preocupa se esse seu jeito avoada vai espantar as pessoas. E acho que de longe, isso é umas das suas maiores e melhores qualidades.
Ela é tão transparente quanto a água.

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