Capítulo 14

3.1K 263 39
                                    


Os paramédicos a colocam em uma cama, e os médicos vem correndo na direção da mesma.
Alguns médicos pedem para eu me afastar, mas eu não consigo. Eu não consigo me afastar.
Escuto meu coração bater, em um ritmo tão forte e rápido que eu não tenho certeza quanto tempo ele aguentará, se continuar batendo desse jeito.


- Ela não está respondendo !

Uma médica de cabelos pretos grita, e mais dois médicos aparecem correndo para ajudá-la.
Ela não está respondendo. Ela não está respondendo!
Os médicos se amontoam ao redor da minha mãe, de forma que eu não consiga ver ver o que está acontecendo, o que só aumenta a minha agonia !


- Desfibrilador!

A médica de cabelos pretos volta a gritar, e um enfermeiro de cabelos castanhos empurra um carrinho na direção da mesma. A médica pega as duas pás do aparelho, e esfregando uma na outra, ela preciona as pás no peito da minha mãe, o corpo da mesma levanta poucos centímetros da cama, mas volta a cair na mesma, no momento em que a médica se afasta.
O processo se repete, até que o único som do ambiente em que minha mãe se encontra, é o de um aparelho indicando que não há mais batimentos cardíacos.
Não a mais batimentos cardíacos!


Eu dou alguns Passos para trás, e sinto meu corpo colidir com o balcão da recepção do hospital.
Tudo ao meu redor parece girar, e eu sinto como se minha alma tivesse saído do meu corpo. A médica de cabelos pretos se aproxima de mim, e eu tento focar minha atenção nela, mas isso parece ser impossível!


- Eu sinto muito senhorita Langford, nós fizemos tudo o que podíamos!


A médica diz, e eu balanço a cabeça em concordância.
Olho para a maca, onde o corpo sem vida da minha mãe se encontra, e sinto meu peito ser destrossado.
Eu não posso mais ficar aqui, não posso mais ficar aqui !
Peço licença para a médica e começo a procurar um banheiro. Eu preciso ficar sozinha!
Encontro a placa informando a localização do banheiro feminino e me direciono para o mesmo.
Adentro o banheiro vazio, e abro uma das portas que dividem os sanitários e tranco a mesma.
Tiro minha mochila e me sento na tampa do vaso sanitário, ao mesmo tempo em que agarro meus joelhos. E aqui, sozinha nesse banheiro de hospital, eu começo a chorar. Chorar por tudo, pela morte da minha mãe; pelas palavras que ela disse para mim; pelo abandono de Marcos, por absolutamente tudo!
Aperto mais meus joelhos, como se isso pudesse me trazer algum conforto, e abaixo minha cabeça.
Escuto meu celular tocar dentro da minha bolça, que estava cruzada no meu ombro, mas demoro alguns segundos para realmente agir. Levanto a cabeça e abro minha bolça preta, e assim que pego o aparelho leio o nome que brilha na enorme tela : HERO !
Solto um suspiro profundo, enquanto decido se realmente devo atender ou não. Tomo minha decisão, e levo o celular até meu ouvido esquerdo, ao mesmo tempo em que tento não desmoronar quando digo :


- Oi !


Percebo meu completo fracasso, quando essa simples palavra saí da minha boca. Deixando bem claro que eu estou chorando !


- O que aconteceu?!

A voz de Hero reverbera em meus ouvidos, e eu volto a apoiar minha cabeça em meus joelhos, voltando a chorar desenfreadamente!


- Ela morreu !


É a única coisa que eu consigo dizer. Essas duas palavras são a única coisa que eu sou capaz de dizer!
Escuto Hero soltar um suspiro do outro lado da linha, ao mesmo tempo em que ele começa a dizer:


- Onde você está?!


Ele pergunta, e eu automaticamente olho ao meu redor, e solto uma risadinha, que mais parece um soluço, ao mesmo tempo em que digo:


- Em um banheiro no hospital!



- Certo, eu vou dar um jeito aqui na empresa e vou para Seattle o mais rápido possível!


Minhas sobrancelhas se levantam, quando eu escuto o que Hero diz. Ele não pode sair da empresa desse jeito, não quando não tem ninguém para tomar conta da mesma!



