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As duas aulas foram tranquilas, mais que tranquilas, foram maravilhosas. As meninas estavam cada vez mais felizes com a nova habilidade de dançar e algumas outras até ficaram tristes de saber que iriam mudar de professora na próxima semana.

A ideia de montar um espetáculo de danças ainda estava na minha cabeça, montar coreografias e ver as meninas se apresentarem seria importantíssimo pra mim. Eu amava a arte da dança, ainda mais o ballet, calmo e disciplinado, a música lenta nutria minha alma.

Dei um beijo no alto da cabeça da última aluna ainda em sala, troquei a sapatilha por um par de chinelos e organizei minha bolsa. Não era tarde ainda, mas a academia estava vazia.

Todos os personals estavam em volta do ringue, incluindo a Maria recepcionista, vibrando por alguma coisa. Fui descendo as escadas curiosa pra saber o motivo da barulheira.

— Que que tá acontecendo? — perguntei pra Livia encostada na pilastra.

— Patrick e José tão lutando, ele chamou o chefe pra briga e agora tá apanhando. — ela riu.

— É coisa séria? — arregalei os olhos.

— Não, é brincadeirinha dos dois. Acontece que Patrick já não é fácil, e o senhor pai dele ainda veio aí, ou seja, José perdendo muito.

Assenti mostrando entender e continuei parada ali. Tentando ficar na ponta do pé pra ver alguma coisa, mas tava todo mundo tão animado que eu não consegui ver nada.

A galera foi dispersando assim que acabou, pareciam decepcionados, depois Livia me explicou que era porque Patrick não perdia nunca, era o sonho de todos ver uma derrotinha.

Continuei parada ali, sozinha, assistindo o mesmo socando um saco de pancada no tatame sem olhar pra trás. Podia ser só uma brincadeirinha pros outros, mas pra ele não era.

Pensei em brincar com ele ou perguntar se ele estava bem, mas lembrei do meu juramento a mim mesma de voltar a ser como era antes e não me envolver em problema alheio, assim virei as costas.

— Alicia? — ele me chamou. Torci o rosto e me virei pra ele. — Tá aqui há muito tempo?

— Desde que você começou a perder. — brinquei.

— Perder? — riu sarcástico. — Eu não perco.

— Você é bom tanto quanto convencido? — cruzei os braços olhando pra ele fixamente com um sorriso imperceptível no canto da boca.

— Saberia reconhecer se eu fosse bom? — disse sério engolindo fundo.

— Não, mas...

— Vem que eu te ensino, talvez um dia você me diga se eu sou bom ou não. — me olhou.

Ele tinha uma coisa... uma coisa que fazia com os olhos. Um olhar penetrante. Ele sempre levantava o queixo, virava a cabeça lentamente para o lado mordendo o lábio e me olhava. Num tom desafiador.

— Me ensinar a lutar? — arqueei a sobrancelha.

— Por quê não?

— Ballet e luta não são totalmente distintos? — questionei já sabendo a resposta.

— E daí? — deu de ombros.

Eu engoli a seco, mas tirei a bolsa do ombro e fui andando lentamente até ele meio desconfiada. Coloquei ela no chão de frente pro tatame, descalcei meu chinelo e entrei nele.

Ele me puxou com força pra perto dele, tirou as luvas de sua mão e colocou na minha. A brutalidade dele me encantava, pra não dizer o contrário.

Ele me virou pra parede segurando minha cintura me fazendo arrepiar corpo inteiro, o por quê? não me pergunte. E depois disso me ensinou mil maneiras de socar.

— Jab o que? — franzi a sobrancelha.

— Jab direto. Bora, levanta esse braço. — ele me ajeitou olhando pra mim com cara de concentrado, como ele sempre tinha.

— Pra um desmiolado até que você deve ser um bom professor. — eu ri saindo da postura.

— Desmiolado?

— É, maneira de dizer. Achei engraçado. — ri de novo.

— Você é uma péssima piadista. — ele disse sério me fazendo desmanchar o sorriso.

— Ta, já deu da sua aulinha por hoje. Aposto que jamais tentaria o ballet. — disse tirando as luvas.

— Não mesmo! — disse firme.

— Claro, todo desmiolado. — o provoquei. Eu parecia uma criança querendo implicar, eu sei, mas eu gostava. De alguma forma eu gostava.

— Você é chata que dói, parece que tem 12 anos. Não sei como fui pensar que podia ser uma mina legal. — ele revirou os olhos dando as costas pra mim em direção a seu escritório.

— Ui, ficou bravinho? — eu ri e corri na direção dele. Fiquei o cercando dando alguns "jabs" nele de palhaçada, o deixando claramente irritado.

— Coe garota, para! Tá maluca, te dei essa confiança? — ele se afastou puto da vida.

— Eita, não precisava falar assim. Só tô brincando. — levantei os braços em sinal de rendição. — Não sei como fui pensar que você era um cara legal.

Segurei o riso mordendo o lábio ao repetir o que ele tinha dito anteriormente. Ele parou na minha frente me olhando sério, primeiro pro meu olho e depois pra minha boca.

— De legal não tem nada. Vou cair fora! — balancei a cabeça negativamente rindo e desviei dele.

— Você tá querendo alguma coisa, né? — ele falou me fazendo virar de volta.

— Hãn? Tipo o que? — disse franzindo a sobrancelha.

— Eu sei que tá. — ele se aproximou de mim.

— Eu... eu... eu não... — gaguejei enquanto ele se aproximava mais ainda de mim.

Seu corpo estava tão próximo do meu e seu rosto mais ainda que dava pra sentir sua respiração, assim como quando fiquei bêbada.

Ele olhou pros meus lábios, segurou nos meus braços me fazendo andar pra trás até um canto escondido do tatame. Ele me imprensou contra a parede e contraiu a mandíbula ao olhar pro meu rosto.

— Patrick, eu...

Eu não consegui dizer nada, seu lábio perto do meu decidindo se iria fazer isso ou não me deixou completamente derrubada.

Eu não sabia o quanto eu queria aquilo até sentir o cheiro do seu hálito tomando coragem pra me beijar.

— Você o que? — ele sussurrou.

— Nada. — disse e encostei nossos lábios um no outro. Ele pediu passagem com a língua e eu cedi.

O beijo dele era totalmente diferente do Daniel, enquanto da minha primeira vez com ele foi afobada e ansiosa, com o Patrick foi quente, cheio de desejo, mas não desesperada.

Ele não parecia ter pressa pra acabar. Uma mão grudou na minha nuca acarinhando levemente e a outra no meu quadril o apertando com força pra grudar nossos corpos.

Levei minha mão até seu cabelo o apertando com força a cada mordida que eu dava em seu lábio. Ele não perdeu a vez de ser bruto também ao quase arrancar minha bunda fora, mas era tão bom...

— Patrick?

Nos separamos rapidamente, eu limpando minha boca e ele ajeitando a calça.

— Qual foi, Leandro? — ele disse grosso ao virar.

— Foi mal, chefe. Mas tu me chamou pra aquele treino de lei. — ele disse me olhando disfarçadamente que tava vermelha de vergonha.

— Eu vou embora. — avisei. — Tchau Patrick.

Sai sem deixar ele dizer nada, tinha que me poupar da vergonha que eu tava sentindo. E o pior, a culpa... a culpa de ter feito isso com o irmão do meu ficante.

Era uma vez, AliWhere stories live. Discover now