02

4.7K 330 238
                                    

ALICIA

A oportunidade de ter vindo morar no Rio de Janeiro quando apareceu, me fez vibrar de alegria.

Sempre fui uma pessoa feliz, sempre com sorriso no rosto, de bem com todos, e a primeira chance de me livrar de vez do meu ex namorado louco que me tirava toda a vontade de viver eu quis correr atrás.

Desde que Matheus veio morar por aqui - meu melhor amigo - eu fiquei abandonada por SP, vivia na casa dele e a gente fazia absolutamente tudo juntos.

Eu entendi o lado dele de querer ficar perto da namorada, já que ela morava aqui, mas me chateei pelo fato dele me largar pra trás. Só que eu, como a pessoa compreensiva que sou, não briguei nem nada. Até porque não foi apenas por esse motivo que ele veio, também pelo pai ter se casado com uma moça daqui e aproveitado que a irmã também tinha consolidado a vida dela no Rio de Janeiro.

Meses depois ele me ligou dizendo que Duda, a namorada dele, queria sair de casa pra morar sozinha e que precisava de uma colega de apartamento, questionei o porquê dessa pessoa não ser o próprio, mas ele disse que os dois não queriam se precipitar mesmo com anos de namoro, então eu topei na hora.

Falei com dona Mayara, minha mãe, que disse que me ajudaria com a faculdade e eu usaria o pouco dinheiro que meu pai me deixou quando perdeu a vida dele pro câncer.

Então cá estava eu. No Rio de Janeiro, parada na porta do meu mais novo apartamento esperando alguém me atender.

— Meu Deus, ainda bem que você chegou, já tava pensando que você não viria mais. — Duda abriu a porta. — Até me despedindo do apartamento eu estava.

Eu ri. — Que isso menina, por quê?

— Ué, você acha que eu tenho condições de bancar um apê sozinha aqui na barra? — ela colocou a mão na cintura fechando a porta atrás de mim.

— Você não morava por aqui? — perguntei. Pelo que Matheus falava eu sempre achei que sim.

— Perto. — ela disse e eu assenti. — Meu irmão que sempre me perturbou pra vir pra cá, aí pensei em dividir com alguém e Matheus falou de você.

— Que bom, uma mão lavou a outra. — eu disse colocando minhas malas juntinhas no canto. — Até que enfim nos conhecemos, ein!? Oito anos com meu melhor amigo e nada.

— Não é, garota? Matheus é foda. — ela sentou no braço do sofá. — Escuta, vou fazer um tour com você pelo apartamento que vai durar 5 segundos e aí vou na rua fazer compras pra gente comer, creio que você tá cansada de viagem, então apaga aí que quando acordar vai ter comida prontinha, mas não se acostuma não.

Eu assenti rindo. Eduarda era dez vezes mais gente boa do que eu imaginava e isso me deixava profundamente feliz pelo fato de que Matheus precisava de alguém assim mesmo.

O conheci na clínica onde a mãe dele fazia quimioterapia, que era exatamente onde o meu pai fazia também. Nós compartilhávamos da mesma dor e éramos novinhos. Ele foi meu Porto Seguro e eu fui o dele, assim criamos nossa amizade.

Duda me mostrou o apartamento e apesar de pequeno, era super confortável pra nós duas.

A porta dava pra sala, que era bem pequena, tinha apenas um sofá, uma mesinha ao lado dele, o tapete e um hack embutido que tinha a televisão, mais pra porta tinha uma mesa de jantar de madeira com quatro lugares.

Do lado esquerdo vinha a cozinha que era bem estreita também e no final uma mini lavanderia. E do lado direito da sala era o corredor que dava pra um banheiro social, e dois quartos, sendo um suíte.

— Eu peguei as chaves ontem e as minhas coisas estão no quarto com suíte, mas como eu sou justa, nós podemos fazer um ímpar ou par pra ver com quem vai ficar. Já que é maior e tal... — ela falou parando de frente pro tal quarto.

— Não Duda, que isso. Pode ficar com a suíte que eu fico com o outro de boa, só de estar aqui com um cantinho pra mim eu tô feliz. — disse sincera.

— Maravilhosa! — ela riu e me abraçou de lado. — Então é basicamente isso, vou na rua, fica a vonts. A casa é nossa!

— É nós! — eu mandei um beijo pra ela do corredor que já estava na porta de saída e entrei no meu quarto.

Nenhum dos quartos tinham quase nada. O meu só um colchão de casal que Matheus tinha arranjado pra mim, então eu precisava passar num shopping pra mobiliar pelo menos meu cantinho.

A Duda já tinha dito que a sala vinha mobiliada e que a televisão seria a dela antiga, a cozinha minha mãe deu a geladeira com o air frayer e a família dela por ser maior deu o resto das coisas.

Meu telefone começou a tocar, deixei a roupa e a toalha que eu tava tirando da mala de lado e peguei pra atender

Ligação
Alicia: oi migo, vai vir me ver não?
Matheus: vou, a Duda não te falou que mais tarde vamos sair?
Alicia: acho que ela esqueceu, tava com pressa pra ir no mercado.
Matheus: ah sim, a gente ainda não decidiu, mas depois do trabalho vou pra aí e a gente vê.
Alicia: ok! Amei a Duda, já tinha falado por vídeo chamada com você, mas pessoalmente é outra coisa.
Matheus: ela é foda mesmo.
Matheus: veio de boa de ônibus?
Alicia: se eu te contar como eu vim tu não acredita.
Matheus: puta que pariu. Mais tarde tu me conta então que eu tenho que voltar pro trabalho aqui.
Alicia: ok beijos, amo você!
Matheus: amo tu.

Desliguei o telefone e fiquei me lembrando da confusão toda de mais cedo.

Acontece que antes de pegar o busão pra vir pra cá, passei na casa do Rodrigo que eu tinha deixado uns documentos lá e também pra eu terminar de vez com aquele babaca.

Ele fingindo o bom moço disse que estava querendo vir pro Rio de Janeiro pra casa do primo e que pagaria um táxi pra nós virmos.

Eu como uma idiota acatei a situação e aconteceu o que aconteceu. Sorte a minha que aquele menino que eu acabei sem saber o nome apareceu pra me defender, que se não fosse isso, eu não sei se teria forças pra lutar contra ele se ele quisesse me levar.

Balancei a cabeça pra esquecer do problema que esse maluco me causava e peguei minha toalha pra tomar um banho. Eu queria mesmo dormir um pouco pra descansar de viagem.

Era uma vez, AliWhere stories live. Discover now