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A manhã tinha sido bem cansativa. Dei três horários de aula na academia e depois deixei na conta dos outros mestres, voltei pra casa já arrumando bagunça, brinquedo, lavando louça... ser pai sozinho não é fácil mesmo, mas isso era o que me fazia feliz, o que preenchia o meu coração.

Enquanto recolhia os pratos do almoço da mesa pra pia, meu peito apertava ao lembrar a minha tarefa principal do dia de hoje. Só não me permitia chorar porque tinha me prometido e prometido pra ela, que esse não era um momento meu.

Desde que Tina começou a entender as coisas, eu a prometi que quando ela fizesse seus dez anos, eu a contaria a história que ela sempre quis ouvir, eu enrolei ainda depois de ela ter completado a idade, mas chega de enrolar, mesmo que fosse me fazer lembrar e partir meu coração em milhares, ela merecia imaginar através das minhas lembranças um pouco dos melhores momentos da minha vida.

— Tá bem pra contar? — Sophia, minha filha mais velha, disse me abraçando de lado.

— Me preparando mentalmente enquanto lavo essa louça gigante que vocês fizeram. — disse negando com a cabeça.

— Quer que eu lave pra você? — ela riu dando um beijo na minha bochecha.

— Claro que não, Sô. Preciso disso pra pensar mesmo. — larguei o prato e me virei pra ela. — Tá ansiosa pra hoje!?

— Demais! — fez uma dancinha. — Daqui a pouco eu vou pro aeroporto, então a hora de me abraçar e me passar sermão é agora.

— Não vou te passar sermão, deixa essas coisas chatas pra sua mãe. — ela me deu um tapa no ombro e eu ri. — Quer que eu te leve lá?

— Nop, os meninos vão vir me buscar aí pra irmos juntos. — ela explicou e eu encarei ela. — Os gêmeos, pai, não começa. — revirou os olhos.

— Ah bom, pensei que fosse aquele idiotinha que só te magoa. — mandei na lata. Gostava do moleque, mas não era flor que se cheire.

— Paaai! — ela me repreendeu rindo. — Deixa só
minha mãe saber que você tá falando mal dele.

Fiz careta pra ela que me deu um beijo na testa e foi pra sala. Continuei lavando a louça, guardei os pratos e aproveitei que Tina ainda estava no ballet e Scarlet vendo desenho na sala com Sophia pra tomar um banho quente e relaxante.

Fui até a cômoda pegar um moletom quente e me deparei com meu porta-retrato preferido. Ali era tão linda, mais tão linda que me fazia falta olhar pra ela e sorrir vendo como aquele sorriso dela me passava uma paz infinita.

— Papis, minha mãe acabou de deixar Tina aqui, mandei ela direto pro banho, aí depois você avisa que a comida dela tá no micro, ok? — Sophia avisou me tirando do foco da foto. — Os meninos já estão aí fora e minha mãe já levou Scarlet com ela, parece que você pediu isso pra ela, né?

— Pedi, queria esse momento sozinho com a Tina. — expliquei. — Vai agora?

— Sim, me dá mais um abraço aqui campeão. — entrou no quarto e me segurou forte. — Te vejo semana que vem, boa sorte.

— Até lá, obrigado filhota. — dei um beijo na sua testa.

Me voltei a virar em direção da foto e respirar fundo.

Era uma vez, AliWhere stories live. Discover now