Capítulo Oitenta

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Nicholas:

Observo o teto preto do meu quarto, me lembrando de todas as vezes em que ficávamos deitados um lado do outro, sem dizer nada. Eu sinto tanto falta dela.

Sinto falta dela. Do seu toque. Do seu sorriso que colore meu dia. Do seu beijo. Do seu abraço. De absolutamente cada detalhe dela.

Eu não consigo me perdoar por ter deixado ela ir pegar o casaco sozinha. Aquele maldito casaco. Se eu tivesse com ela, nada teria acontecido. Ela estaria aqui agora comigo, em meus braços.

É uma angústia sem fim não ter uma notícia sequer. Não sei quantos dias já se passaram, mas pra mim parece que foram meses. Cada segundo longe dela e sem notícias faz eu adoecer um pouquinho por dentro.

Todos estão tão aflitos. Minha mãe, tia Emília, Mia, Brian, até Scarlett e Pedro. Eles estão ajudando como podem. Eles dois, principalmente Scarlett, realmente mudaram.

Mas parece que nunca vai ter fim. São tantas especulações, o silêncios da polícia há dias. Eles sempre dizem “Estamos trabalhando nisso”. Eu duvido tanto. Se realmente estivesse, já teriam achado ela.

— Eu preciso de você aqui. — Deixo uma lágrima escapar, olhando nossa foto em um porta-retrato vermelho.

Tiramos essa foto em um parque que ela tinha tido a idéia de irmos, numa tarde ensolarada de domingo. Estávamos tão felizes, nunca imaginávamos que há algumas semanas a frente isso tudo iria acontecer.

Eu não suporto a possibilidade de perde-la. Ela virou tudo pra mim. Em tão pouco tempo. Hoje já não consigo me imaginar sem ela.

Ela é a mulher que eu quero pra minha vida. Quero me casar com ela. Quero construir uma família. E ser feliz ao lado da pessoa mais incrível que eu já conheci. Sem ela, não vejo motivos pra sorrir.

— Eu não posso te perder.

(...)

— É impossível depois de tantos dias não existir uma pista. Um suspeito. Nada. Isso é impossível, mãe.

— Filho, não é que não exista. Mas foi como o investigador te disse. Todo mundo é suspeito. O ideal é que se mantenha algo sigiloso. — Ela diz, pondo uma bandeja com dois sanduíches e um suco de maracujá em cima da bancada. — Agora coma.

— Não estou com fome

— Mas você vai comer. — Ela se senta ao meu lado, e acaricia meu rosto. — Você precisa se alimentar. Você precisa estar forte pra quando Jade estiver de volta. Ela vai precisar de você mais que nunca.

Eu admiro a fé da minha mãe. Eu realmente queria me manter nesse nível. Mas cada dia que passa desacredito mais um pouquinho que ela ainda está... Viva. Meu estômago embrulha e um medo toma conta do meu corpo só de pensar nessa possibilidade.

Justamente por isso que tento sempre me convencer que ela está viva e bem, mesmo que minha mente queria me contrariar.

— Como está tia Emília? — Pergunto, dando uma mordida no sanduíche que apesar de apetitoso, não me enche os olhos.

— Na mesma. Está muito mal e sempre dopada, praticamente. Ela disse que está sentindo Meredith um pouco... Distante. Parece que ela está com a mãe no hospital.

— A mãe? — Arqueio a sobrancelha. — Achei que ela estivesse dito há um tempo atrás que ela tinha morrido

— Talvez você tenha se confundido. — Ela dá de ombros. — Mas Emília está cada dia pior, eu imagino o quão difícil é pra ela não ter noti...

Minha mãe para de falar após o telefone dela tocar. Ela pega o celular no bolso e mostra pra mim o nome de tia Emília no visor.

É um pouco estranho ela estar ligando. Deve ser algo importante, ainda mais que minha mãe saiu da casa dela tem uns trinta minutos.

Minha mãe atende com uma expressão confusa, que vai mudando aos poucos para uma expressão de espanto, com seus olhos arregalados e sua boca se formando em um formato de "o".

— O que foi? — Pergunto, fazendo ela me ignorar completamente.

Ela permanece mais alguns minutos em ligação sem dizer nada, e finaliza com um “Ta bom”. Ela põe o celular em cima da bancada, e um sorriso se forma em seu rosto. Um sorriso que me parece dizer mais que qualquer coisas.

— Localizaram o carro que levou Jade.

(...)

Adentramos na delegacia procurando o investigador que está investigando o caso de Jade.

Assim que minha mãe me disse que localizaram o carro, levantei em um pulo e viemos na delegacia. Pela primeira vez, desde que ela sumiu, estou me sentindo esperançoso. Sinto que estão a um passo de encontrá-la e isso é a melhor sensação do mundo.

— Emília. — Ouço minha mãe falar, e me viro pra ver tia Emília que anda em passos largos em nossa direção.

— Eles conseguiram rastrear o carro, não sei como e ele está estacionado em um lugar desconhecido. E que é onde minha menina possivelmente está. — Ela fala rapidamente em meio as lágrimas, e abraça minha mãe.

Respiro fundo tentando manter minha calma e não surtar com essa informação. Dessa vez, parece que tudo está dando certo então eu preciso me manter de pé.

Avisto o investigador do outro lado do balcão conversando com outras pessoas e eu caminho até ele, que logo nota minha presença.

— Eu preciso saber de tudo.

— Eu já te disse, rapaz. É absolutamente tudo sigiloso.  Vocês só podem saber o mínino.

— Por que? Eu não estaria aqui se fizesse parte do sequestro, estaria? Fora o fato que isso não faz o menor sentido.

Ele bufa, revirando os olhos e dá a volta no balcão, vindo ao meu encontro e me olhando com os braços na cintura de forma séria.

— Tudo bem, serei sincero. Um dos nossos suspeitos está no meio de vocês, por isso é necessário o sigilo absoluto.

— O que? — Pergunto com a voz falha, confirmando se era isso mesmo que eu escutei. Um dos suspeitos está entre nós.

— Isso mesmo. E agora, nós só precisamos de uma espécie de permissão do juiz que está acompanhando esse caso para podermos ir até o tal local que o carro foi locali... — Ele para de falar quando uma policial chama ele. — Só um segundo.

Ele vai até a mulher, que o entrega um papel e fala algumas coisa com ele, e logo ele volta até mim com um express diferente.

— Era disso que precisávamos. — Ele balança o papel a minha frente. — Precisávamos disso e agora podemos ir atrás da sua garota.

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