- Não, você não precisa fazer isso!
E- Eu estou bem, um pouco abalada mas bem. Eu já passei por muitas merdas, posso passar por mais essa !


Eu digo com mais firmeza, do que pensei que fosse capaz de dizer.
A verdade era que, eu não estou bem. Mas eu realmente já passei por muitas merdas, e por mais que nenhuma delas se comparem a morte da minha mãe, eu sabia que ia passar por mais essa. Afinal, eu estou sozinha agora!


- Eu não sei, Josephine. Não gosto da ideia de você estar aí sozinha, tem certeza de que não precisa de ajuda ?!


Hero me pergunta, e eu preciso reunir todas as minhas forças para dizer :



- Não, eu estou bem! Se concentre na sua emptesa, eu estou bem. E também preciso resolver algumas coisas, aqui então... não se preocupe, eu estou bem !



- Certo, então tá. Mas por favor, por favor Jo, me prometa que você vai me ligar caso precise de alguma coisa !



Hero exclama, e eu percebo o tom de súplica em sua voz.


- Eu prometo. Prometo que vou te ligar se precisar de alguma coisa!

Eu exclamo, e me despeço de Hero, só para voltar a chorar...

●●●

Me jogo na cama espaçosa do hotel onde eu me encontro, e tento não chorar mais do que já chorei enquanto estava no banho.
Olho ao meu redor, e penso que, se eu não estivesse na situação que eu estou, eu poderia ligar para Hero e perguntar o porque que ele mandou Inanna reservar uma suíte para mim. Não havia e não há necessidade para isso, mas vindo de Hero, a exigência se me colocar em uma suíte não me surpreende!
Há uma televisão de tela plana na parede de frente para a cama; uma cadeira acolchoada perto do enorme banheiro; uma cama King zise; um frigobar; e duas mesas de cabeceira, uma de cada lado da cama ! 
Alcanço meu celular na mesa de cabeceira, e vejo as horas. 14:22. O que significa que daqui a uma hora, eu terei que ir buscar as cinzas da minha mãe.
Depois que eu saí de dentro do banheiro, eu liguei para a Marjori e perguntei se ela conhecia alguma funerária, então, algum tempo depois, os funcionários da funerária foram até o hospital, e removeram o corpo para realizar o processo de cremação.
E agora, eu só tinha que esperar o tempo estipulado para o processo, para então ir buscaras cinzas e jogar as mesma em um rio. Da mesma forma que minha mãe um dia conversou comigo!
As palavras últimas palavras dela, estão grudadas na minha cabeça. A forma como ela me olhou, a maneira como disse que eu a abandonei da mesma forma que Marcos fez...
Sinto as lagrimas rolarem pela minha face, e eu me surpreendo, que depois de tantas lágrimas eu ainda era capaz de derramar mais algumas!
Escuto alguém bater na porta, mas eu não me mexo, certamente é engano já que eu não estou esperando ninguém.
As batidas continuam, fazendo com que eu me levante e saía do quarto. Caminho lentamente da direção da porta principal, já me preparando, para dizer para seja lá quem for, que errou o quarto. Mas talvez eu não precise, talvez a minha cara já assuste a pessoa, fazendo com que eu me poupe de falar, já que isso parece uma missão impossível, considerando que cada vez que eu falo, parece que tem uma pedra na minha garganta.
Abro a porta da suíte, e na mesma hora eu solto um suspiro profundo. Eu não consigo perguntar o por que de sua presença ali, eu não consigo falar porque minha garganta se fecha completamente e meus olhos enchem de lágrimas.


- Eu não acreditei, quando você me disse que estava bem !


Hero diz, e eu o agarro. Passo meus braços ao redor de seu pescoço, e no instante em que ele me abraça apertado e eu sinto o seu cheiro, eu desato a chorar. Mas dessa vez, sei que alguém vai enchugar minhas lágrimas!




■■■

Notas: As cinzas da mãe da Josephine, que serão jogadas no Rio, foi algo que eu inventei para dar mais emoção a história, porque não é, pelo menos aqui no Brasil, permitido jogar as cinzas em rios ou mares !

   Os Herdeiros Onde as histórias ganham vida. Descobre agora